Afastada do pequeno ecrã há vários anos, Raquel Henriques quebrou o silêncio sobre as razões de tal afastamento. A atriz e apresentadora, que se reconverteu no mundo do fitness, alega que a falta de convites em televisão se deveram aos vários episódios de assédio sexual que diz nunca ter cedido.
“Neste momento não estou a trabalhar em televisão devido aos assédios que passei”, começou por explanar Raquel Henriques, no âmbito do programa da TVI “Goucha”, emitido esta quarta-feira, 5 de maio, que abordou o tema do assédio sexual. Bárbara Guevara, Inês Simões e Miriam Andrade marcaram presença em estúdio. A instrutora de fitness gravou o seu testemunho em vídeo.
“A minha primeira situação.. foi logo no início, na primeira telenovela que eu fiz. Esta pessoa tinha obviamente um cargo bem superior ao meu. Eu era apenas uma atriz em início de carreira”, explicou Raquel Henriques, detalhando ainda a influência que o indivíduo mantinha no meio onde a atriz se movimentava: “Esta pessoa dirigia dirigia isto tudo. Esta pessoa é que tomava conta disto”.
Raquel Henriques pediu ajuda: “As pessoas não se quiseram meter”
Seguiram-se as primeira tentativas. “Começou a engraçar comigo e começou a tentar… tentou mesmo ter uma abordagem um pouquinho diferente. Foi tentando, foi tentando… ao perceber que eu não estava a dar a resposta que ele gostaria, ele entrou num campo mais agressivo. Fechou-me numa sala de atores e tentou mesmo, de forma física, a aproximação e… tentou algo. Claro que não lhe dei a mínima hipótese. Ele não gostou daquilo – como nenhum deles gosta – e disse-me mesmo: ‘enquanto que eu aqui estiver tu nunca mais vais fazer televisão'”.
Raquel Henriques afirma ter “pedido ajuda aos colegas”, porque não queria perder a oportunidade de viver o seu “sonho”, contudo a atriz não recebeu nenhum apoio. “As pessoas não se quiseram meter. Tive de continuar a trabalhar com essa pessoa até ao fim da produção. Não foi uma pessoa fácil de lidar. Ele fazia questão de me massacrar psicologicamente. Lembro-me de ter tido dias que tive de entrar em cena com vontade de chorar, por causa da pressão que eu levava e das bocas que ele mandava […] e mesmo da maldade que ele tinha. Fiquei mesmo, de facto, sem trabalhar lá”
Episódios de assédio repetiu-se noutro canal
A atriz aceitou um projeto destinado a um outro canal e as situações de assédio sexual voltaram a repetir-se, segundo a própria. “Fui para outro canal de televisão que começou bem também. Até que, entretanto, alguém também [com cargo hierárquico] bastante superior […] se lembrou de entrar num registo diferente comigo”. As abordagens começaram com “muitas mensagens”, “oferta de trabalho”. “A pressão começou a ser muita, muita, muita… não cedi aos jantares ou a um fim de semana ou uma noite… geralmente é assim. E eu não cedi e fiquei sem trabalho”, narra.
Raquel Henriques afirma que naquela altura sentiu-se impotente face às situações que se viu confrontada. “Aquilo que tu podes fazer, naquela altura, é nada. Por onde quer que te vires, não sabes o que fazer. Não há provas físicas, porque não há agressão […]”, afiança, garantindo ainda que estas situações mudaram “completamente” a sua “vida profissional”. “Tive que encontrar planos B, planos C”. A intérprete, de 43 anos, garante que durante o processo nunca abdicou dos seus valores em detrimento das âmbições profissionais. “Há o meu sonho, mas há a minha dignidade também.”
A também influenciadora digital assegura ter consciência que dificilmente voltará ao mundo da televisão, porque “as pessoas continuam lá”. “Saltam de um canal para o outro, mas a realidade é que estão lá e eles não se esquecem de quem lhes disse quem não.”
“Tenho alguma dificuldade em confiar nos homens neste momento”
Perante as situações de alegado assédio, Raquel Henriques chegou a culpabilizar-se. “Tive momentos em que achei que o problema era meu. Começas a deixar de ser tu. E o que é que começas a fazer? Começas a tapar-te um pouco mais, a fazer tudo o que podes para não seres tão atraente aos olhos das outras pessoas”, disse, acrescentando ainda que “a médio e longo prazo” as vítimas deste tipo de assédio sentem-se “muito diminuídas”. “Afeta em todos os sentidos: a nível pessoal, íntimo… tudo […], porque ficas descrente, não é?.”
Desde que se viu confrontada com este tipo de situações, Raquel Henriques admite ter “alguma dificuldade em confiar nos homens”, sobretudo “com poder”. “A parte masculina associamos a um pai – que é aquilo que uma pessoa traz de criança – e depois quando tu lidas com homens, que alguns deles também são pais e fazem estas coisas, tu deixas de confiar um pouco nos homens. Sim, eu tenho alguma dificuldade em confiar nos homens neste momento. Em homens com poder.”
“Estes homens – e mulheres também – não têm mesmo noção do que podem causar na vida das outras pessoas. Não só a nível de trabalho, mas também a nível psicológico, porque afeta”, conclui.
Texto: Alexandre Oliveira Vaz; Fotos: Redes Sociais
Siga a Revista VIP no Instagram