Úrsula Corona
Receosa com saúde do pai internado com Covid-19: «Fico sem ar por saber que estou longe»

Nacional

Úrsula Corona vive dias angustiantes com o pai, de 69 anos, que está infetado com o novo coronavírus

Ter, 14/04/2020 - 18:30

Úrsula Corona está a passar por uma fase delicada, uma vez que o pai, Alberto Eduardo Corona, de 69 anos, está infetado com o novo coronavírus. A viver atualmente no Alentejo, atriz confessa à VIP que vive este perídodo de quarentena com «medo» e com uma enorme sensação de «impotência», uma vez que está longe do progenitor, que vive no Brasil, a sua terra natal. 

VIP: Como tem sido viver em quarentena?

Úrsula Corona: Um furacão de emoções. O estar só começou a ser bom um período. No silêncio do campo, ter tempo para revisitar minha essência na natureza, cuidar de mim, priorizar coisas que antes não conseguia ter disponibilidade, mas até perceber que o meu maior mestre e amigo estava infetado. A minha vida virou-se do avesso. Saí da paz e fui morar no medo. 

Como é que está a sua família?

Assustada mas estamos com união, como sempre. Nesse período ainda perdi a minha avó Maria na semana passada aos 93 anos. Ela que ensinou-me tudo e mais um pouco. Uma mulher maravilhosa que é minha fonte de inspiração. Agora é tempo de reestruturação completa. Compreender que o que se passa no mundo, esse caminhar para uma mudança além do emocional. Sinto uma mudança comportamental. Saber disso dói, mas estou tentando dentro desse caos, aprender . 

«Entre o processo de entubar ou não entubar, a necessidade de oxigénio só aumentava»

Como é que o seu pai foi infetado? Quantos anos é que o seu pai tem?

O meu pai chama-se Alberto Eduardo Corona. Tem 69 anos. Um menino cheio de pureza e alegria. Uma pessoa 1000% boa. Um ser de luz. Já passou por algumas: já teve cancro, foi adotado, um guerreiro. Isso de sabermos como e quando foi infectado sempre será uma especulação. Somos vetores da pandemia e os objetos também são.Todo o cuidado é pouco. Preocupa-me achar que Portugal está controlado, e em poucos meses chegar o verão e todos se descuidarem. Isso é uma atitude que pode contribuir para mais um surto. Precisamos entender que isso não é uma gripezinha. Quase perdi o meu pai. 

Estava já há 18 dias em casa, de quarentena. Teve os primeiros sintomas de gripe, foi medicado. Depois a gripe não passava e a médica o tratou como se fosse uma bactéria. Dores no corpo, febre, fraqueza, falta de apetite e muito cansaço, ao ponto dele não ter energia para pegar a garrafa de água e de não falar mais comigo. Foi aí que pedi para a minha mãe o levar imediatamente ao hospital Samaritano, pois sabia que lá ele teria uma equipa preparada caso fosse o Covid-19. 

Estávamos a conversar pelo FaceTime ao telemóvel, quando tomámos essa atitude. O meu pai nunca deixou de falar comigo, e no FaceTime perceber que ele estava deitado, sem ar deixou-me extremamente aflita.

Chegou à emergência com a minha mãe e de lá foi direto para a uti. A ala de isolamento total. Nem médicos entravam. Entre o processo de entubar ou não entubar, a necessidade de oxigénio só aumentava chegando a mais de 14 litros por minuto. Enfim, quero falar das coisas importantes e não dos problemas. O cuidado e consciência que devemos ter, pois até nas moedas, na maçaneta, nas cascas dos alimentos… tudo pode ser um vetor de transmissão. E a imunidade é fundamental. 

Passou pelos cuidados intensivos? O que é que os médicos vos diziam?

Ele chegou com o pulmão muito comprometido. Sem ar, assustado. Dr Leonardo, o médico, disse que não havia gostado das imagens. A Neia, enfermeira e amiga da família sempre mandando fé, mas sabíamos que ele corria muito risco. O tempo está a ser fundamental. É uma doença ainda desconhecida e em cada corpo tem uma reação. Temos de respeitar esse momento onde o mundo nos impõe um freio. Precisamos parar. Precisamos mudar. 

A camada de ozono com o desaceleração das indústrias está a agradecer. O aquecimento Global desacelera também. Alguma coisa boa precisamos ter 

«Fico sem ar por saber que estou longe»

Como lidou com isso tudo, uma vez que está em Portugal e eles no Brasil?

Não lidei. Estou a lidar. O verdadeiro gerúndio. Eu que não gosto desse tempo verbal estou percebendo dia após dia. Cada dia é um dia. Sentimentos distintos: angústia, impotência, medo, resiliência… aprendendo a respirar. Literalmente. Pois fico sem ar por saber que estou longe. 

O pior já passou?

Acredito nisso. A única coisa que me apego é que tudo só pode e vai melhorar. 

Quando é que o seu pai tem alta?

Ainda não sabemos. Já são semanas, mas que parece uma eternidade.

Já consegue falar com o seu pai ao telefone?

Hoje consegui. Foi emocionante vê-lo. Ele é meu herói. Aliás meus pais são fora do comum. A minha mãe é também uma mulher que me emociona e inspira. Tive sorte de ser criada por pessoas tão especiais. Exemplos e valores que me formaram desde pequena. 

Como tem colmatado as saudades da família?

Estamos sempre juntos mas com a novela, Na Corda Bamba, não consegui ir no mês passado. Estava com filmagem no Brasil da série também mas cancelou-se tudo. E com o aeroporto fechado não tive mais opção a não ser ficar. Estou a morar no Alentejo. 

«O cenário só vai piorar»

O que é que a sua mãe lhe diz sobre o que se está a passar no Brasil?

Ela que não acreditava… está assustada. Imagina… acompanhar os sintomas do meu pai de perto, e ainda ter que o levar para o hospital… ficando só em casa. Eles que vivem um amor lindo com muito companheirismo, ficar sozinha, ainda mais sem a filha… não deve estar a ser fácil. Mas eu já falava com eles no período do carnaval, e claro… Brasil nem aí . Estamos num período complicado, e preocupo -me com o meu país, com os 211 milhões de pessoas. Não temos estrutura, apesar de sermos imenso; mas além de estar reagindo lentamente, há muita falta de acesso à saúde. Infelizmente tem muita gente sofrendo. E o cenário só vai piorar. 

Tem alguma previsão de quando poderá ir ao Brasil?

Eu iria em março, mas agora sem aeroporto não sei. 

Ainda pretende casar-se este ano ou terá de adiar o enlace por causa do coronavírus?

O amor não tem tempo, nem espaço. Independente do caos externo quando você tem uma pessoa que soma, quando se vive um amor de verdade, tudo fica mais fácil.

Texto: Joana Dantas Rebelo e Carla Vidal Dias, Fotos: Impala e Redes Sociais 

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