Tony Carreira
O contrato de exclusividade com a TVI e o “recomeço”: “É vital. Preciso mesmo”

Nacional

Tony Carreira concedeu uma entrevista intimista a José Alberto Carvalho que foi emitida no “Jornal das 8”, da TVI, desta quinta-feira, 7 de outubro: “Muitas vezes não sei onde estou!”

Qui, 07/10/2021 - 21:14

Tony Carreira concedeu uma entrevista intimista a José Alberto Carvalho que foi emitida no “Jornal das 8″, da TVI, desta quinta-feira, 7 de outubro.

O artista começa por dizer que “é um Tony Carreira diferente”. A filha do cantor, Sara Carreira, morreu no dia 5 de dezembro de 2020, na sequência de um acidente na A1, o que mudou, para sempre a sua vida. Por essa razão, o nome do novo álbum, que será lançado em breve, chama-se “Recomeçar“. “Pelo menos tentar, sou obrigado a tentar, não há outra alternativa”, atira. O disco ia ser editado no Natal do ano passado, mas devido ao sucedido, foi impossivel concretizá-lo. No entanto, o artista revela agora que recuperou quatro temas dessa altura. 

“Muitas vezes não sei onde estou!”

O pivô da estação de Queluz de Baixo questiona o entrevistado sobre a agenda preenchida que aí vem e sobre este novo álbum. “É vital, preciso mesmo. Durante o dia, levanto-me muito cedo, sete e meia da manhã estou a pé e começo a trabalhar. Isso ajuda-me bastante”, começa por responder. “Quando a cabeça começa [a pensar em coisas más]… à noite é o pior, continuo, como disse… o acordar é mil vezes pior. É sentir-me perdido, muitas vezes não sei onde estou! Mas é assim. Esta quantidade de concertos foi pedida por mim. No próximo ano são muitos concertos. São 25 concertos num mês, na tournée francesa, depois Portugal, Suíça, Belgica, Estados Unidos da América, Canadá. E se houver possibilidade de cantar no Gana, também lá vou (risos). Quero cantar, cantar, cantar”, frisa. 

“Foi lá que me fechei, muitas vezes para chorar”

A música é a salvação de Tony Carreira? O convidado especial do “Jornal das 8” responde que sim, aproveitando para agradecer “à classe artística por todo o apoio que” lhe deu. “Portugal inteiro foi maravilhoso nesse sentido. Tive uma conversa, há um mês, com o meu sócio Pedro Abrunhosa e falámos sobre isso, que a música tem uma cena mágica. O meu refúgio nesta dor foi o estúdio. Foi lá que me fechei, muitas vezes para chorar, mas consegui encontrar alguma felicidade dentro daquelas quatro paredes. Eu tenho uma empresa que deixei de gerir: ‘Façam vocês a gestão que eu quero-me fechar aqui dentro. Só aqui é que eu sinto alguma paz’. E a música tem isto”, confessa. 

Tony Carreira tinha o hábito de colocar uma vela no sítio onde a filha morreu 

Durante a longa conversa, o cantor recorda um episódio que o marcou. “No sítio onde a minha filha teve o acidente fatal, durante umas semanas tinha o hábito de lá ir por uma vela. Um dia… punha o carro mesmo na berma da estrada, no limite, confesso, de algum perigo, coloco uma vela e passa um camião por mim, a apitar. Faço o que tinha para fazer, sigo viagem e o camião continua a apitar. Pensei: ‘Bem que cromo, deixem-me estar’. Irritei-me e saí na bomba de gasolina de Aveiras e o camião vem atrás de mim. O que acontece é que há um casal que baixa o vidro e diz: ‘É simplesmente para lhe dar um abraço’. Desses exemplos já tive milhares deles. Espero nunca desiludir os portugueses. Adoro ser português”, atira, visivelmente emocionado. 

