Conforme anunciado anteriormente, Judite Sousa esteve à conversa com os pais dos seis alunos da Universidade Lusófona de Lisboa que, em dezembro de 2013, viram a vida dos filhos ser retirada por uma onda na praia do Meco.
Depois de falar com os pais de Catarina Soares e Carina Sanchez, Judite Sousa conversou com José Soares, o pai de Tiago Campos, um dos alunos da Lusófona que perdeu a vida no Meco.
José revela que soube da morte do filho através dos pais e que nesse mesmo momento seguiu para a praia do Meco.
«Soube [da morte do Tiago] através dos meus pais no dia 15 e disseram que o meu filho estava desaparecido e depois pelo caminho iam-me dizendo as coisas. Fui buscar a minha irmã a casa e seguimos para o Meco», afirma.
O pai de Tiago conta também que durante o percurso tentou, por várias vezes, ligar ao filho mas que as chamadas nunca foram atendidas. José recorda ainda o que sentiu ao chegar à praia do Meco.
«Lembro-me de quando cheguei à parte de cima da praia do Meco e comecei a ver aquelas ondas gigantes e ali acho que fiquei aterrorizado com o tamanho das ondas. Ao chegar lá abaixo deparei-me com a mãe do Tiago e foi aí que soube que ele tinha sido levado por uma onda», revela.
Ao saber da existência de um sobrevivemente quis, com todas as forças, que fosse o seu filho, no entanto, tal notícia não se viria a confirmar.
Para José, aqueles primeiros momentos na praia do Meco são de «dor, tristeza e raiva».
«O primeiro impacto foi uma dor, tristeza e raiva. Raiva porque naquele momento nós como pais fazemos tudo pelos nossos filhos, pelo menos eu penso assim, e senti que ele tinha pedido ajuda e eu não o tinha conseguido ajudar. Tristeza por perder o meu filho e isso não tem explicação e a dor é uma ferida que se abre dentro de nós e fica para o resto das nossas vidas».
«Não havia nada que me levasse a pensar isso»
Tiago sempre teve a confiança de toda a família e nunca nada os levou a pensar que tal tragédia pudesse acontecer.
«Tinha plena confiança no meu filho, nada para mim era estranho nele. Era uma pessoa alegre, feliz e dava toda a confiança a qualquer pessoa da família. Não havia nada que me levasse a pensar isso», começa por revelar José, acrescentando ainda que, mais tarde veio a saber que aquela tinha sido uma noite de praxe.
«Vim a saber que aquilo tinha sido uma noite de praxe. Que aquele era um fim de semana de praxe e que existia sempre. Fui relacionando as coisas e fui ligando uma coisa com a outra. Vim a saber o que era a praxe e o código deles. Fiquei aterrorizado com o que me contaram e o que eu vi».
A última vez que José falou com Tiago foi a 13 de dezembro de 2013, dois dias antes de tragédia e foi aí que ficou a saber que o filho ia estar fora nesse fim de semana.
«Era tudo estranho para mim e a cabeça não ajudava»
As dificuldades para superar a morte de um filho são mais do que muitas e José teve mesmo de ser acompanhado por uma equipa de psicólogos e psiquiatras, tendo chegado a ser medicado para conseguir aguentar a dor.
«Tive ajuda médica, tive de ser medicado. Andava medicado e era difícil sair de casa, trabalhar. Deixei trabalhar por alguns tempos. Quando ia trabalhar era só meio dia porque depois tinha voltar a casa porque não conseguia estar na rua. Era tudo estranho para mim e a cabeça não ajudava».
Além de Tiago, José é ainda pai de Daniela, que na altura tinha 16 anos e que viveu de perto a morte do irmão.
José teve a ajuda da família e dos amigos para se reerguer e tomar a decisão de mudar de vida e ganhar forças para superar a dor.
«Por fora pareço muito forte, mas por dentro sou muito frágil. Tive de apoiar mais a minha família e a Anabela, que precisavam muito de mim».
Para José, os momentos mais difíceis de todo o luto são quando se aproxima o aniversário do Tiago, que acontece a 24 de novembro, e também a data da tragédia. Além disso, datas como Natal e Passagem de Ano, que era quando a família se juntava, são também muito complicadas de ultrapassar.
«O Tiago faz anos dia 24 de novembro. A tragédia foi de 14 para 15. Muita gente não sabe mas todos nós sentimos um bocado. A minha filha foi-se muito abaixo nesta altura. Foi constantemente a um psicólogo», conta.
A falta de respostas e o silêncio de João Gouveia
Os pais das vítimas ficaram sempre sem saber o que realmente aconteceu naquela noite. Para eles, João Gouveia é a chave para desvendar todo este mistério, mas o silêncio mantém-se.
«Gostava de ouvir da boca do João Gouveia tudo o que se passou naquela noite. Acho que melhor que ele, se fosse uma pessoa às direitas, acho que deveria conversar connosco e dizer o que se passou», confessa.
Embora acredite que não tenha havido intenção, José acha que «as pessoas têm de ser chamadas à responsabilidade».
«Aí é que vão dar valor à morte de um filho»
José, tal como todos os outros pais, condenam a justiça portuguesa por não ter dado o melhor de si a toda a investigação deste caso e por ter deixado por responder várias questões que foram colocadas.
«A justiça falhou redondamente e essas pessoas que estiveram ligadas ao Caso do Meco, Deus Queira que nunca lhes aconteça a morte de um filho porque só aí vão perceber o que é a dor, a tristeza e o sofrimento. Aí é que vão dar valor à morte de um filho».
Para José, nenhum pai consegue esquecer um filho e quando acontece uma situação como esta é ainda mais complicado porque ficam sonhos por realizar e momentos por viver.
– Tragédia no Meco: os anos passam… a dor continua
Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: Impala
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