Pedro Mourinho foi um dos enviados especiais da TVI e CNN Portugal à Ucrânia para fazer a cobertura da invasão russa àquele país. O jornalista regressou a Portugal depois de três semanas em Kiev, onde foi aconselhado a sair por questões de segurança. Nesta quarta-feira, 9 de março, o comunicador esteve no programa “Goucha” e descreveu o cenário de guerra.
“Eu e o Nuno saímos (de Kiev) porque basicamente foi-nos imposto por uma questão de segurança pela nossa direção. Queríamos ter continuado a trabalhar”, contou a Cristina Ferreira, que tem substituído Manuel Luís Goucha desde segunda-feira, depois de o apresentador ter testado positivo para a Covid-19.
Pedro Mourinho considera muito duro o trabalho de um jornalista neste cenário de guerra. Um trabalho de missão, que segundo o próprio, considera fundamental. “Ser os olhos do mundo, os olhos do país e de contar aquilo que se passa”, descreveu.
Ao longo da conversa, o jornalista explica que muitas das vezes é impossível ser insensível a imagens duras como as que viu em Kiev. Contudo, salienta que é necessário controlar as emoções. “É difícil”, recordou.
Já em Portugal, foram muitos aqueles que demonstraram a sua preocupação com Pedro Mourinho.”As pessoas estão muito preocupadas se venho tranquilo, de alguma forma normal, se fui muito afetado por aquilo que vi É obvio que aquilo mexe contigo mas não considero que tenha ficado desequilibrado. Acho que me tornei melhor pessoa. Os problemas do dia a dia deixam de ser problemas quando tu te deparas com aquelas situações”, explicou.
“Não se volta igual, isso é uma certeza”, frisou Cristina Ferreira. “Não, não se volta igual, volta-se melhor, mais sensível, talvez…”, continuou Pedro Mourinho.
Nesta conversa, o enviado especial referiu que a sua partida para Kiev o apanhou de surpresa. “Foi um pouco em cima da hora, ainda estive umas horas a refletir. Tinha coisas da minha vida pessoal para resolver…”, contou. “A ideia com que eu fiquei, que toda a gente tinha, era que não se iria passar nada, não iria colidir nenhuma espécie de conflito”, acrescentou ainda.
O jornalista revela ainda que soube do início da guerra por Paulo Fonseca. “Qual é a tua primeira reação?”, perguntou Cristina Ferreira. “Trabalhar”, respondeu.
“A partir daí o que é que se espera?” questionou ainda a apresentadora. “Não se sabe muito bem, começas a ler notícias, a tentar perceber o que se passa no terreno. Naquela manhã não sabíamos o que podia acontecer”, referiu Pedro Mourinho.
O vídeo partilhado por Cristina Ferreira
Nesta terça-feira, Cristina Ferreira partilhou um pequeno vídeo de uma reportagem de Pedro Mourinho. E legendou: “No dia eu que vi este direto do Pedro mandei-lhe uma mensagem só a dizer: ‘Cuida-te. Protege-te. Estou aqui’. A cara denunciava o medo. O som das sirenes é avassalador.”
Perante a descrição, Pedro explicou em direto o que sentiu: “Aquilo que eu estou a sentir não é medo, é uma enorme revolta por me aperceber que tinha começado uma guerra que tu sentias como injusta e imoral”. E recordou: “É arrepiante (o som das sirenes). É quase algo tétrico de ouvir.”
“Nunca tiveste medo?”, perguntou Cristina Ferreira. “Há uma noite que eu tenho receio porque começo a ouvir disparos, guerra à porta do meu hotel, fiquei a saber depois que haveria uma unidade muito pequena de soldados russos que teria chegado sozinha ao centro de Kiev e os combates tiveram lugar na avenida principal. Foi uma hora de disparos, rebentamentos e duas passagens de aviões… Achei que aquilo ia ser o momento. Essa foi a noite mais complicada”, disse.
Pedro foi falando com a família. “O meu filho Miguel dizia-me pai tu vê lá, tem cuidado. Às vezes com lágrimas nos olhos. A Carolina, está nos EUA, estava bastante preocupada”, contou.
E apesar da capa de “duro”, houve um momento em que o jornalista quebrou. “Quebrei somente num momento, sozinho. (…) O Nuno Quá vai comprar qualquer coisa à rua e aí eu tenho uns minutos complicados, foram só meus.”
Nuno Quá também entrou na conversa e recordou a sua passagem por Kiev. Os dois trabalharam arduamente e foram poucas as horas de descanso. Ainda assim, segundo Pedro, o trabalho sempre esteve em primeiro lugar. “O teu espírito de missão, aquilo que tens que fazer, informar, dar o melhor de ti, não te deixa andar cansado”, disse.
Texto: Márcia Alves; Fotos: Reprodução Instagram
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