Em criança, Sandra Correia queria ser jornalista. O pai era árbitro de futebol e as entrevistas que os jornalistas lhe faziam deixavam-na fascinada. Por isso, na altura de escolher o curso a seguir, a agora empresária não teve dúvidas: Comunicação. “Fui estudar comunicação empresarial e tinha quatro áreas: publicidade, marketing, jornalismo e relações públicas. No 2.º ano tive a Judite Sousa como professora e um dia ela fez um teste de me pôr em frente à câmara como se estivéssemos a fazer o telejornal. E acho que entre o sonho e a prática, quando me vi em frente à câmara, com o ponto e com aquilo tudo, percebi que não era muito bem aquilo que tinha imaginado”, conta.
Perdeu-se uma jornalista e ganhou-se, assim, uma empresária. De sucesso. E a história deste êxito começa a desenhar-se em 2002 quando, face a um problema, Sandra prefere não fazer como a avestruz. “Na passagem do século, a Möet&Chandon preparou a empresa do meu pai – Nova Cortiça – para uma grande produção dos discos das rolhas de champanhe”, explica. E continua: “Essa tal grande produção acabou por não acontecer porque as pessoas não compraram tanto champanhe como a marca estava à espera, então, eu e o meu pai ficámos com muita cortiça em casa.”
Nesse mesmo ano, Sandra marcou presença numa feira em Almeria e para mostrar que a cortiça tem várias utilidades levou um chapéu-de-chuva feito nesse material. A ideia nem era vendê-lo, mas perante a presença de empresários de todo o Mundo, as perguntas foram tantas e a vontade de comprá-lo foi tão insistente por parte de várias pessoas que Sandra pensou “e porque não?”.
No ano seguinte, nascia a Pelcor. “O negócio dos discos das rolhas é o sonho do meu pai, não
o meu. Eu queria algo meu, algo que viesse de dentro.” Assim, depois do fascínio a que assistiu pelo guarda-chuva, Sandra fica com duas perguntas a pairar na cabeça: “Por que é que não criamos algo que possa levar a cortiça mais perto das pessoas” e “por que é que ninguém se lembrou de pegar na cortiça e transformá-la em moda?”
Sandra quis encontrar as respostas para as duas questões e foi a sua persistência, a sua vontade de fazer diferente que a levaram ao topo da montanha do sucesso. Hoje em dia, um pouco por todo o mundo já se encontra a marca de Sandra à venda. “A Pelcor está, neste momento, sobretudo nos Estados Unidos que é o nosso principal país de exportação. Depois também estamos no Japão e temos um cliente que acho giríssimo que é um templo budista em Hong-Kong. Vendemos para eles peças mais pequenas e agora começámos também a vender malas. Tenho uma parte da minha vida muito espiritual e, para mim, isso torna-
o um cliente muito especial.
Depois estamos a vender para a Finlândia, Suécia, Suíça e Alemanha”, conta. Os negócios que têm nestes países, mas principalmente nos Estados Unidos, faz com que o seu horário de trabalho seja um pouco diferente da maioria das pessoas.
“Tenho vários tipos de dia. Normalmente, começa sempre às 7 da manhã que é quando vou passear o meu cão-d’água, a Corky. Se estiver a trabalhar no Algarve, ela vai comigo. Vou trabalhar para a fábrica, vou para a Pelcor, tenho a hora de almoço da uma às duas, às vezes só meia hora, durante a tarde também estou por lá e tento sair sempre por volta das 18h para ir outra vez com ela passear”, descreve. Depois vai ao ginásio, vai fazer coisas que gosta, volta a casa, come qualquer coisa e por volta das oito, nove da noite recomeça o
trabalho. “Porquê? Porque os Estados Unidos estão acordados, a Ásia está acordada e eu tenho de ficar acordada. A seguir deito-me e tento sempre dormir entre seis a oito horas.”
