Tony Carreira concedeu mais uma entrevista a Manuel Luís Goucha, esta terça-feira, 1 de novembro. O cantor abriu o coração e voltou a recordar a filha, Sara Carreira, que faleceu a 5 de dezembro de 2020 num acidente de viação, aos 21 anos.
A entrevista ocorreu no topo do pavilhão ‘Altice Arena’, sala de extrema importância para o cantor. “Vivi aqui grandes momentos. Espero que o meu próximo espetáculo, que será nesta sala, esteja cheio. Tenho medo de que não aconteça, mas é assim em tudo o que faço, tenho receio de que possa correr menos bem”.
Questionado por Manuel Luís Goucha se é uma pessoa insegura, o artista respondeu: “Sou uma pessoa minimamente insegura e essa insegurança já me ajudou em todo o meu percurso. Sei que há cantores tecnicamente melhores do que eu, e essa pressão ajuda-me a ser cada vez melhor”.
Tony Carreira garante que trabalha máximo possível para não desiludir o público, que tanto o tem ajudado nesta fase difícil. “Sou grato às pessoas por aquilo que me deram, e nesta tragédia que estou a viver deram-me mais do que nunca. Aquilo que estou a viver é muito duro, é muito difícil, é desumano. Há milhares de pessoas que vivem aquilo que estou a viver e não recebem o apoio que eu tenho”, afirmou.
O pai de Sara Carreira revelou ao apresentador que acredita que, na sua vida, tudo estava destinado: “Acredito no destino. Se o destino tinha isto tudo para mim, desde o sucesso até à tragédia, então vou ter de carregá-lo”.
Passados dois anos da grande tragédia, o cantor falou sobre o que é que o motiva no dia-a-dia. “Como é que conseguiste reconstruir-te?”, perguntou Goucha. “Trabalho todos os dias para a associação da minha filha, e ajuda-me muito ajudar essas crianças em nome da minha filha. Todos os dias trabalhamos para a Sara, e eu preciso de falar dela todos os dias”.
É no Cemitério que Tony se sente mais próximo da filha: “vou ao cemitério muitas vezes, fisicamente é ali que ela está. Falo com ela, embora não saiba se me está a ouvir”.
“Cantar salvou-me”
Apesar de grande parte dos dias serem cinzentos, e de não conseguir retirar prazer na maior parte das atividades, há ainda “poucas coisas” que trazem felicidade ao cantor: os filhos, as “cadelinhas” e cantar.
“Passou a haver outro Tony como artista feito de muito amor e gratidão, mas com muito pouca vontade de durar muito tempo”, desabafou o artista. “Não tenho outra alternativa senão continuar. Tenho a liberdade de se amanhã tiver uma doença grave não a tratar. Não quero, nem farei um disparate”.
Tony confessa que o momento em que mais se sente feliz é enquanto está em palco. “Cantar salvou-me. E não há dia nenhum ou noite nenhuma em que suba a um palco e que o pensamento não seja a minha filha”, garantiu. “Sou um homem feliz em palco quando lhe presto uma homenagem”, concluiu.
Contudo, o cantor acredita que não conseguirá seguir em frente enquanto o caso da morte não estiver resolvido, e culpa a justiça portuguesa. “A nossa justiça não funciona, a nossa justiça é cruel. O ministério público fez um relatório que não foi bem feito. No dia de hoje continuamos no mesmo patamar de partida. O que nós queremos é fechar este capítulo e seguir”, finalizou.
Tony Carreira confessa: “Fui agressivo com o mundo inteiro”
Na primeira entrevista a Tony Carreira após a morte da jovem, o cantor confessou que a vida já não tinha sentido, mas que não se podia esquecer de que tinha dois filhos, Mickael e David, acabando por afirmar: “Tenho de me agarrar a eles também”.
Quando o anfitrião do vespertino da TVI afirmou “e tens-te a ti também”, o pai de Sara Carreira confessou: “Eu já não conto. Já deixei de pensar me mim. (…) Quando a minha filha partiu, foi de uma violência extrema. Morri por dentro. Estou a tentar encontrar a minha vida cá dentro. Não tenho problemas em dizer que bebi mais do que devia. Andei ali uns tempos… parecia um zombie. Depois, veio alguma violência. Fui injusto com pessoas que amo muito, fui agressivo com o mundo inteiro, revoltei-me com o mundo inteiro”, admitiu.
Apesar disso, garante que a morte da filha lhe fez pensar de forma diferente em muitos assuntos, inclusivamente na possibilidade da existência da vida depois da morte. “Será dessa maneira que eu terei possibilidade de reencontrar a minha filha. É esse o objetivo hoje”, afirmou. O cantor romântico contou ainda que se desloca todos os dias ao cemitério onde está sepultada Sara Carreira: “Só não vou se não estiver em Portugal. Até ter outras provas que procuro, até ter outras respostas, esse é o único sítio que sei onde ela está”, justificou o artista.
“Gostava que o meu caminho cá não fosse longo”
Quanto à criação da Associação em homenagem a Sara Carreira, o cantor, de 58 anos, diz que a única forma de se ajudar a si próprio é a fazer o bem. “É acreditar que ela me está a ver e que o caminho que me resta cá não será assim tão longo (…) Gostava que o meu caminho cá não fosse longo”, comenta. Contudo, garante que ainda tem objetivos por cumprir: “Espero que esta reta final seja a cantar e principalmente a colocar a associação da minha filha no patamar que deve estar para quando eu tiver de partir saber que fica cá um bocado dela”.
Tony Carreira sobre Ivo Lucas: “Ele sempre tratou muito bem a minha filha”
Apesar dos rumores, Tony Carreira já confessou: “Eu não sou amigo do Ivo, mas ele sempre tratou muito bem a minha filha. Teve a fatalidade de ir ao volante daquele carro. Podia ter sido eu.”
Texto: Maria Constança Castanheira e Luís Duarte Sousa; Fotos: Redes Sociais
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