Testemunho real
«O desaparecimento do meu filho»

Nacional

«Meia hora tinha passado e nem sinal dele. Os meus outros filhos já estavam com uma família que os levou para que não se apercebessem do meu desespero»

Seg, 29/07/2019 - 14:50

Sempre fui muito aventureira e desportista. A minha folga ideal é passada a fazer caminhadas no mato com os miúdos. Nesse ano o meu marido não tinha férias na mesma altura que eu. Tive a ideia de pegar nos miúdos, material de campismo para dentro do carro e seguir à aventura.

Era agosto de 2018. Conduzi três horas para norte até parar num parque de campismo. Foram os melhores dias das nossas vidas. Muita praia, brincadeiras no mato, refeições feitas à fogueira, nada de televisão. O telefone era usado só uma vez por dia para falar com o meu marido e os miúdos com o pai.

Estava a ser tudo perfeito, até que aconteceu.

Estava na praia com os miúdos. Dez, oito e cinco anos. Uma daquelas praias do norte com ondas perigosas.

Juro que as crianças vinham sempre ao meu lado. Até que olhei e não vi o Filipe. Com a calma que me caracteriza, comecei a olhar em volta. Estava certamente mesmo ali e eu não o conseguia ver.

Olhei para a areia, para o mar… nada dele.

Tinham passado cinco minutos. Já não estava assim tão calma, mas fingi que sim pelos outros filhos.

Fui espreitar a casa de banho e avisei outras pessoas que estavam na praia para que me ajudassem, vinte olhos viam melhor que dois. As pessoas estavam verdadeiramente preocupadas e nem por um segundo me julgaram.

Ali estava eu a três horas de casa, sem o meu marido, sozinha com os meus três filhos, e um tinha desaparecido.

Passados dez minutos avisei os nadadores-salvadores. Instalou-se uma verdadeira busca. Apareceram diversos jipes daqueles que os nadadores-salvadores têm, e todos os nadadores ali perto procuravam pelo Filipe.

Também as diversas famílias começaram a procurar. Organizaram-se grupos de pessoas para ser mais fácil e eficiente.

Meia hora tinha passado e nem sinal dele. Os meus outros filhos já estavam com uma família que os levou para que não se apercebessem do meu desespero. Vi um carro da polícia marítima a chegar. E mais outro.

Uma hora desde o desaparecimento do Filipe. Sentei-me no chão. Vomitei muito. Só aí tive coragem de ligar ao meu marido. Não tinha forças nas pernas. O coração parecia saltar-me do peito.

Leia aqui o artigo na íntegra

Fotos: D.R. 

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