Sandra Celas
Torna-se cantora a convite de Zé Manel

Famosos

A música ‘Para Nunca Mais (Acordar)’ é o grande sucesso da atriz e do cantor

Qui, 06/06/2013 - 23:00

A celebrar dez anos de carreira, Zé Manel (Darko) partilha com Sandra Celas o sucesso da música Para Nunca Mais (Acordar), que representa a estreia de uma parceria bem sucedida. Apesar do êxito do tema, atualmente um dos mais passados nas rádios portuguesas, o cantor e a atriz sentem no dia-a-dia as dificuldades de serem artistas. Mesmo assim, não fecham portas a um novo projeto em comum. “Em equipa que ganha não se mexe.” O projeto Darko nasceu em 2011 e representa a estreia do Zé Manel a solo.

Que balanço faz destes dois anos?
Zé Manel – Faço um balanço ótimo. Acima de tudo, para mim, o essencial é que voltei a apaixonar-me por aquilo que faço. Com os Fingertips houve ali uma altura, ao fim de alguns anos, em que já não me identificava. Para mim estava a tornar-se um pouco complicado perceber que a minha atividade predileta, que é a coisa que mais amo na vida, se estava a tornar uma prisão. Portanto, este projeto, acima de tudo, já representa uma vitória para mim. Tornei a perceber que compor e cantar é que me preenchem realmente.

Como é que nasceu a parceria com a atriz Sandra Celas?
ZM – A Sandra entra na primeira música que edito em português em dez anos de carreira e a uma semana de sinalizarmos o meu primeiro disco. Sempre quis uma voz feminina para a música 'Para Nunca Mais (Acordar)'. Mas embora seja fã de várias artistas portuguesas, como a Ana Bacalhau dos Deolinda, entre outras, neste primeiro disco, sendo um trabalho tão pessoal, não queria recorrer a nenhuma colaboração deste género. Achei que as pessoas poderiam interpretar isso como um recurso.

Já sabia que a Sandra gostava de cantar?
ZM – Já conhecia a voz dela desde há uns anos, desde que participámos no programa 'Canta por Mim,' da TVI. Na altura não cantei com ela, mas cruzámo-nos no programa e achei que ela tinha uma voz fantástica. Então, uma semana antes de finalizar o disco, encontrámo-nos numa festa e eu de repente vi-a e tive um acesso de loucura. Pensei que ela me fosse dar uma tampa, até porque tínhamos uma semana para gravar. Cheguei ao pé dela e disse: “Olá Sandra, estás boa? Lembras-te de mim? Era só para dizer que estou a gravar um disco e gostava muito que tu experimentasses meter uma voz numa música.” E reação da Sandra foi linda. Ela estava sentada num degrau e só encolheu os ombros, abre o sorriso e diz-me: “Gostava, se achares que eu não te estrago o disco!” (risos).

Sandra Celas – O Zé apanhou-me de surpresa. Foi a primeira vez que eu estive em estúdio a gravar.

Foi a sua estreia como cantora profissional?
SC – Sim. Mas eu sempre cantei muito. Até como atriz. O que aconteceu é que eu acho que o Zé, sem saber, veio acicatar a minha cantora adormecida. E a canção ficou bonita e tivemos um bom feedback.

ZM – A música está há cerca de um ano como uma das mais tocadas nas rádios portuguesas. Esta segunda-feira lanço o terceiro single do disco, Until the Morning Comes, e o Para Nunca Mais não desce os resultados

Sandra, esperava este sucesso na sua estreia musical?
SC – Sempre conheci o Zé como uma pessoa talentosa. Ele é uma pessoa que já anda nesta vida há muito, faz dez anos de carreira e tem 25 anos. Eu estou a fazer dez anos como atriz com mais uns dez anos em cima. É curioso. Não tinha expectativa nenhum. Fiz isto um bocadinho por gostar do trabalho do Zé e para encarar o desafio. Fiquei muito contente que esta música tenha feito o disco viver mais. E como estava a dizer, ele (sem saber) veio despertar a minha cantora adormecida. Agora, tenho estado a trabalhar no meu próprio projeto musical.

