Princesa Cor-de-rosa
A VIP conversou, em exclusivo, com os pais de Nonô no dia do funeral da filha

Famosos

Os pais admitem a dor pela
perda da filha, mas agradecem a Deus o “tempo de amor” que passaram ao seu lado

Qua, 10/09/2014 - 23:00

VIP – A Leonor passou os últimos dias de vida na Alemanha em tratamentos, mas no dia em que chegou a Portugal morreu. Como decorreu a viagem de avião?
Vanessa Afonso –
Não havia um médico que quisesse ir buscar a Leonor, ninguém. Precisávamos de um médico porque a TAP assim o exige e foi o Dr. Gentil Martins quem a foi buscar. Não é agradável ir buscar um moribundo. E ela veio com o médico dos médicos, porque ele já não está no ativo, mas ainda trabalha. A determinada altura foi ele que agarrou no processo da Leonor.

Quando chegaram a Lisboa foram para o hospital?
VA – Em menos de 24 horas nós estávamos a entrar no hospital. A Leonor pediu-me para não ir para o IPO, não devia ter boas memórias, não devia querer ir. Ela pediu-me para ir para o Hospital da Luz. Ela nasceu lá e adorava, sempre que passávamos por lá, ela dizia: “olha o hospital onde eu nasci!”. Entretanto, o Jorge ligou à médica do IPO e contou o que se passava, disse que íamos para o Hospital da Luz. A médica queria que ela fosse para o IPO, disse que ela precisava de cuidados oncológicos e não de um hotel. O Jorge ficou um bocado alarmado e eu respondi: “Não. Estivemos um ano a fazer aquilo que a médica nos disse, agora é a Nonô quem manda, porque se é para ela acabar os dias dela, é como ela quer”.

Como é que ela se sentiu na viagem?
VA –
Eu vi a minha filha quase sem fôlego, sem conseguir respirar, a comer iogurte pela colher, pela mão dela. Quando saímos daqui o pulmão esquerdo dela já não funcionava, só o direito. E agora, quando regressámos, no último raio X que fizemos, parecia uma nuvem branca. Estava todo branco o pulmão esquerdo e no direito já só tinha um bocadinho. Ela não tinha mesmo quase ar nenhum para respirar. Ela veio a aguentar, a aguentar, a viagem toda. Quando aterrámos em Portugal, eu disse-lhe: “Pronto, filha, já cá estamos. Já chegámos, já estamos no nosso País. Estás feliz, filha?”, e ela disse que sim.

Ela disse que estava feliz?
VA –
Sim. Ela estava toda feliz e contente e eu perguntei-lhe sempre se ela estava feliz e se era ali que queria estar e ela dizia que sim. Esperou para estar com a avó, com a tia, com o tio, com todos… Pouco tempo depois, foi embora. Quero dizer que em todo o momento a minha filha soube sempre amar e agradecer.

A Nonô esteve sempre com a mãe e o pai?
VA –
Eu e o Jorge estivemos com ela até ao último suspiro dela. Os dois, cada um do seu lado, a pegar na sua mão. E a determinada altura ela estava com a respiração muito ofegante e nós percebemos que ela estava muito assustada e eu disse-lhe: “descansa, filha, a mãe está aqui e o pai está aqui, descansa, meu amor”. E ela estava a fazer muita força na minha mão, eu disse-lhe para ela não ter medo e ela suspirou e deixou-se ir. Estivemos de mão dada com ela até ao fim.

Depois…
VA –
Depois… Eu nunca tinha visto um morto na minha vida sequer. Nunca gostei. E com a Leonor isso mudou em mim. De repente não senti medo, senti uma paz muito grande. E depois pensei que não ia conseguir vestir a minha filha. Mas então pensei que ela nunca iria entender isso, por que é que eu haveria de pedir a outra pessoa para a vestir?! E durante todo o tempo em que a vesti estive a conversar com ela. E de repente parecia que ela estava só a dormir.

Tem noção de que o País está triste por causa da vossa filha?
VA –
Eu não tinha noção de que tantas pessoas gostavam da Nonô. E isso conforta-me muito. Não apaga a dor, mas conforta. A morte da minha filha dói muito.

Jorge, como pai, apercebeu-se do fim?
Jorge Coutinho –
Naquele momento eu fechei os olhos, olhei para baixo em sinal de respeito. Senti um clarão e quando abro os olhos vejo uma luz a subir. Eu senti minutos antes que estava na hora, que ela ia partir.

Sentiu revolta?
JC –
Eu tinha muito medo de como iria ser. Acho que foi um momento de paz, de amor. Foi um momento de gratidão. E foi a Leonor que escolheu que iria ser assim, não fomos nós que decidimos que íamos estar ali. Foi ela quem decidiu que aquelas pessoas estivessem ali com ela. Aquilo que eu gostaria de transmitir é que a Leonor não perdeu uma batalha, a Leonor sabia o que vinha cá fazer.

Sente que a sua filha sofreu?
JC –
Ela não sofreu durante este ano e três meses. Ela não sofreu. Doeu, mas não sofreu. A Leonor é tão perfeita que aceitou a imperfeição do mundo.

Depois deste desfecho, o que fica agora?
JC –
Sou um abençoado por ela me ter escolhido como pai. Conseguiu fazer aparecer o melhor de mim e o melhor da mãe. Dói de uma forma inimaginável, mas é uma dor boa, por tudo o que a Leonor representa. Ela não perdeu a batalha contra o cancro, ela veio para tocar o coração das pessoas.

Texto: Luís Gamboa; Foto gentilmente cedida pelos pais de Nonô

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