A rainha Isabel II morreu nesta quinta-feira, 8 de setembro, depois de 70 anos no trono de Inglaterra. A monarca, de 96 anos, foi a soberana que mais anos esteve à frente da Coroa, mas a verdade é que, quando nasceu, nada fazia prever que um dia viria a ser rainha.
Isabel II tinha apenas 25 anos quando subiu ao trono de Inglaterra. A monarca assumiu este papel depois da morte do seu pai, Jorge VI, em 1952, devido a várias complicações de saúde. A monarca estava no Quénia quando o rei morreu e regressou a ‘casa’ como rainha do seu País.
Mas a mãe do príncipe Carlos poderia nunca ter sido rainha de Inglaterra se o seu tio, Eduardo VIII, não tivesse abdicado. Eduardo era o filho mais velho de Jorge V e, por isso, o herdeiro à Coroa de Inglaterra.
Depois da morte do seu pai, Eduardo VIII foi proclamado rei, no início de 1936. Conhecido por ser mulherengo e impaciente com os protocolos da família real, o tio de Isabel II criou uma verdadeira crise constitucional quando, poucos meses após ser proclamado rei, pediu em casamento a socialite Wallis Simpson, que já se tinha divorciado duas vezes. Os primeiros-ministros do Reino Unido opuseram-se ao casamento, argumentando que os subditos nunca aceitariam como rainha uma mulher com dois ex-maridos.
Eduardo VIII não quis pôr um ponto final no seu relacionamento com Wallis Simpson e acabou por abdicar do trono, sendo sucecido pelo seu irmão mais novo, o rei Jorge VI, o pai da rainha Isabel II.
O pai da rainha Isabel II foi rei durante 15 anos
Jorge VI foi rei de Inglaterra durante 15 anos. Em 1952, acabou por falecer e a rainha Isabel II, que tinha apenas 25 anos, viu-se obrigada a assumir o ‘fardo’ do pai, uma vez que era a sua filha mais velha.
A rainha, que não permitiu que fossem tiradas fotografias no dia do seu casamento, também não queria que a sua coroação, a 2 de junho de 1953, fosse transmitida pela televisão. No entanto, a Casa Real ‘negociou’ algumas condições com Isabel II e havia câmaras apenas numa parte da Abadia de Westminster. Além disso, não podiam ser feitos planos próximos do rosto da monarca.
Mas a importância de Elizabeth no seio da família real antecede a sua ascensão ao trono. Antes de ser rainha, Isabel II serviu o exército na Segunda Guerra Mundial. Foi aí que aprendeu a conduzir e fez o curso de mecânica. A rainha Isabel II nunca frequentou a escola, como é hábito acontecer com os herdeiros da família real britânica. A monarca teve aulas em casa com o reitor do Eton College, Henry Marten, e com o arcebispo Canterbury. Isabel II foi ainda acompanhada pela sua ama Marion Crawford, que foi “expulsa” da Casa Real depois de escrever um livro revelador sobre as filhas do rei Jorge VI, sem a permissão da realeza.
O casamento com o primo em terceiro grau
Em 1947, Isabel II casou-se com o príncipe Filipe, que na verdade era seu primo em terceiro grau. O duque de Edimburgo, que morreu a 9 de abril de 2021, aos 99 anos, e a rainha de Inglaterra partilham os mesmos tetravós: a rainha Victoria e o príncipe Albert.
Dos primeiros dias como uma jovem monarca glamorosa com tiaras brilhantes até ao papel mais recente de “avó” dos britânicos, a rainha Isabel II acompanhou, ao longo das últimas sete décadas, várias crises como o fim do Império Britânico, as greves dos anos 1980, o conflito na Irlanda do Norte, ataques terroristas, o ‘Brexit’ (processo da saída do Reino Unido da União Europeia) e a pandemia de covid-19.
Atentados e invasões: rainha Isabel II viu a sua vida “ameaçada”
A monarca chegou a ver a sua vida “ameaçada”. Durante o aniversário da rainha Isabel II, no Trooping the Colour, em 1981, a monarca liderava uma procissão a cavalo, em direção ao Palácio de Buckingham, quando um jovem disparou vários tiros com o intuito de atingir a mulher do príncipe Filipe. Felizmente, o jovem, de 17 anos, não conseguiu atingir a rainha de Inglaterra.
Um ano depois do atentado, a 9 de julho de 1982, um homem invadiu o quarto da rainha Isabel II. Michael Fagen conseguiu saltar os muros de arame farpado, subiu um cano de esgoto e entrou no quarto da monarca. Acabou por ser detido pelos guardas reais sem ter tido tempo para conversar com Isabel II.
