Letizia
Sete “pecados” em sete anos de casamento…

Realeza

Aos 39 anos, a princesa das Astúrias ainda não convenceu os espanhóis da suas “qualidades” de futura rainha

Qui, 29/09/2011 - 23:00

 Em qualquer boa história de conto de fadas o príncipe casa com a sua amada e vivem felizes para sempre. Para trás, algures pelo meio do conto, ficaram as maldades da bruxa má e de todos os que queriam separar o casal. No caso de Felipe e Letizia não há registo de bruxas más pelo caminho, porque o (curto) namoro decorreu no maior secretismo.

Conheceram-se em meados de 2002, iniciaram e consolidaram o romance durante o ano seguinte, sempre longe dos olhares da Imprensa, e a 1 de Novembro de 2003 os espanhóis foram surpreendidos com o noivado de um romance cuja existência ignoravam. A 22 de Maio do ano seguinte, tal como nas histórias de contos de fadas, o príncipe casou com a plebeia. Se o povo espanhol se “apaixonou” por ela e adora a princesa porque vê nela a democratização da monarquia, por outro lado as elites de nuestros hermanos não perdoam os “pecados” daquela que será um dia rainha de Espanha. Tal como os pecados capitais (ou mortais), o dedo é apontado à princesa por atitudes erradas que vão contra as leis, neste caso não de Deus, mas dos parâmetros elevados e exigentes dos monárquicos, sobretudo dos Bourbon, tidos como uma das famílias mais rígidas da monarquia espanhola.

Aos 39 anos – sete deles passados no Palácio da Zarzuela – Letizia é tudo menos uma mulher consensual.
1 – Origens e divórcio
São os mais vulgares “pecados” apontado à nora de Juan Carlos e Sofia e, pelo que parece, são a génese de todos os problemas. Apesar das comparações não serem simpáticas, os espanhóis gostam de as fazer, pondo num prato da balança a nora e noutro a sogra. Enquanto a rainha Sofia nasceu num berço de ouro, é neta e bisneta de reis, Letizia nasceu numa povoação das Astúrias, filha de um casal de enfermeiros, neta de uma locutora de rádio e de um taxista. A primeira tem apelidos ilustres, a segunda é apenas “uma Ortiz”. Mais, é divorciada, o que implica ter tido outro homem na sua vida. Segundo a tradição espanhola, a futura rainha não poderia ter passado e deveria subir virgem ao altar. Ainda assim, Juan Carlos teve de “engolir” o que disse ao filho por altura do namoro de Felipe com a modelo norueguesa Eva Sannun: “Que nunca ninguém tenha de dizer que dormiu com a rainha.” Ser filha de pais separados também não conta a seu favor. Para Ángela Portero, autora do livro, Tu Serás Mi Reina: Letizia Ortiz una Periodista Camino del Trono, por muito que possa aprender, “há muitas coisas se apanham no berço e que não se aprendem”.

2 – A recusa das elites
Ao fim de sete anos a pertencer à dinastia de Borbon que, ao que dizem é uma das mais severas da Europa, a ex-jornalista da TVE é um alvo fácil para os mais conservadores e monárquicos que ainda não digeriram que o seu príncipe, oriundo da linhagem mais “azul”, tenha casado com uma mulher demasiado magra (a suposta anorexia de que padece é notícia recorrente na Imprensa) e plebeia. Se já era olhada com desconfiança, desde a publicação da biografia não autorizada, Una Republicana en la Corte del Rey Juan Carlos, do jornalista catalão Isidre Cunill, onde entre outras coisas afirmam ser militante republicana, ter consumido drogas e ter feito um aborto nos anos 90.

3 – Fashion victim e viciada em plásticas
Seja pelo preço das roupas, pelos modelos escolhidos, pela magreza excessiva ou pelo ar demasiado sério, Letizia é sempre notícia. Mas um dos assuntos preferidos dos detratores da princesa são mesmo as plásticas. Em cinco anos, a mulher de Felipe mudou muito a sua aparência. A mulher espontânea, segura e natural que foi apresentada como noiva do futuro rei deu lugar a uma mulher de semblante triste, artificial e demasiado perfeita, conseguida à custa de cirurgias. Em Agosto de 2008 devido a um alegado problema respiratório, submeteu-se a uma septorrinoplastia, que lhe modificou o perfil e aproveitou também para limar um pouco o queixo demasiado saliente. Ao longo dos anos que se seguiram, o cirurgião Chams é “visita” assídua no Palácio da Zarzuela para lhe fazer pequenas intervenções que lhe conferem um ar que oscila entre rejuvenescido, para uns, e o artificial, para outros. Outro dos vícios da princesa é o botox, e ainda se submete regularmente aos melhores peelings e tratamentos de hidratação para manter a pele do rosto branca e imaculada. Todas estas diligências são uma verdadeira dor de cabeça para a equipa de protocolo e segurança da Zarzuela que tudo fazem para as manter em segredo. Ainda que o consigam, momentaneamente, as fotografias da princesa ao longo destes sete anos não deixam margem para dúvidas.

