Ângelo Rodrigues foi o mais recente convidado de Daniel Oliveira para um conversa intimista, em que recordou o susto que apanhou há quatro anos, quando esteve em coma, a lutar entre a vida e a morte. O ator esteve internado dois meses e relata que uma das coisas que mais lhe custou foi o facto de ter perdido a autonomia.
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O artista confessa que pensou “várias vezes” que ia morrer. Quando acordou do coma, passado quatro dias, assume que não percebeu a gravidade daquilo que se passava. “Acordei e toda a gente que estava à minha volta estava com os semblantes muito carregados, eu não entendia bem o que estava a acontecer. No início tive de fazer um tratamento que tinha que ser feito logo, um tratamento numa câmara hiperbárica , ou seja, acelerar a oxigenação das minhas células para conseguir receber um excerto de pele que eu precisava, para conseguir salvar a minha perna. Todo esse procedimento foi muito violento nas primeiras semanas”, refere.
“Estava ligado por um lado por um algália na ureta”
O ator da SIC assume que sentiu o que é estar no “limiar da dignidade humana”, principalmente naquilo que toca à higiene pessoal nas primeiras semanas pós-coma. “Não tinha autonomia absolutamente nenhuma, tinha sempre duas pessoas a tratarem da minha higiene pessoal. Estava ligado por um lado por um algália na ureta, por outro lado fazia as minhas necessidades mas tinham que limpar o meu corpo. Sentia-me como se fosse um verme. Isso era esmagador para mim, estar nessa posição. Como assim chegar a esta idade e não ter autonomia absolutamente nenhuma?”, pergunta.
Ângelo diz que tinha que se concentrar bastante para não “desabar” e que cada passo, por mais pequeno que fosse, era uma grande vitória. “Recordo-me o momento em que me deram uma esponja para me limpar pela primeira vez, naquele momento o meu universo inteiro estava concentrado naquela tarefa. Era o trampolim, o início da minha recuperação, o recuperar da minha dignidade e o avançar depois para a recuperação”, acrescentou.
Assistiu ao seu “funeral digital”
O homem de 36 anos relata que nas visitas as pessoas tinham sempre a preocupação de não passarem nenhum tipo de negatividade: “preocupavam-se em ter sempre um sorriso na cara”. Para não ser afetado com aquilo que era dito sobre o seu caso, Ângelo foi proibido de aceder ao telemóvel: “Nas duas primeiras semanas fui proibido de aceder a telemóveis e a revistas. Até a televisão, os enfermeiros desligavam com medo que falassem de mim e tivessem repercussões”. Depois, quando finalmente podia aceder aos aparelhos eletrónicos, não quis: “Só quando saí do hospital é que vi”.
E foi quando foi apanhado de surpresa por tudo aquilo que se falou a seu respeito, referindo que foi “como se assistisse” ao seu “funeral digital”, uma vez que recebeu várias mensagens de despedida: “É um spoiler do que vai acontecer quando de facto eu morrer”.
Aquilo que, durante este tempo, achou mais duro, foi o sentir-se “desventrado” na sua intimidade. “Daniel, considero-me um gajo obstinado, que só quer fazer bem as coisas. Estou numa constante pulsão entre esconder-me e comunicar. Essa é a minha expressão artística, humana. 15 anos de carreira foram reduzidos a um ato”, diz o ator de Papel Principal, a nova novela da SIC.
“Foi impactante, violento. Senti-me massacrado. Não é de todo a atenção que queria e quero para mim”, desabafa, salientando que tudo isto contribuiu para que agora seja uma pessoa mais “resguardada”. Neste momento confessa estar bem, mas ainda a “apanhar os cacos e a tentar colar outra vez”.
Texto: Inês Borges; Fotos: DR
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