O corpo do pequeno Julen, a criança que perdeu a vida depois de caír num poço em Málaga, Espanha, foi retirado do local por Nicolás Rando, um profissional em resgates de montanha. O espanhol faz parte do Grupo de Resgate de Intervenção de Montanha da Guarda Civil espanhola e está treinado para as situações mais difíceis. No entanto, nunca esquecerá os 13 dias em que tentou, juntamente com o resto da equipa, salvar o menino de dois anos.
Nico, como todos o conhecem, foi entrevistado pelo Diario Sur e falou sobre a tragédia. Quando um bombeiro amigo lhe ligou, pouco depois das duas da tarde, do passado dia 13 de janeiro, «estava de folga, com a família». «Contou-me que um menino tinha caído num poço de 25 centímetros de diâmetro em Totalán e que não sabiam o que fazer. Queria saber se tínhamos alguma ideia», começa por revelar. Entretanto ligou para os chefes, que já se encontravam a caminho do local, e ofereceu-se para ajudar. «Espera. Quando chegarmos verificamos», responderam-lhe.
Por volta das 19 horas desse mesmo domingo, devolveram-lhe a chamada. «Vem amanhã, que isto vai demorar muito tempo», disseram-lhe. Assim fez e por lá ficou até ao último sábado, 26 de janeiro, dia em que finalmente conseguiram encontrar o menino, já sem vida. Recorde-se que o resultado da autópsia confirmou que Julen morreu no próprio dia da queda, devido ao forte impacto.
Nos primeiros dias, a equipa de resgate estava preocupada essencialmente em retirar o tampão de areia húmida, detetado pelas câmaras a 71 metros de profundidade e que estaria, certamente, por cima da criança.
No entanto, «surgiu um grande problema»: a mangueira rompeu-se e ficou presa com a câmara dentro. «Cada vez que aparecia um problema, perdíamos muito tempo em solucioná-lo. Era dececionante», conta, revelando ainda que só com este contratempo perderam cerca de 36 horas.
«Nunca foi feito em Espanha»
Com os problemas a surgirem, os mineiros e os especialistas tinham que verificar outras opções e os diâmetros das infraestruturas que se iam criar para o resgate. «A verdade é que nunca se tinha feito um buraco com estas dimensões em Espanha. Nunca ninguém fez algo assim», revela.
O tempo foi passando e lá conseguiram encaixar a cápsula no poço. Foi então que começou a manobra de descida e o pensamento era só um: «Dali não saímos até encontrarmos Julen», relembra.
«Eu desci depois da segunda detonação, na terceira ou quarta descida. É uma sensação estranha, descer por um cano de ferro. Já entrei em buracos mais apertados e claustrofóbicos, mas aquele…», confessa.
À medida que iam descendo, «deram uns golpes no tubo do menino». «O meu colega colocou uma câmara no buraco que abrimos e ele viu a criança», conta.
«Tocou-me a mim»
Foi Nicolás que transportou o corpo de Julen para cima. «Tocou-me a mim. A partir daí, tive sentimentos mistos. Um certo alívio por ter terminado o trabalho. Mas enfurecido com o resultado. Movemos terra que dava para parar sete aviões, conseguimos alcançá-lo e retirámo-lo. Não estava vivo, isso é o pior.» No entanto, o perito em resgates confessa que o facto de ter sabido entretanto que Julen morreu no dia da queda e não por ter ficado demasiado tempo à espera de ser salvado, o consola.
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Texto: Redação WIN/Conteúdos Digitais; Fotos: DR e Reprodução Instagram
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