A TVI emitiu uma peça esta segunda-feira, dia 13 de abril, no Jornal das 8 que pretendia mostrar a disparidade da pandemia da Covid-19 a Norte e a Sul e gerou uma enorme controvérsia e partilhas nas redes sociais. Tudo porque as razões invocadas para o Norte ter sido «mais castigado» pelo coronavírus deviam-se ao facto de ser uma «população menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares».
Depois de receber muitas críticas, nomeadamente de Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, a estação de Queluz de Baixo já reagiu e apresenta publicamente um pedido de desculpas. Num texto redigido pelo Diretor de Informação da TVI, Sérgio Figueiredo explica os motivos que levaram a TVI a levar para o ar a peça, esclarecendo que apenas tentaram responder às questões levantadas pela pandemia da Covid-19, com o intuito de produzir uma «reportagem com uma intenção genuinamente construtiva e socialmente relevante».
Da mesma forma, assume o erro na construção frásica que levou a outras interpretações, destacando as «condições terríveis» em que as redações se encontram devido ao Estado de Emergência e, também, realçando a relação histórica que o canal tem com o Norte.
Leia aqui o comunicado completo:
«O Jornal das 8 de ontem emitiu uma peça que pretendia explicar os motivos que levam a Região Norte a constituir-se como a parte do território nacional onde a Covid-19 regista um número bastante superior de casos positivos e de óbitos devido à pandemia, face às outras regiões. Desde o primeiro momento em que o assunto foi internamente discutido, logo na reunião da manhã de preparação do jornal – onde participou o editor habitual do Jornal das segundas-feiras, Miguel Sousa Tavares, o pivot José Alberto Carvalho, eu próprio e outros editores da TVI – a preocupação era legítima e construtiva: porquê e como responder àquelas populações particularmente afetadas?
Do ponto de vista jornalístico é normal que se questionem as razões que, numa só região, e segundo os dados oficiais, se registem 60% de todas as pessoas infetadas e 57% dos óbitos do país devido à doença. E do ponto de vista social consideramos que questionar é o primeiro passo para encontrar as respostas necessárias na resolução do flagelo.
Os nossos procedimentos foram os de sempre: à nossa jornalista destacada para a conferência de imprensa diária da DGS foi pedido que procurasse junto das Autoridades de Saúde uma explicação; o José Alberto Carvalho perguntaria sobre isso ao epidmiologista entrevistado em direto no Jornal (o que aconteceu) e a autora da reportagem recolheu a análise de vários especialistas, dois aceitaram ser entrevistados e entraram na peça.
Apesar de todas as redações que produzem jornalismo estarem a trabalhar em condições terríveis, em que nenhum de nós até hoje tinha vivido, a TVI fez o que estava certo: questionou algo relevante, falou com quem sabe e produziu uma reportagem com uma intenção genuinamente construtiva e socialmente relevante.
Isto não justifica, porém, a construção de uma frase infeliz no ecrã, nem a parte do texto que a suportava. Nomeadamente aquela que, entre as razões demográficas e sociológicas indagadas, sugeria níveis de educação abaixo da media nacional. Essa frase foi por muitos interpretada como uma ofensa às gentes do Norte – o que não era evidentemente o nosso propósito.
Nem é essa a tradição da TVI, que historicamente mantém uma relação de grande proximidade com as populações e de ligação à Região. No caso concreto da Informação, concentramos boa parte dos nossos recursos na redação do Porto e em duas delegações regionais que cobrem acontecimentos diários do litoral ao Interior.
Com a mesma humildade que a todos pedimos desculpas por um erro que somos os primeiros a lamentar, temos a convição que a TVI não deve a ninguém, em esforço, em tempo de antena, em grandes eventos desportivos e culturais que promovemos ou patrocinamos, a relevância que o Norte merece e justifica na mancha de cobertura informativa que diariamente, semana após semana, anos a fio, aqui lhe temos dedicado e que continuaremos a fazê-lo.
Da mesma forma que um erro grosseiro – que não foi previamente detetado nestas difíceis condições em que a pandemia também coloca ao trabalho dos jornalistas e de uma televisão – não caracteriza todo um Jornal e, menos ainda, uma estação televisiva que todos os dias acorda guiada pela sua mais nobre missão que é servir os portugueses. Sem exceções e sem discriminações de natureza alguma».
Texto: Inês Borges/ Fotos: DR e Arquivo Impala
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