4 – Ex-jornalista
Apesar do pacto tácito que existe entre a casa real e a Imprensa espanhola (não os captarem momentos íntimos ou embaraçosos) não se pode dizer que a relação jornalistas versus realeza seja propriamente saudável. Daí o desagrado com que a jornalista Letizia Ortiz foi recebida pelos monárquicos, que viram como maus olhos o facto do futuro rei dormir no leito com o “inimigo”.

5 – A má relação com as cunhadas e o apoio da rainha
A ausência de berço, o facto de não saber estar como uma “princesa”, de ter recusado a Cristina alojamento aos pais de Iñaki Urdangarín na sua casa da Zarzuela aquando do batizado de um dos filhos, e de ter estado contra o divórcio de Elena de Jaime de Marichalar, alegadamente por defender que uma infanta tem de manter as aparências, fizeram com que as relações entre cunhadas se fossem deteriorando e sejam cada vez mais frias. Este é outro “pecado” apontado a Letizia que tinha muito a aprender com Cristina e Elena, mulheres com experiência em assuntos protocolares e oficiais. Juan Carlos já se viu obrigado a pedir ao filho que servisse de intermediário entre a mulher e as irmãs na tentativa de melhorar as relações familiares, pois considera que a falta de harmonia põe em causa a imagem e longevidade da família real. A única mulher da vida de Felipe que se esforça por integrar Letizia é a rainha, que adora o filho e faz de tudo para que o seu casamento seja feliz e resulte.

6 – Autoestima excessiva
Hoje, os críticos mais severos “apontam” a falta de profissionalismo de Letizia, devido à expressão aborrecida e tensa que mostra nos atos oficiais e a sua intenção de romper – com ausências – as tradições familiares, como foi o caso das férias em Palma de Maiorca. Um dos seus críticos mais acérrimos, o comentador de realeza Jaime Penafiel, afirmou: “Letizia é uma mulher despachada, mas pouco natural. Quer ser sempre a ‘mais’ em tudo: a mais culta, a mais elegante. Tanto esforço consome-a! Por isso, está tão magra. Falta-lhe humildade. Letizia não cai bem. As infantas não a toleram e muito menos o rei.” A escritora espanhola Ángela Portero assegura que esta aprendizagem não tem sido nada fácil, muito pela forte personalidade da princesa. “Na monarquia espanhola, e não só, a rainha é uma figura secundária, discreta”, afirmou. Dito isto, acrescenta: “Letizia, até pela sua profissão – jornalista e apresentava o principal telejornal da TVE – não está muito habituada a viver na sombra.” Daí a forma como se irá comportar ser uma das grandes incógnitas do futuro. Alguns associam o comportamento da princesa à evidente ausência de assessoramento por parte dos funcionários reais – outros garantem que é a princesa que não lhes dá ouvidos – bem como a uma perigosa falta de acompanhamento de outras mulheres da família, as cunhadas Elena e Cristina. Neste âmbito a jornalista Maria José Rubio, autora do livro Rainhas de Espanha recomenda à nora do rei que se preocupe um pouco menos com o seu aspeto físico e mais com assuntos sociais, pois só desta forma rompe com a imagem de frivolidade, que em determinadas ocasiões, aparenta.

7 – Põem em causa o futuro da monarquia
Ao longo da história da monarquia espanhola, todos os reis têm sido enviados e tirados do exílio. Aos nossos dias, diz-se na realidade, os espanhóis não são monárquicos, mas sim “juancarlistas” e que só mantém a monarquia graças à personalidade e trabalho do rei Juan Carlos. Com a saúde a piorar e o passar dos anos a deixar marcas no soberano, os espanhóis interrogam-se se os futuros reis Felipe VI e Letizia serão capazes de preservar intacto o prestígio da monarquia ou se se avizinha uma nova etapa, não necessariamente para melhor.

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Impala e Reuters

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