Como está a correr?
SC – Ainda não tem nome sequer, portanto, não posso revelar muito, mas também é muito pessoal. Espero que saia este ano. É um disco de originais.

Preparam-se para gravar mais alguma musica os dois? Ou agora cada um apostará nos seus projetos próprios?
ZM – Já disse à Sandra que gostava muito que ela tornasse a participar no meu segundo disco. Da minha parte há essa vontade. Em equipa que ganha não se mexe.

Mas quando é que está a pensar lançar o segundo álbum?
ZM – Este disco ainda tem muita vida pela frente, porque o 'Para Nunca Mais' continua com ótimos resultados e vamos aproveitar o facto de eu estar a celebrar dez anos de carreira para ainda este ano lançar uma edição especial deste disco com três temas novos. Embora eu esteja já a projetar o novo disco, porque tenho muitas músicas em carteira. Mas acho que há que levar um passo de cada vez. As pessoas ainda agora estão a descobrir que o Zé Manuel é o Darko. Tenho 25 anos e só me posso considerar um privilegiado por fazer aquilo que gosto.

Uma vez que não está habituada, como é que a Sandra se sente em palco a cantar?
SC – Apesar de estar habituada aos palcos, quando estou escondida atrás de uma personagem é diferente do que estar eu, Sandra, a cantar seja a música do Zé, ou uma música própria. Estou a habituar-me a isso. Mas sinto uma exposição maior.

ZM – Eu também sinto uma exposição maior, mas com o tema Para Nunca Mais, por ser uma música em português. Tento sempre metaforizar o que quero dizer. Quando ouvimos uma música em inglês, não estamos sempre a traduzir. Eu canto maioritariamente sobre coisas tristes e é complicado, sentimo-nos despidos. Mas por que razão é que escreve maioritariamente coisas tristes.

Tem a ver com a sua vida?
ZM – No dia-a-dia sou uma pessoa extremamente pragmática, ando quase sempre bem-disposto. Quando estou em baixo tranco-me no quarto uma ou duas horas a ouvir as músicas que eu quero e depois convido as pessoas para jantar e já estou bem-disposto. Não exponho no dia-a-dia as minha tristezas. Depois, claro que tenho de as exorcizar de alguma forma e acaba por ser com o papel e com o piano. Não escrevo músicas felizes porque estou ocupado a ser feliz.

A Sandra também sente a música como um exorcismo?
SC – Eu acho que toda a forma de arte, de alguma maneira, é um pôr cá para fora algo que está oculto e que muitas vezes nem o próprio artista sabe. Está a ser um desafio e uma aventura incrível.

O que é que prefere. Ser cantora ou atriz?
SC – Não é um dilema sequer, porque as duas coisas se podem complementar. São coisas muito diferentes, apesar de virem de uma mesma matriz. Quando estou atrás das personagens, eu escondo-me; como cantora, eu estou muito presente.

ZM – Eu sinto o inverso. Utilizo o ser cantor e o Darko como pretexto para ser eu próprio. Eu acho que no dia-a-dia criamos tantas capas e somos obrigados a representar em tantas circunstâncias, que o único sítio onde acho que as pessoas me podem conhecer sem qualquer dissimulação é, de facto, no palco

Ser artista é um mundo de dificuldades?
ZM – A todos os níveis, porque a verdade é esta: eu posso ganhar três ou quatro mil euros num mês, mas depois posso estar seis meses sem trabalhar e não sei quando vou receber a seguir.

Como é que gere essa situação? Poupando?
ZM – De forma muito simples. Graças a Deus, a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) acaba por ser uma segurança para os autores, porque sei que pelo menos em junho e em dezembro tenho lá uma quantia que me deixa viver durante três ou quatro meses. Por outro lado, felizmente, nunca fui uma pessoa que se encantasse com coisas caras. Mas chateia-me quando tenho dez anos de carreira e por vezes me acontece ter dez ou 15 euros na conta. Já me aconteceu várias vezes.

