Pedro Mourinho foi um dos enviados especiais da TVI à Ucrânia para fazer a cobertura da invasão russa àquele país. O jornalista já regressou a Portugal depois de três semanas em cenário de guerra em Kiev, de onde foi aconselhado a sair por questões de segurança, e esteve na quinta-feira, 3 de março, no “Jornal das 8” à conversa com José Alberto Carvalho.
Pedro Mourinho esteve em reportagem com o repórter de imagem Nuno Quá e entrou em direto ainda com a roupa que trouxe da viagem, uma vez que não tinha ido ainda a casa. “Acho que ninguém acreditava que a guerra ia começar, os ucranianos não acreditavam, nós jornalistas tínhamos sempre aquela crença profunda de que o conflito não iria ter início (…) e quando começa é essa incredulidade que toma conta de nós, que toma conta dos ucrânianos”, começou por dizer.
O jornalista revelou ainda que soube do início da guerra por Paulo Fonseca. “Os hotéis são insonorizados e não nos permitia acordar para o que estava a acontecer. A primeira pessa que me liga é o Paulo Fonseca, o treinador de futebol. Nós tinhamos estado a almoçar nesse dia em Kiev, em que a vida ainda era normal. E naquela hora tudo muda”, contou, de semblante carregado, para a seguir contar o que sentiu ao ouvir as sirenes.
“Apanhámos um táxi, num caos de pessoas a tentar fugir de casa, eram 05.00 da manhã em Kiev. O taxista não acreditava no que estava acontecer e assim que chegámos ao primeiro direto foi quando ouvimos pela primeira vez as sirenes e é um som, que por muitas vezes que toque, não te deixa habituado àquele som. É um som que te arrepia sempre. E a seguir esperas pelo barulho dos rebentamentos sem saber onde é que vão cair os mísseis ou a artilharia pesada. E é isso que nos deixa em sobressalto”, disse Pedro Mourinho.
O jornalista revelou ainda qual foi um dos piores momentos que presenciou. “A segunda noite foi a pior. Nós estavamos a dormir num hotel, no centro de Kiev. Nessa noite, durante uma hora, na avenida Vitória, como é conhecida, houve uma troca de tiros, porque houve uma brigada russa que conseguiu entrar na cidade, mas pouco numerosa. Na manhã seguinte, e eu o Nuno Quá fomos buscar os nossos coletes à prova de bala e disseram-nos que podia haver snipers naquela avenida. E, é neste ambiente que Kiev vive hoje em dia, barreiras, barricadas… É uma cidade completamente transformada”, contou, para explicar depois que teve de abandonar Kiev à pressa por questões de segurança e que partiu para uma viagem que durou perto de 20 horas para sair da Ucrânia: “Em para/arranca, optámos por estradas secundárias para evitar colunas dos russos.”
Pedro Mourinho veio outra pessoa da Ucrânia
José Alberto Carvalho quis perceber se tudo o que o jornalista viveu, viu e presenciou o mudou como pessoa. Pedro Mourinho assumiu que também ele veio um homem diferente. “Mudamos sempre neste tipo de cenários. Acho que nos tornamos melhores pessoas, como é óbvio, porque nos deparamos com situações extremas em que a vida é posta em causa e ao mesmo tempo observamos que os ucranianos estão muito unidos na defesa do país. Eu não sei se alguma guerra tem paralelo com esta a esse nível, pelo menos nos tempos modernos, quando se vê uma população inteira disposta a lutar pela vida para defender o país”, disse.
“Eu acho que quem irá sofrer mais, se a Rússia conseguir tomar a Ucrânia para ela, serão sempre as gerações mais novas. Eu acho que os ucranianos estão a lutar pelas crianças e pelos seus jovens, porque querem, de facto, ser um país onde a democracia vai saber construir um futuro importante para aquelas pessoas”, sublinhou ainda Pedro Mourinho.
Veja aqui a entrevista completa.
Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Cedidas pela TVI e Impala
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