A Dra. Catarina Lucas, psicóloga/sexóloga e diretora do Centro Catarina Lucas fala-nos dos desafios atuais à vivência da sexualidade feminina – um tema a que cada vez é dado mais importante quando se fala de saúde.
“A sexualidade, sobretudo a feminina, tem sido aos longo dos tempos um tema complexo, de difícil abordagem e rodeada por tabus e crenças desajustadas. Ainda hoje, a sexualidade feminina enfrenta uma variedade de desafios que vão desde questões sociais e culturais até problemas médicos e emocionais, tendo estes desafios um impacto significativo sobre a vida e as relações da mulher.
Vivemos tempos de mudança, onde o acesso à informação parece mais facilitado e onde os estigmas são questionados e postos em causa. Mas há um paradoxo que insiste em permanecer: apesar deste maior acesso à informação e do contrariar de estigmas, mantém-se uma grande desinformação, bem como muitos mitos, medos e tabus que prejudicam a sexualidade feminina. Os desafios mantêm-se e o caminho a percorrer continua longo.
Além disto, as mudanças de papéis, a integração no mercado de trabalho e as novas vivências da parentalidade têm obrigado a mulher a encontrar um novo olhar sobre si mesma, sendo este um caminho totalmente em aberto. Abandonar um papel que perdurou e foi aceite durante anos, até pelas próprias mulheres, coloca um grande desafio de adaptação a um novo papel que ainda não conhece bem, que ainda não encontrou na totalidade. Se por um lado, há maior abertura, menos barreiras de género, acesso ao emprego, entre outros aspetos, por outro lado, em todos eles é colocada uma grande pressão, que obriga a mulher a multiplicar os seus esforços, a corresponder a várias solicitações e diferentes contextos e, a faze-lo de forma eficaz. Isto tem trazido esgotamento às mulheres e alguma dificuldade em percecionarem-se e encontrarem o seu “novo lugar”. E neste “novo lugar” a sexualidade também precisa de ser redescoberta! De que forma querem as mulheres vive-la e quais os desafios que enfrentam?”
Estigma e Normas Sociais
Desde muito cedo, as mulheres são expostas a normas e expetativas sociais que influenciam e moldam as suas perceções e crenças sobre a sexualidade. O estigma em torno da sexualidade feminina, as crenças pré-concebidas e os mitos podem resultar em sentimentos de vergonha e culpa, bem como perceções negativas de si mesmas. Estas crenças e sentimentos dificultam a expressão aberta e saudável de desejos e necessidades sexuais. O tabu em torno de questões como o prazer sexual, a masturbação e o papel da mulher contribui para a perpetuação desses estigmas, existindo ainda um longo caminho a percorrer na vivência saudável e gratificante da sexualidade feminina.
Educação Sexual Deficiente
A falta de uma educação sexual adequada contribui para uma menor preparação das mulheres para questões relacionadas com o corpo e com os desejos e necessidades sexuais. A falta de informação sobre contraceção, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e práticas sexuais seguras pode deixar as mulheres em risco e limitar o seu acesso a uma sexualidade gratificante.
Pressão e expetativa social
Cada cultura tem expetativas próprias e normas enraizadas em relação à sexualidade feminina, o que muitas vezes coloca pressão nas mulheres para se conformarem com certos padrões de comportamento, de acordo com aquilo que é esperado. Isto pode incluir expectativas relativas à virgindade, conformidade com papéis de género e restrições à expressão livre da sexualidade.
Violência de Género e Trauma sexual
O trauma sexual, que pode englobar o abuso sexual e a violência de género, é um dos desafios mais exigentes e desadaptativos que a mulher enfrenta no que respeita à vivência da sua sexualidade. O impacto psicológico e emocional pode afetar significativamente a capacidade da mulher se envolver relacionamentos íntimos saudáveis ou de usufruir da sua vida sexual de forma gratificante e satisfatória.
Dificuldade no Acesso a Cuidados de Saúde Sexual
As barreiras no acesso aos cuidados de saúde sexual e a vergonha em volta de certos aspetos da saúde sexual podem dificultar o acesso das mulheres a informações e tratamentos essenciais e atempados, prevenindo dificuldades e problemas maiores no futuro.
Disfunções Sexuais Femininas
As disfunções sexuais femininas associadas à dor e ao orgasmo, por exemplo, representam mais um conjunto de desafios enfrentados pelas mulheres no que respeita à vivência plena da sua sexualidade. Estas dificuldades podem ser causadas por uma variedade de fatores, incluindo questões médicas, psicológicas, culturais ou relacionais e podem ter um impacto significativo na qualidade de vida e no bem-estar emocional das mulheres.
Diminuição do Desejo Sexual
É comum encontrar-se na mulher uma diminuição do desejo sexual, sobretudo em mulheres que estão em relações longas. A perda da novidade, a contaminação do dia-a-dia por fatores como trabalho, filhos e outros, fazem com que o desejo na mulher passe a ser mais responsivo do que espontâneo, o que gera sentimentos de culpa e dificuldades no casal. Mais do que na diminuição do desejo sexual, o problema reside na discrepância de desejo sexual entre as partes envolvidas.
Masturbação
São muitas as mulheres que não se relacionam com o próprio corpo, que nunca o exploraram e que, por isso, têm uma perceção diminuída das suas preferências. Neste campo persistem muitas dúvidas, crenças erradas e vergonha, que limita e condiciona a expressão sexual.
Gravidez
O risco da gravidez desde sempre ensombrou a mulher e condicionou a forma como experiencia a sua sexualidade. A introdução da pílula contracetiva veio trazer alguma liberdade às mulheres, todavia, o desafio da gravidez mantém-se, tendo-se transformado e sendo agora percecionado de modo distinto. Além das dificuldades sexuais associadas à gravidez e pós-parto, a mulher enfrenta hoje dilemas sérios na conciliação do papel de mãe com o papel de uma profissional eximia e demais papéis.
Como superar estes desafios?
Apesar dos desafios enfrentados pelas mulheres na vivência da sua sexualidade serem vários e com causas distintas, é possível superar essas dificuldades e desenvolver uma sexualidade saudável e satisfatória através de estratégias como:
1- Educação sexual abrangente e inclusiva desde idade precoce;
2- Refletir sobre normas sociais e culturais prejudiciais e promover uma cultura de aceitação e respeito pela individualidade sexual;
3- Quebra de medos e preconceitos no acesso aos serviços de saúde, que abordem as necessidades específicas das mulheres;
4- Apoio psicológico adequado para mulheres que enfrentam traumas sexuais ou disfunções sexuais;
5- Promover o empoderamento das mulheres, para que possam tomar decisões informadas sobre a sua saúde e sexualidade.
Reconhecer e abordar os desafios enfrentados pelas mulheres no que respeita à sua sexualidade é fundamental para promover a igualdade de género, a saúde sexual e o bem-estar emocional das mulheres. É hora de desafiar estigmas, superar barreiras e capacitar as mulheres para a vivência da sexualidade de forma plena e satisfatória. Uma sociedade em mudança, é uma sociedade que reflete e desafia, que arrisca fazer diferente e seguir outro rumo, mesmo sem certeza do “novo lugar” que encontraremos.
Fotos: Freepik
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