Ana Garcia Martins, do blogue A Pipoca Mais Doce abriu o coração à VIP e falou dos seus projetos profissionais, do filho Mateus, de dois anos, da sua paixão pela corrida e da perda do irmão há 16 anos que a marcou para sempre.
VIP – O que a levou há mais de 12 anos a investir num blogue?
Ana Garcia Martins – Coincidiu na altura em que acabei o curso e comecei a trabalhar como jornalista para um jornal. Tirei este curso porque gostava de escrever, não para andar atrás da notícia, investigar. Gostava mesmo era de escrever. Mas rapidamente percebi, quando cheguei a um jornal, que não podia escrever da forma que queria, nem sobre o que queria por causa de todas as contingências editoriais que me eram impostas. Nessa altura, os blogues estavam a aparecer em Portugal e achei que era uma boa forma para expressar tudo aquilo que queria e que não tinha espaço no meu trabalho.
Mas com o passar do tempo o blogue foi crescendo…
Sim, comecei a ter cada vez mais leitores e hoje em dia o blogue tem 50 mil leitores diários. O que era inimaginável e tornou-se a minha profissão, o que era impensável quando o criei.
Como surgiu a ideia do nome A Pipoca Mais Doce?
Toda a gente me pergunta isso e já não consigo lembrar-me como surgiu o nome, mas deve ter sido pela minha paixão assumida por pipocas. Não consigo ir ao cinema sem o meu balde de pipocas doces e salgadas misturadas. Achei que era um nome que ficava no ouvido e pegou bem.
Como é o seu dia-a-dia?
Estou 24 horas por dia ligada ao blogue. Com as redes sociais, smartphones, ipads é impossível não estarmos ligados ao mundo. Para um bom post basta estar atenta. E estou sempre atenta. Já fui mais desregrada na forma como trabalhava, mas depois de ter um filho acabei por ter rotinas. Tenho o horário que toda a gente tem. Começo a trabalhar depois de o levar à escola, depois vou buscá-lo lá para as cinco ou seis da tarde e depois dele ir dormir volto a trabalhar. Às vezes dou por mim a trabalhar até às duas ou três da manhã. Se me apetecer ficar um dia em casa com o meu filho posso ficar, mas já sei que no dia seguinte vou ter de trabalhar mais horas.
Acaba por ter mais tempo para o Mateus?
Sim, sem dúvida, porque enquanto jornalista só tinha horário de entrada, não tinha de saída. Agora faço a gestão do meu tempo. Por exemplo, à sexta-feira à tarde tento não marcar nada para
poder ir buscar o Mateus à escola e passar o resto da tarde com ele. Sou uma privilegiada nesse
sentido.
Como é que ele está?
Ele tem dois anos e dois meses e está ótimo. Começou agora a ir para a escola e adaptou-se lindamente.
Com quem é que ele é mais parecido?
Toda a gente diz que é com o pai, mas eu discordo completamente. Olho para ele e não consigo ver parecenças com nenhum dos dois. De facto, vejo fotografias do meu marido com aquela idade e eles são muito parecidos. Mas como o pai está agora, não. No feitio é um miúdo que raramente se chateia com as coisas, está de bem com a vida. Acho que é feliz.
Querem ter mais filhos?
Sim, gostava que o Mateus não fosse filho único, mas a verdade é que quanto mais o tempo vai passado, menos vontade vamos tendo, especialmente agora que o Mateus está mais independente. Pensar em voltar a fazer tudo de novo faz-nos pensar um bocadinho, mas acho que vai acontecer. Não estipulamos prazo. Quando acharmos que é a altura certa, será. Por enquanto, o Mateus ainda é muito pequenino e queremos gozá-lo.
Como começou a correr?
Sempre fui a pessoa mais inapta para tudo o que era desporto. Sempre odiei, arranjava desculpas para não fazer educação física e nunca tive o mínimo jeito, mas obviamente que com o passar dos anos comecei a sentir que a atividade física tinha de estar presente na minha vida, sobretudo depois de ter sido mãe. Foi assim que tudo começou. Oito meses depois de ter sido mãe contratei um personal trainer e disse-lhe que no final do mês queria fazer a corrida de Benfica. Treinei para isso e depois estabeleci outros objetivos. Acho que também ajudou eu ser casada com um “maluco” das corridas. O meu marido é completamente obcecado por corridas. Corre há 20 anos.
Vendeu a sua roupa e conseguiu juntar quase cinco mil euros que vai doar ao IPO. Como surgiu esta ideia?
Lancei esta campanha no início do ano e nessa venda que se chamava “o que é meu, é vosso” pus o meu closet à disposição das leitoras. As peças que já não vestia ou que nunca cheguei a vestir, ou roupa que me davam, etc.. Com essa venda consegui angariar quase cinco mil euros.
Como é que gosta mais de gastar o seu dinheiro?
Já fui mais impulsiva do que sou. Hoje prefiro comprar menos, mas mais peças mais duradouras, de qualidade e intemporais. Perco a cabeça com carteiras. A moda muda tão rapidamente que não vale a pena investir muito dinheiro em peças que daqui a três meses já não achamos graça. Vale a pena investir em básicos duráveis que sei que nunca vão passar de moda. O que me faz gastar mais dinheiro são as viagens, mas acho que são um ótimo investimento. Costumo dizer que trabalho para poder viajar.
Se tivesse de eleger o melhor momento da sua vida. Qual é que elegeria?
Inegavelmente que o nascimento do meu filho foi o mais importante da minha vida, mas depois
tenho outras coisas que já me fizeram muito feliz, como o dia do meu casamento, o lançamento do meu primeiro livro e ver o Benfica campeão. Sou uma pessoa feliz e agradecida.
E o pior? Qual foi o acontecimento que mais a marcou?
Sem dúvida a morte do meu irmão. Eu tinha 18 anos e ele 22. Morreu num acidente de automóvel. Não haverá nada pior. Pela idade com que morreu, por ser uma pessoa tão nova, por ser um acidente de viação. É uma coisa que não se esquece, fica marcada para sempre.
Como viveu esse momento, essa fase posterior?
Primeiro foi o choque e a descrença. Como é que se acredita que uma pessoa que estava tão bem de repente tem um acidente de carro e acaba tudo ali, com 22 anos, com a vida toda pela frente… Nunca mais me vou esquecer do momento em que o telefone tocou de madrugada e recebemos a notícia. Nem com o passar do tempo vou esquecer. Lembro-me do meu irmão muito frequentemente, apesar de já se terem passado 16 anos. Depois há o outro lado, que é a responsabilidade com que eu passei a viver a partir daí porque os meus pais já tinham perdido um filho e não podiam perder-me. Passei a ser filha única. Sempre fui responsável e nunca lhes dei muitas preocupações, mas a partir daí passei a viver com muito medo que me acontecesse alguma coisa. Não por mim, mas pelos meus pais porque sabia que eles não suportariam passar por outro desgosto daqueles. Vi como o processo todo os marcou. A mim custou-me que era irmã, então a eles… Não sei como é que um pai sobrevive a uma cois destas.
Texto: Carla Vidal Dias; Fotos: Impala
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