Sara Sequeira, tem 28 anos, é modelo agenciada pela Face Models, e está a ser notícia por ter denunciado o assédio de um revisor da CP, durante uma viagem do Carrascal para Tomar.
«Ainda bem que não está frio porque as suas mamocas constipavam-se», terá dito o profissional. Mais tarde, quando confrontado pela jovem, o revisor desculpou-se dizendo: «Que eu saiba não ofendi ninguém, o que é que disse de mal? Há normas para viajar no transporte público, andar aí com as mamas à mostra, acha que isso é decência. Fique sabendo que não tem condições para viajar assim, anda a provocar os homens todos por aí». O caso aconteceu a 4 de setembro.
Revoltada, Sara Sequeira denunciou a situação e apresentou queixa contra o autor. Após ter tornado a história pública nas redes sociais, onde partilhou um vídeo onde se escuta as palavras do revisor, está a ser alvo de vários comentários depreciativos. Mas, a jovem promete não desistir e pretende ir até as últimas consequências. Em entrevista exclusiva à VIP, a modelo da Face Models explica que quer proteger outras mulheres e alertar para a «normalização» do assédio.
«Sempre fui ensinada a respeitar as pessoas»
«Apenas o superior da pessoa me pediu desculpa. Vou fazer queixa na polícia e vou para a frente», frisa Sara, explicando que, apesar das críticas, apenas está preocupada com a família e amigos, sobretudo devido ao Instagram. «Eu estou a ser bombardeada e estão a acusar-me de ter assediado o homem. Sempre fui uma rapariga segura de mim, portanto pouca coisa me atinge. O que me está a atingir, e a ser difícil para mim, é pela minha família e amigos, não o que estão a falar e a dizer sobre mim. É o facto da minha família e amigos terem de ler aquilo [exemplo de comentário publicado no Instagram: ‘anda assim, está a pedi-las’] », lamenta.
«Eu não posso exigir amor e respeito a quem não tem por si mesmo, porque aquelas pessoas que estão ali a falar [nas redes sociais] são as mesmas pessoas que apoiam uma violação. Eu sempre fui ensinada a respeitar as pessoas, não me interessa se são, por exemplo, prostitutas, se são advogadas. Temos de ter respeito por todas as pessoas. Estas pessoas partem da premissa que uma mulher tem de se dar ao respeito e não. Nós somos seres humanos e temos de ser respeitadas, ponto final».
«Há uma desculpabilização do agressor e uma culpabilização da vítima»
Sara faz questão de explicar que nesse dia vestia um «simples vestido verde». «Estamos a falar apenas de um decote, é isso que não consigo perceber, como é que isto chegou a este ponto», lamenta, dizendo não ter dúvidas que toda a situação é um reflexo de uma sociedade machista. «Não tenho a menor dúvida, mas atenção: não é só a sociedade portuguesa! Há sempre uma desculpabilização do agressor e uma culpabilização da vítima. E é isso que tem de acabar. Que é o facto de acharem que as mulheres se põem a jeito, porque não. Acabei de dar uma entrevista à SIC e no meio da entrevista gravada passa um carro a gritar: ‘é boazona…’ Estava acompanhada, quieta no meio de dois homens e levo com um carro a gritar isso! Imaginem o que é isto no nosso dia-a-dia de mulheres, principalmente se têm peito, se têm exposição…», frisa. «Supostamente estamos num País livre», atira.
Sara Sequeira explica que o que pretende com esta denúncia é «muito simples». «Existe uma normalização do assédio e isso é grave. Se não fosse crime não estava previsto na lei, se não tivéssemos o direito de estar na rua sem ser importunadas por uma pessoa, só pelo simples facto de sermos mulheres, isso não seria crime. É grave!»
«Como é que este tipo que esta a trabalhar faz-me aquilo, não tem a decência de pedir desculpa e ainda me acusa de andar por aí a assediar e provocar os homens’?», questiona.
«Começo a pensar assim: se isto acontece comigo que ando num comboio e ele devia de ter 100 por cento de respeito, porque não é um civil qualquer, está a trabalhar e a representar uma empresa… o que fará nos restantes casos?!»
«Às vezes há apalpões, há isto e aquilo, e não falamos porque somos ridicularizadas ou porque é coisas de homens… há muita gente que é vítima de violação e tem vergonha de falar. Está normalizado: ‘ela provou, estava no meu quarto, ou usava mini-saia…’. Não é o meu caso em concreto que é grave, é a linha de pensamento que é grave», termina.
CP instaura processo disciplinar
A CP emitiu um comunicado a confirmar que o revisor foi alvo de um processo disciplinar. «Na sequência do incidente ocorrido, no passado dia 4 de setembro de 2020, a bordo de um comboio regional com destino a Tomar, a CP – Comboios de Portugal procedeu a imediatas e preliminares diligências de averiguação interna, no sentido de apurar os factos denunciados pela sua Cliente. Comprovada a existência de uma conduta inadequada do Operador de Revisão e Venda a Empresa determinou a instauração de Processo Disciplinar ao referido trabalhador.».
Texto: Ricardina Batista; Fotos: Reprodução Instagram
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