Há 21 anos, em 1997, estreou-se na série «Médico de Família» na SIC. Filha de dois atores: Vítor Norte e Carla Lupi, com apenas 12 anos, Sara Norte foi considerada um talento promissor na sua área, mas a vida trocou-lhe as voltas aos 17 anos de idade. Quando os pais de Sara se separam, «tudo mudou». «A separação é complicada e a minha foi mediática», começou por contar na entrevista a Daniel Oliveira no programa «Alta Definição» da SIC.
Sara Norte, de 33 anos, abriu o coração e contou pormenores desconhecidos da sua vida. Na altura em que os pais da atriz se separaram, a jovem tomou partidos e ficou do lado da mãe. «A imprensa caiu-lhe muito em cima, ela ficou muito em baixo e o meu pai entrou num reality show e, também, não me soube explicar muito bem o motivo da separação», disse.
«Nunca consumi com a minha mãe»
Sara viu a mãe entrar numa depressão profunda e a consumir droga. Adolescente e sem saber o que fazer, saiu de casa. «Vê-la morrer sozinha, com um euro para comer, mexe comigo», revelou.
Foi aqui que Sara entrou na faculdade e «abraçou» pessoas que, segundo a atriz, «não interessavam a ninguém». Experimentou todo o tipo de drogas e lembra-se da primeira vez que o fez, no bairro alto. Ela sabia que a droga tinha arruinado a vida da mãe, mas quis saber o motivo porque a mãe o fazia e experimentou.
«É um vício, não consegues controlar, não há heróis e eu consegui esconder até ao dia em que emagreci 15 quilos num mês. Eu tinha um diário onde escrevia tudo e o meu pai que andava desconfiado foi lê-lo e acabou por descobrir», confessou. Na altura foi um drama, Sara voltou para casa da mãe e ficou anos sem falar com o pai que estava magoado com toda a situação. «Muita gente disse que consumia com a minha mãe. Isso é mentira, nunca consumi com a minha mãe. Ela nunca iria fazer isso comigo», contou.
«Se eu pudesse mudar alguma coisa era essa noite no bairro alto», afirmou.
«Três anos de muita violência, pior do que estar numa prisão»
Sara apaixonou-se por um rapaz da Reboleira e mudou-se para viver com ele. «Apaixonei-me por quem não devia e foram três anos de inferno», revelou. Conseguiu esconder de toda a família o sítio onde vivia e sentia-se muito sozinha. «Foram três anos de muita violência, pior do que estar numa prisão», contou. O namorado fez o que quis de Sara e, sozinha, deixou a situação arrastar-se.
«Apaixonei-me perdidamente, mas a violência doméstica dominava a relação», disse. A atriz vivia numa barraca com o companheiro, em condições mínimas. Ouvia os ratos nas paredes e tomava banho num alguidar com água fria. Para além de tudo isto, Sara tinha de os sustentar aos dois. Trabalhava e estudava enquanto o namorado não «fazia nada da vida».
Quando conseguiu largar esta relação «doentia», com a ajuda de uma amiga, Sara disse «basta», o ex-namorado não aceitou e «uma vez quando ele quis reatar e eu disse que não, ele deixou-me desmaiada no chão do cais do sodré», contou.
«Gastava 400 euros por dia porque eu fumava cocaína, não a cheirava. Era mais caro»
A cocaína era a única prioridade de Sara. Não tomava banho, não se via ao espelho e deixou de gostar de si. «Gastava 400 euros por dia porque eu fumava cocaína, não a cheirava. Era mais caro», revelou.
Foi assim que Sara começou a traficar porque lhe dava muito lucro e Marrocos era uma aventura, Sara não tinha noção do perigo e quis arriscar porque ganhava 1000 euros por cada viagem.
Chegou a conduzir o carro para levar as pessoas até ao monte em Marrocos (sítio onde iam buscar a droga) e aí ganhava mais 500 euros. «Fui presa com 1,40 euros no bolso, não juntei nada. Perdi um ano, quatro meses e quatro dias da minha vida», disse.