No meio desta rotina, há momentos que a Sandra não prescinde. “Quando chego a casa depois do trabalho é o meu tempo. Ou vou ao ginásio, ou vou ver o pôr-do-sol, ou vou caminhar com a Corky. É o meu momento de ‘recarregar baterias’. Depois janto e faço a minha meditação. Tento sempre em casa ter 20 minutos para fazer a minha meditação, o meu reiki. O importante é, esteja eu onde estiver, tenho de ter sempre tempo para mim,
todos os dias. Bastam 15 a 20 minutos… é aí que consigo o meu equilíbrio, o meu conciliar, a partir daí já estou pronta.” Este é, apenas, um dos seus segredos do sucesso. Mas há mais.
“Tenho um objetivo, tenho uma estratégia, tenho tudo planeado de determinada forma, mas se por qualquer razão não acontece como estava previsto, entrego ao universo e adeus. Não me vou chatear. Se não foi, é porque não tinha de ser. Não me quero chatear. Passa, fazemos outra coisa, marcamos outra hora e outra data. Saber aceitar aquilo que a vida me dá no meu dia-a-dia é a melhor forma para poder resolver tudo de cabeça de fora”, diz. Mas o principal segredo não é nenhuma receita de génio, mas mesmo assim é, talvez, para muitas mulheres difícil de pôr em prática. ”Divirto-me a trabalhar,acho que o segredo do sucesso é gostarmos daquilo que fazemos, estarmos felizes com aquilo que fazemos, por que por mais cansaço que possamos ter, por mais que o dia-a-dia seja complicado, se não fizermos o que gostamos, torna-se tudo ainda mais complicado. Estar feliz no trabalho é o segredo do sucesso, é o que nos dá vida.”
Num mundo essencialmente de homens, Sandra, hoje com 44 anos, não sentiu na pele o peso de ser mulher, sentiu mais o peso de ter começado jovem a trabalhar num meio onde a média de idades era de 60, 70 anos. “Eu tinha 24, 25 anos quando comecei a participar em reuniões e em encontros ligados à cortiça. Olhavam para mim com aquele ar de ‘o que é que ela anda aqui a fazer?’, mas acho que ao mesmo tempo, por eu ser muito humilde – não gosto de me impor e ali eu sabia que não me podia impor – fui aprendendo a gerir isso.”
Divertida, Sandra recorda uma história curiosa que se passou consigo num universo de pessoas mais velhas e quase todas do sexo masculino. “Há um senhor da indústria que era um cliente nosso, o senhor António de Almeida, e houve um colaborador nosso que me disse: ‘com este senhor ninguém consegue negociar. Ele é um senhor maior da indústria e ele sabe muito.’ E eu disse: ‘ai não?’ Fui e fechei o negócio com o senhor. Quando vim para trás ficou tudo espantado como é que eu com 20 e poucos anos tinha feito aquele negócio. Hoje, ele é um dos meus melhores amigos, um segundo pai para mim”, descreve.
Para Sandra, hoje em dia já não se sente tanto a discriminação contra as mulheres, o espaço da mulher começa a aumentar e é natural que isso venha a acontecer cada vez mais. “A discriminação existe, mas sinceramente nunca me senti discriminada por ser mulher. Se calhar, ser mulher num mundo de homens até acabou por ser uma vantagem para mim.“
A dirigir uma empresa com mais de 50 funcionários, a “cereja do topo do bolo” que é a vida de Sandra Correia surgiu em 2011. A sua carreira “a solo” tinha começado há apenas oito anos quando recebe um telefonema do representante português do Parlamento Europeu direcionado para o Empreendedorismo, Igualdade e Direitos Humanos. Era uma das candidatas portuguesas ao Prémio Melhor Empresária da Europa. Entre as três portuguesas foi a escolhida e a surpresa aconteceu quando numa conferência em Paris, onde ia
ser entregue o prémio ao nível europeu, ouviu o seu nome.
“Não estava à espera. Acho que não tinha feito assim tanta coisa para me darem aquele prémio. Hoje, se calhar, acho que já mereço, mas porque já fiz muitas mais coisas. O prémio foi muito bom, foi gratificante não só para mim, mas para a Pelcor, para a cortiça e para Portugal. Causou um grande impacto cá e lá fora.” Esse galardão acabou por lhe abrir muitas portas e representa o reconhecimento não só do trabalho de Sandra, mas também de toda a sua equipa.
Texto: Mónica Menezes; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia; Cabelo e Maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Kioma e L’Oréal Professionnel
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