O contrato de exclusividade com a TVI 

O cantor, de 57 anos, assinou um contrato de exclusividade com a TVI em outubro de 2020, mas só agora esta situação foi tornada pública. “É a primeira vez que a TVI estabelece um contrato desta natureza com alguém que não seja ator”, afirma o jornalista. “Sinto orgulho neste contrato e vou explicar o porquê. No meu regresso, há projetos que tenho na minha cabeça que eu gostava de concretizar e quem me deu as melhores condições artísticas para os concretizar foi a TVI”, começa por explicar. “Fiz um acordo em termos de conteúdos que eu vou fazer no futuro, que têm que ver com a música. Quando assinei este contrato, em outubro do ano passado, a negociação começou muito antes, em agosto, já era para começar a trabalhar nesses projetos um ou dois meses depois. Quando aconteceu esta tragédia na minha vida eu fui sincero e disse: ‘Não estou em condições para trabalhar. Estão completamente à vontade para romperem este contrato. Não me podem obrigar a trabalhar, não quero fazer absolutamente nada, quero paz’. Neste sentido estou-lhes muito grato e por isso é que disse que tenho muito orgulho, porque me disseram: ‘Quando te sentires em condições de trabalhar, começamos’. E foi exatamente isso que aconteceu”, comenta. 

Este contrato “envolve uma série biográfica, mas ficionada a propósito dos 35 anos de carreira” que Tony Carreura vai celebrar daqui a dois anos. “A ideia desta série já propus a muita gente e foi a TVI que me deu as condições para que isso acontecesse. Achei que um filme bem feito, uma coisa bonita, faria todo o sentido. Já falámos sobre quem seria hipotéticamente o realizador, os atores. Mas está condicionada, porque eu gosto de ver o Tony que eles vão por (risos). À partida é para fazer isso e outros projetos musicais”, informa o músico.

No entanto, esta “rubrica” nada tem que ver com o facto de ser acionista do grupo Media Capital. “Sou um acionista, eu tenho 1%, o que é ridículo naquele investimento. (…) Já fiz investimentos em que perdi, já fiz investimentos em que ganhei, foi um investimento”, atira. José Alberto Carvalho, em jeito de brincadeira, quis saber como estava a correr esta aposta. “Por enquanto, para o meu lado é negativo. Mas espero que venha a ser positivo, não me posso dar ao luxo de perder muito dinheiro. Acredito no projeto e torço para que corra tudo bem. É 1%, mas é dinheiro”, responde-lhe o pai de Mickael e David Carreira.

“Quando estou em palco, tento procurar um sinal da minha filha, qualquer coisa”

Entretanto, e já perto do fim da entrevista, o músico voltou a falar da filha. “Quando estou em palco, tento procurar um sinal da minha filha, qualquer coisa. Há momentos que são duros. Esta perda é uma coisa que jamais vou superar. Faz agora 10 meses, não sei nada do inquérito, não sei o que aconteceu, estou à espera. O que me dizem é que dura três, quatro anos, que eu acho desumano. Muitos pais vêm ter comigo para eu ser porta-voz de uma situação que é desumana”, lamenta. Tony Carreira revela que se agarra àquilo que pode. “Se vejo passar uma borboleta, o símbolo da minha filha, quero acreditar que é um sinal dela. Agarro-me a coisas que, pontualmente, me fazem bem. E tenho momentos em que caio. Caio sozinho e ergo-me sozinho. E explico porquê. Não posso… Eu e a Fernada [Antunes] temos um papel muito importante: continuamos a ter dois filhos maravilhosos, que precisam de nós e que sofrem tanto quanto nós. Portanto, não posso cair à frente deles. Não posso fazer isso”, adianta. 

“Depois da partida da minha filha, porque não gosto de dizer morte, tenho de me erguer. Por mais que me doa, tenho de me erguer. E assim será, porque acredito, quero acreditar, que um dia vou estar com ela”, finda.

Veja as fotos na nossa galeria. 

Texto: Ivan Silva; fotos: redes sociais e divulgação TVI 

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