Nasceu Ivone, mas sentia-se um homem num corpo de mulher. C omo tal, mudou de sexo, passando a chamar-se Lourenço Ferreira. Este foi o segredo que levou para a Casa dos Segredos, na esperança de mudar mentalidades e ajudar quem esteja a passar pelo que já passou.
VIP – O tempo que esteve dentro da Casa correspondeu ao que esperava?
Lourenço Ferreira – Não estava à espera de passar tanto tempo lá dentro. Mas correu bem. Não estava à espera de gostar tanto de lá estar.
Repetia a experiência?
Não sei. Ainda não sei responder a isso. Mas guardo boas memórias do tempo que lá passei.
O que motivou a sua inscrição?
Começou por ser uma brincadeira. Quando comecei a ver que era algo sério pretendi mostrar a algumas pessoas específicas que sou uma pessoa normal. Depois, tornou-se algo mais forte e comecei a querer aproveitar para abrir certas mentalidades e poder ajudar pessoas que estão ou estiveram na mesma situação do que eu.
A sua história foi uma motivação para participar, de modo a ser um exemplo para alguém que esteja a passar pelo que passou?
As pessoas podem falar comigo sempre que quiserem. Para entrar tive que ter o acordo das pessoas que me rodeiam. Como é o caso dos meus pais, do meu irmão e das pessoas que são importantes para mim. Ao expor-me sabia que eles seriam expostos. Participei com vontade própria. Se ajudar alguém que esteja no lugar que já estive ótimo. Se estivesse a pensar na exposição estaria a pensar de forma errada.
Tinha receio de sair do programa com uma imagem negativa?
Claro. Fui de pé atrás para o programa. Acho que me arrependi assim que coloquei um pé dentro da casa. Pensei que não devia ter feito isto. Depois este sentimento passou e acredito que tudo acontece por um motivo. Acho que tinha mesmo de ir. E agora vamos ver o que aí vem.
Existe a ideia de que as pessoas que passam pelo mesmo que passou são pessoas com histórias de vida de abandono e falta de amor.
É verdade. Normalmente associa-se ao abandono da família, prostituição e outros caminhos mais negros. É lógico que há casos destes, por falta de informação e de apoio de quem rodeia essas pessoas, mas nem todos são assim. Acho que posso dizer que sou exemplo para qualquer pessoa. E digo isto porque tive pessoas extraordinárias ao meu lado, como é o caso dos meus pais.
É olhado de lado ou a mentalidade das pessoas já mudou?
Seria hipócrita se dissesse que não. Não revelo o meu segredo e tudo muda. Se calhar consegui mudar algumas, mas há sempre quem não aceite tão bem as coisas. Há pessoas que criticam, mas isso nunca me preocupou e não irá preocupar agora.
O que queria que acontecesse agora?
Ainda não pensei nisso porque não me inscrevi com o objetivo de ser ator ou cantor. Até porque não tenho jeito nenhum para essas áreas (risos). Quis mudar mentalidades e ajudar quem está no meu caso. De resto, ainda não pensei nisso. E até pode não me trazer nada.
Mas tem planos para o que vai fazer?
Quero voltar a estudar. Vou inscrever-me na universidade no curso de Psicologia. É isso que quero fazer e isso não irá mudar. O programa não muda nada.
Texto: Bruno Seruca; Fotos: Bruno Peres; Produção: Nucha; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybeline e L’Óreal Professionnel
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