O selecionador do Irão esteve em Portugal a estagiar com a sua equipa e denunciou o Banco Espírito Santo (BES) por o ter feito perder muito dinheiro. Já em pleno Aeroporto de Lisboa, falou com a VIP e mostrou toda a sua revolta.
VIP – Qual é a ideia que os jogadores do Irão levam de Portugal?
Carlos Queiroz – Tirando um dos guarda-redes que joga cá, mais nenhum tinha estado em Portugal. As informações que me deram são as de que ficaram maravilhados com o País e a simpatia de todos.
E como é a sua vida no Irão? Tem contrato até 2018.
A etapa anterior, de quatro anos, já foi vencida. Estou na fase de viver bem o dia-a-dia, o que já é fantástico.
Sente-se adaptado?
Sempre me adaptei bem. Tenho um princípio muito simples: as pessoas que me pagam e me ajudam, a mim e à minha família, a viver merecem todo o carinho e atenção. Nunca me queixo. É minha obrigação adaptar-me e adequar as minhas condutas e comportamentos àqueles que me tratam bem.
Tem lá a família?
Sim, acabam por andar entre cá e lá.
Este estágio em Portugal ficou marcado pelo facto de ter denunciado a sua situação com o BES e ter afirmado que perdeu as economias de 15 anos de trabalho. Por que razão retirou a queixa?
Talvez tenha havido um equívoco, pois as queixas estão a decorrer, embora considere que não sou eu que devo apresentar queixa. Aqueles que foram os responsáveis por deixar esta tragédia chegar a este ponto têm de ser os mesmos a procurar soluções, em vez de dividirem isto em portugueses de primeira e de quinta categoria, e em bons e maus. Os procuradores, os escritórios de advogados e outros envolvidos têm de nos defender. Se não o fizerem, então devem ir embora. Já é inaceitável ter chegado ao ponto a que chegou e não é uma situação recente, pois já houve o BPN e o BPP. Se não aprenderam a lição, é muito mais grave não fazerem nada. Eu, e outros portugueses, queremos dizer-lhes: por favor, pelo menos tenham respeito por aqueles que estão a sofrer e deixem imediatamente os vossos cargos, até que possamos encontrar meios para não os deixar viver sem impunidade.
Está a dizer que tem de haver uma responsabilização?
Exatamente. Mas isso, depois. Neste momento, queremos dizer ao senhor Governador do Banco de Portugal que não vamos deixar que seja promovido ao Banco Mundial. Desta vez não vamos.
É um caso de polícia?
Não sei. Queria fazer exatamente essa pergunta ao Presidente da República, pois disse que esperava não ter sido mal informado. Agora, estou à espera da segunda parte dessa afirmação. Se tiver sido mal informado, queremos saber o que vai fazer. Temos educação e humildade, dizer-lhe: isto não chega.
Mas já tentou falar com o Presidente da República?
Não. Estamos a viver com as mesmas pessoas que, quando eu tinha 20 anos, diziam que era preciso mudar o regime porque não se podia falar. E agora os mesmos senhores montaram um regime em que falamos e não nos ouvem. Portanto, não há diferença. Os portugueses querem dizer que este sistema, em que as pessoas falam e não são ouvidas, não nos satisfaz. Trabalhamos para juntar as nossas economias, o nosso conforto, pagar os impostos, para eles viverem com os ordenados desses impostos. Portanto, quem lhes paga somos nós. Não são eles que nos pagam. Têm de montar um regime para as pessoas e não um regime para os políticos e governantes. Como isto está invertido, dizemos, com todo o respeito: vão-se embora aqueles que têm responsabilidades diretas. Há pessoas a sofrer. Não me calo nunca. O senhor Governador do Banco de Portugal não tem autoridade moral nem técnica para ter deixado isto chegar ao ponto a que chegou e agora ser ele a decidir que há portugueses de primeira e de segunda. E eu sou de segunda, só porque tenho de trabalhar no estrangeiro. Não aceitamos que haja bons e maus. Se há aqui alguém mau, é ele. Ele é que foi a pessoa má, por não ter cumprido a sua obrigação. Se sabia e aceitou, isso é muito sério. Se não sabia, como pretende fazer crer, então é muito mais grave.
E nunca tentou falar com alguém do Banco de Portugal?
Não. Não nos ouvem. Dizem para irmos para aconselhamento legal, para os advogados. E não temos dinheiro pois ficaram-nos com ele.
Pinto da Costa disse, recentemente, sentir-se “vigarizado” por Passos Coelho e Cavaco Silva, por terem assegurado que o BES era um banco sólido. Quer dizer a mais pessoas para também darem a cara?
As pessoas têm sido amordaçadas e silenciadas, o que as leva a acomodarem-se e a perder a esperança. Estão desiludidas e pensam que não vale a pena. Mas vale a pena, se falarmos todos ao mesmo tempo. Queremos justiça para que aqueles que estão a sofrer sejam reparados e estas coisas não voltem a acontecer. Podem dizer que tem a ver com a conjuntura europeia, mas não conheço exemplos de outros bancos assim. Estas coisas só acontecem em Portugal.
Espera apenas que este seu caso sirva de lição aos portugueses?
Não se conformem, porque vale a pena. E muito. Também erro, e paguei muito caro pelos meus erros. Tenho o direito de exigir o mesmo. Uma vez disse uma barbaridade a seguir a um jogo e até hoje pago essa fatura. Penitencio-me e peço desculpa. Pensem nisto: quem são as pessoas que dão mais opiniões sobre a governação? Aqueles que estiveram lá e não fizeram nada. Eu, Carlos Queiroz, estou cansado e não aguento mais ver a impunidade de certas pessoas.
Texto: Humberto Simões; Fotos: Nuno Moreira e João Trindade
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