Não entra em pânico?
ZM – Não, porque nunca me habituei a viver de muito. Sempre tive mais ao menos o mesmo modo de vida. Já me aconteceu estar a zero e então fico em casa a compor as minhas músicas, a escrever, a ver séries. Vou ao ginásio, que felizmente não pago. Tento aproveitar estas benesses que os artistas têm em Portugal, já que, infelizmente, são muito mal pagos. Eu trocava estas coisas todas por ser bem pago pelo meu trabalho. Acho que o nosso país só não dá o valor à cultura porque, felizmente, tem existido a oportunidade de aceder a ela de borla. Se for um artista internacional, todos pagamos, mas se é um artista português… acho que é um desrespeito, porque nós vivemos disso, mesmo quando nos dão patrocínios de uma marca de roupa. É obvio que nós agradecemos, mas eu tento explicar às pessoas que esta é a nossa profissão e nós não vamos ao supermercado com a capa da revista nem com o curriculum, nem com a roupinha que nos ofereceram.

E a Sandra também tem sentido estas dificuldades financeiras?
SC – Quem é que não passou por dificuldades financeiras e quem é que não está a passar por dificuldades financeiras hoje em dia? Alguns pouco deuses. O dinheiro devia ser mais bem distribuído. De facto, os artistas, como não têm um rendimento fixo, têm de ter uma outra gestão das coisas.

Sentem que os os artistas são desvalorizados em Portugal ? S
C – Não existe um enquadramento legal fiscal que ponha os artistas no mesmo pé de igualdade de outros trabalhadores, com a agravante de que o artista não tem um trabalho fixo. Um ator não pode estar sempre no ar. Mas eu acho que nos últimos anos tem existido uma predisposição dos portugueses para com os artistas, é como se os portugueses tivessem começado a ganhar amor novamente pelos seus artistas.

ZM – Eu lembro- me da altura em que as pessoas tinham vergonha de dizer que gostavam de uma banda portuguesa. Hoje em dia, esse complexo não existe. E isso é bom.

SC – Acho que tem de haver uma lei que obrigue as rádios a passar música portuguesa.

ZM – Não basta apaixonarem- se por nós. Têm de lutar por nós para desenvolver a nossa arte. Basta pensar na lei da cópia privada. Só em Portugal, na Europa inteira, é que não está aprovada. Em que é que consiste esta lei: hoje em dia, a música insere-se nos mais diversos tipos de formatos. Quando alguém compra um disco virgem, não sabemos o que é que vai colocar lá dentro. Mas se, por cada plataforma dessas, uma pequena percentagem fosse dada à SPA e depois todo esse montante fosse distribuído por todos os autores, fazia uma diferença abismal nos rendimentos dos autores em geral. Antes de sermos artistas, somos seres humanos e é essa parte que as pessoas se esquecem. Já cheguei a pensar em mandar isto às urtigas e arranjar um part-time. Mas temos complicações em arranjar atividades que não colidam com a nossa atividade principal.

É necessário muita dedicação…
SC – A profissão de artista precisa de exclusividade. É uma profissão que é muito difícil. Todas as pessoas que arranjaram uma nova profissão, ou abriram uma empresa, tiveram de optar ou tiveram períodos sem fazer uma das coisas

Gostariam de deixar um conselho àqueles que querem singrar neste mundo?
ZM – Ser artista é um trabalho que é diário. Esta profissão exige uma entrega muito grande. Eu todos os dias me sento a escrever e a compor. Todos os dias estou a pensar em algo. Atualmente, todos os jovens querem ser atores, cantores ou modelos. Gostaria de dizer àqueles que desejam este meio que o façam por amor, não por vaidade, nem por exposição, não porque achem que é uma vida cor-de-rosa, porque na verdade não é.

SC – Há um falso glamour nas nossas profissões. Ser artista é duro, exige muito de nós. Já conheci muita gente que abandonou estas profissões.

Texto: Ricardina Batista; Fotos: Liliana Santos; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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