Sara parou de ir a Marrocos durante um ano porque apanhou um grande susto quando foi mandada parar uma vez durante o caminho. Foi aí que trabalhou num bar de striptease onde servia ao balcão e metia a música para as meninas dançarem. «Nunca fiz striptease como se disse na comunicação social», esclareceu.
No dia em que saiu o escândalo na comunicação social, Sara voltou a ir a Marrocos até que é presa, pela primeira vez, com o namorado da altura. «Fomos apanhados em Espanha, no meu dia de anos, com 80 bolotas no estômago. Fiquei imenso tempo sem ir, só fui depois por desespero», confessou.
«Quando voltei a Marrocos eu tinha duas opções: Prostituição ou tráfico»
Sara estava desesperada, sem dinheiro, sem casa e não pediu ajuda à família por orgulho. Chegou a dormir na rua e quando voltou a Marrocos «tinha duas opções: prostituição ou tráfego. Eu escolhi o tráfego», contou.
Sara não tinha nada a perder, mas revelou em entrevista que «foi muito duro». «Tinha de engolir 100 bolotas e eram muitas horas com aquilo no estômago. Conheci duas pessoas que morreram, é uma loucura porque são nove horas de viagem e não podes ir à casa-de-banho porque pode chegar a polícia com cães», revelou.
«Quando sou apanhada pela segunda vez e presa, vivi dois dias no calabouço e tentei cortar os pulsos com os ganchos do cabelo»
Foi a 7 de fevereiro de 2012, há cerca de seis anos e meio, que Sara é apanhada e «nem queria acreditar» no que aconteceu. Viveu dois dias no calabouço, onde apanhou piolhos e dormiu num colchão com cocó.
«Quando sou apanhada pela segunda vez e presa, vivi dois dias no calabouço e tentei cortar os pulsos com os ganchos do cabelo. Queria chamar à atenção. É um desespero, bati com a cabeça nas paredes e senti-me culpada», confessou.
«A prisão foi a minha salvações. Se não o que era feito de mim?», questionou. Foi na prisão que Sara arranjou coragem para mudar de vida. Trabalhou na biblioteca da prisão, tirou o curso de cabeleireira, fez um grupo de teatro, tornou-se atleta ao correr quatro a cinco horas por dia e, segundo a mesma, foi «feliz» na prisão.
«Eu aprendi a gostar de mim, eu tinha uma vida normal e fiz tudo a frio, não tomei comprimidos para fazer o desmame», revelou.
É dentro da prisão que Sara sabe da morte da mãe. Carla Lupi morreu com um cancro de pulmão a 31 de julho de 2012, estava Sara há apenas seis meses presa.
«Quando soube da morte da minha mãe senti uma impotência tão grande. Dois dias antes dela morrer, eu senti que ela não estava bem, falámos ao telefone e ela não estava bem», contou. Sara vive com muito «arrependimento» e, hoje em dia, dá muito valor à família e aprendeu a amá-la. «O tempo não cura tudo. Não estamos preparados para que a nossa mãe morra», disse.
No dia em que sai da prisão, Sara passou por mais de «20 portões» e quando chega ao último e lhe dizem que é o último, ela saiu disparada e começou a correr. Quando Vítor Norte chegou, aí sentiu-se livre.
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Hoje, Sara é feliz com a relação estável que tem com Vasco há dois anos e sente que, agora, sabe o que é amor. «Nunca tinham feito um sacrifício por mim e ele fez. Ele foi um príncipe que me apareceu, quando eu já não acreditava nisso e é uma história muito bonita e eu amo-o com todas as forças», revelou.
Sara tem uma vida feliz, calma e vive com alguma dor o cancro da irmã que tem apenas 12 anos de idade, mas com a confiança que Beatriz vai superar. «Ela é uma miúda muito forte e tem um grande apoio. Ela vai ser um ser humano tão especial», disse.
«Os meus olhos? Dizem que tenho muita esperança no futuro», terminou emocionada.
Fotos: Impala e reprodução Instagram
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