As crises e os dramas familiares
Isabel II também enfrentou várias crises familiares. A primeira e mais marcante foi o casamento polémico do seu filho mais velho, o príncipe Carlos, com a princesa Diana. O herdeiro da Coroa de Inglaterra admitiu, publicamente, que tinha sido infiel para com a mãe dos seus filhos, William e Harry, e assumiu-se apaixonado por Camilla Parker Bowles, com quem é atualmente casado.
Os súbditos ficaram do ‘lado’ de lady Di, mais conhecida por “a princesa do Povo”, e a realeza enfrentou uma crise de popularidade que se agravou quando em 1997 a princesa Diana morreu num trágico acidente de viação, em Paris. Na altura, a Casa Real foi acusada pelos súbditos de orquestrar a morte de lady Di.
Além do príncipe Carlos, também o príncipe André e a princesa Ana se divorciaram dos respetivos companheiros. O príncipe Eduardo é o único filho da rainha Isabel II que não se divorciou da primeira mulher.
Mais recentemente, Isabel II viu-se obrigada a gerir outras duas polémicas: a saída do príncipe Harry e de Meghan Markle da Casa Real e o envolvimento do príncipe André no escândalo sexual e financeiro do ‘Caso Epstein’. A monarca retirou os títulos reais aos duques de Sussex e os títulos militares ao seu filho.
A morte do marido, Filipe de Edimburgo, depois de 74 anos de casamento
Em 2021, a rainha Isabel II sofreu a sua maior perda. O príncipe Filipe, com quem foi casada durante 74 anos, morreu, aos 99 anos. O duque de Edimburgo e a monarca tinham uma relação muito cúmplice e próxima. Um ano após a morte do seu marido, Isabel II organizou uma cerimónia em sua homenagem e foi uma das poucas vezes em que a monarca se emocionou em público.
Nascida a 21 de abril de 1926, e para além de Elizabeth Alexandra Mary celebrar o seu aniversário nessa data, também o celebra entre maio e junho, no Trooping the Colour, o aniversário oficial da monarca, reconhecido pela Coroa, que ocorre sempre a um sábado. É a monarca mais velha da história da realeza britânica. Isabel II aproxima-se, também, do recorde do maior reinado de sempre exercido por Luis IV, em França, por mais de 72 anos.
Ao longo destes 70 anos, a rainha de Inglaterra fez mais de 250 viagens oficiais, tendo visitado 116 países, incluindo Portugal. Conheceu centenas de presidentes e primeiros-ministros. Desde que subiu ao trono, o Reino Unido já teve 14 primeiros-ministros, os Estados Unidos 13 Presidentes e o Vaticano sete Papas. Apesar das muitas mudanças e de diversas crises, a monarca tem sido um símbolo de estabilidade, representando os interesses do Reino Unido no estrangeiro e mantendo-se acima da política interna.
Isabel II foi a monarca mais popular do mundo… e tem redes sociais oficiais. A rainha entrou no Twitter em julho de 2009, sob o nome de @royalfamily. O primeiro tweet foi escrito pela mesma, mas atualmente a página é gerida por uma equipa especial da confiança da monarca.
O protocolo do funeral da rainha de Inglaterra
Os pormenores de tudo o que vai acontecer depois da morte da rainha Isabel II deviam estar em segredo, mas o protocolo foi revelado o ano passado. O primeiro-ministro será informado da morte da rainha Isabel II pelo cortesão mais graduado do Palácio de Buckingham e usará a expressão: “A ponte de Londres caiu”. Todos os ministros e políticos serão informados e, 10 minutos depois, as bandeiras dos edifícios do Governo serão colocadas a meia-haste. O Parlamento será suspenso.
A notícia será dada aos britânicos através de uma página negra publicada no site da Família real, tal como aconteceu aquando da morte do príncipe Filipe. O príncipe Carlos será decretado rei no dia a seguir à morte da rainha Isabel II e o funeral de Estado será realizado 10 dias depois.
Depois de ser coroado, o novo rei, o príncipe Carlos, terá uma audiência com o primeiro-ministro às 18 horas. Depois, partirá em excursão pelo país para estar junto dos britânicos neste momento de dor. O dia da morte da monarca ficará conhecido como o Dia D e, no dia do funeral da rainha Isabel II, haverá um velório e os britânicos poderão despedir-se da monarca.
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Texto: Mafalda Mourão; Fotos: Reuters
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