A conversa começa, descontraída, num café de bairro. Vasco Palmeirim recebe um telefonema a avisá-lo de que uma professora primária fala dele na televisão. Está a passar uma reportagem sobre a vinda de Carlos e Diana a Portugal, estudava o apresentador no colégio Queen Elizabeth, que os príncipes britânicos visitaram.
“Lembro-me de estar na primeira fila, porque era dos mais pequenos, e ela passou-me a mão pelo cabelo”, diz, entusiasmado. Acabada a escola primária, o pai achou por bem inscrevê-lo numa escola pública, para descobrir que “nem todos os amiguinhos têm piscina”. Tinha dez anos, era um miúdo tímido, e descobriu o mundo real.
Com a adolescência, percebeu que tinha de “deixar de esconder” a vontade de comunicar. Que mesmo quando a piada é má vale a pena fazê-la. Aos 34 anos, continua com cara de miúdo, mas está a construir a carreira que sonhou e a conquistar espaço de antena na RTP.
VIP – Antes de mais, como está a correr este novo desafio, o programa Sabe ou Não Sabe?
Vasco Palmeirim – Quando o projeto me foi apresentado pela produtora, motivou-me muito pelo facto do apresentador não ter guião, havia uma grande carga a todos os níveis. Depois de começar, é engraçado ver como toda a equipa gosta genuinamente de fazer isto. Tem sido um desafio muito cansativo, mas tem sido muito giro. Se o apresentador for mortiço, o concorrente também vai ser, mas se o apresentador der tudo o que tem vai ter muito mais energia e gosto desse ritmo que o programa tem, dá-me muito gozo.
Quer mais, portanto?
Claro. Apesar de me deixar poucas horas de sono, gosto de andar cansado por bons motivos.
Como consegue ter estado de espírito quando toca o despertador, às seis da manhã?
Tenho de me mentalizar que tenho a sorte de fazer o que gosto, estou cansado pelos melhores motivos. Faço um programa de rádio que adoro, apesar de acordar a horas assassinas, tenho um programa com o Nuno Markl, tenho um programa no Canal Q, e na RTP estou a receber estas oportunidades que me enchem as medidas. Tenho de gerir as coisas. Os amigos e a família sabem que hoje em dia não se pode contar com o Vasco para tudo, para jantares, para saídas. Visitar os pais ou os avôs torna-se mais complicado porque às vezes no pouco tempo que tenho quero é descansar no sofá. As pessoas já entendem.
O que faz quando tem um bocadinho livre?
Pratico padel. Praticava ténis muito a sério, mas quando cheguei à faculdade tive de escolher entre o ténis ou o curso. Gosto muito de ver os jogos do Sporting, adoro o ambiente das roulottes e adoro dormir, hoje em dia é quase sagrado. E recuperei há pouco tempo o prazer de ler.
Sempre quis fazer televisão?
Tinha o sonho de ter o meu talkshow, mas a verdade é que no final do curso amei rádio e não gostei de televisão. Sempre gostei da parvoíce e percebi que era muito giro fazer rir alguém só com a voz, apaixonei-me. No fim o professor desafiou-me a escrever humor para o programa da manhã da Mega FM e eu aceitei, com um amigo meu. Comecei em 2002 e em 2007 comecei a fazer o programa da manhã. Um dia tocou o meu telefone, era o Pedro Ribeiro a convidar-me para fazer parte da equipa dele na Rádio Comercial. E estes seis anos passaram num instante. Depois veio a televisão. No canal Q, depois como jurado do Feitos ao Bife e agora isto.
Substituir a Catarina Furtado, na segunda temporada do Feitos ao Bife, foi assustador?
Não senti isso dessa forma. A Catarina ia para Moçambique, não podia, e disseram-me que seria uma segunda temporada diferente, muito mais virada para o humor. Não senti esse peso porque era quase outro programa e a Catarina não só sugeriu o meu nome como me disse que bastava ser eu, que ia correr bem. Tenho essa preocupação, não quero que se diga que o Vasco da rádio é diferente do Vasco da televisão, quero que o Vasco seja sempre o mesmo, mesmo a fazer ponto-cruz. Fiquei feliz por ser em direto, apesar de ter muito medo de ser condicionado pelas especificidades da televisão, mas acho que correu bem. Estou muito feliz com o que tenho conseguido ser enquanto profissional, porque o que sou como profissional é o que sou na vida real.
Mas tendencialmente vai sempre para esse lado humorístico, não se foi tornando cada vez mais no Vasco, o próprio?
Fui fazendo o que me apetecia e fui conquistando o meu espaço, não roubando nada a ninguém, apenas fazendo as coisas que gosto e que tenho facilidade em fazer. As pessoas vão-te reconhecendo e vão reconhecendo o teu estilo e gosto muito disso.
O seu pai é diretor de orquestra, a sua mãe foi bailarina. A música fez sempre parte da sua vida. Os temas que compõe são um regresso à base?
Costumo dizer que, na escola, perdi a timidez e ganhei uma guitarra. O meu pai ofereceu-me uma guitarra com a condição de tocar com um dedo em cada corda, para deixar de roer as unhas. Não resultou quanto às unhas, mas comecei ainda na escola a fazer algo parecido com isto, tocar uma música e cantar outra coisa qualquer. Depois foi na Mega e na Comercial tive a ajuda da Internet. Começámos a filmar e as pessoas acham piada às músicas, sobretudo porque mostram muito o espírito da equipa. Hoje em dia, quando acontece alguma coisa já esperam uma música. Dá-me muito gozo, costumo fazer isso à noite.
Como consegue fazer isso à noite, considerando que se levanta às seis da manhã?
Há coisas que têm de ser imediatas, pelo fator jornalístico, e eu sinto-me muito mais criativo à noite. Vou para o chão da minha sala, com umas folhas de papel, vou rabiscando. Há músicas que saem em 15 minutos, outras que demoram horas. Claro que há dias em que é muito difícil acordar, nunca nos habituamos, é muito duro.
Tirou recentemente férias para descansar. Obriga-se a essa disciplina, a parar?
Nunca me consigo desligar, mas imponho-me essa disciplina. Acordo, tento dormir mais, aproveito para passear com os amigos, beber um copo, ir à praia, ler num jardim. É incrível como o simples facto de ler um livro ao sol num relvado pode ser um momento maravilhoso. Mas tenho mesmo de descansar.
A vida pessoal ressente-se?
Claro. Os meus pais agora já percebem melhor, mas perguntavam-me muito, cobravam-me. Às vezes é difícil…
A sua namorada também lhe cobrou a falta de tempo nos últimos meses. Foi isso que ditou o fim da vossa relação?
Não quero falar sobre isso. Ainda me estou a habituar a isto de ser figura pública e do que isso implica…
Mas foi sozinho para o Brasil depois do fim da relação?
Fui divertir-me e consegui. É um país magnífico, estive no Brasil e mais não posso dizer. Quero guardar esse espaço para mim.
Quais são os seus planos para o futuro?
Já tracei planos, agora penso que se as coisas ficassem por aqui já me dava por feliz. Nunca pensei que ao mesmo tempo poderia fazer o programa de rádio mais ouvido em Portugal e fazer um programa de televisão em prime-time. Um dia vou poder dizer aos meus filhos e aos meus netos que fazia um trabalho de rádio muito giro e um programa de televisão que as pessoas gostavam muito. O que vier à rede, desde que seja algo que goste e ache que tem a ver comigo, vamos a isso. Sem pensar em audiências, senão provavelmente faria coisas mais chatas. Espero nunca ter um trabalho que tenha de fazer por frete.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro, Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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