Pedro Lima morreu a 20 de junho de 2020. Quase meio ano depois, o filho João Francisco Lima, de 22 anos, decidiu dar a primeira entrevista a Júlia Pinheiro.
No programa “Júlia”, da SIC, o jovem recordou a vida ao lado do pai… “Tínhamos uma relação muito próxima que ia para além da parentalidade”, começa por contar, dando a conhecer que essa cumplicidade se fez sentir também na fase adulta. “O desporto sempre foi o que nos ligou mais. Levo muito dele o espírito competitivo. Eu e os meus irmãos ficámos todos com o bichinho do desporto”, realça.
Irmãos esses que são quatro. Emma, de 16 anos, Mia, de 13, Max , de 10 e Clara, de quatro anos. Júlia Pinheiro perguntou “como é que era” ter uma família numerosa e João respondeu de imediato. “Não. Como é que é! Como é que é!” E continuou: “É uma dinâmica muito gira e sem dúvida que eu se puder, vou ter a mesma dinâmica com a minha família, eventualmente. Temos personalidades muito diferentes, mas depois nota-se que há ali muita coisa em comum”, realça.
O que mudou em João com a morte de Pedro Lima
Recuperar a vida! Este é o caminho mais difícil a percorrer, mas João Francisco fala abertamente de tudo. Há, sem dúvida, um antes e um depois da morte de Pedro Lima. “Sempre fui uma pessoa bastante organizada e sempre tive a minha vida muito ocupada”, refere o jovem de 22 anos.
E após a morte do pai, o que mudou em João? “Acho que a principal diferença foi que me tornei uma pessoa mais virada para mim, mais preocupado comigo. Comecei a aceder mais ao que eram as minhas necessidades e vontades”, realça. E resume: “Preservo-me mais!”
“A única coisa que posso fazer daqui é aprender com a situação“
Com o apoio de um País inteiro, que João diz continuar a sentir, não se pode esconder que há uma difícil gestão de todos estes sentimentos. “É um choque, um trauma muito forte. Não estou bem, como é óbvio e sinto-me bem em não estar. Isso é uma das coisas que eu faço questão de passar às pessoas que estão à minha volta, para estarmos a ter esta conversa, para falarmos sobre esta questão da saúde mental. E começa por isto. Começa por eu ser coerente com aquilo que estou a passar às outras pessoas. Ter a capacidade de assumir que não estamos bem. Sermos o mais honestos connosco próprios”, realça.
“Estou triste, tenho um sentimento de falta muito grande, saudades, como é óbvio… Isso vou ter sempre. Mas continuo com o foco no sítio certo: tentar fazer o eu caminho (…) A única coisa que posso fazer daqui é aprender com a situação que aconteceu e tentar reagir da melhor forma possível. Isto foi sem dúvida algo que nos traumatizou a todos, mas ainda tenho uma vida pela frente e não posso deixar limitar”, garante.
“Todos estamos a ter consultas com uma psicóloga“
Para além de toda a tristeza que vai dentro de si, João Francisco garante que procura “criar momentos de alegria”. “Tenho momentos em que penso se deveria estar mais triste”, desabafa. E revela: “Estou a ter o acompanhamento. Todos estamos a ter consultas com uma psicóloga. Faço questão de verbalizar esta ação para a normalizar.”
A luta pela normalidade da saúde mental
Com o que aconteceu ao pai, João assume que “a saúde mental precisa de ser falada”. “É o meu único objetivo, porque sinto que em Portugal há uma data de ideias mal construídas sobre isso. As pessoas têm de assumir que estão a passar por essas áreas. Temos muita dificuldade em dizer que não estamos bem .Temos diiculdade em lidar com as nossas dores e também com as dores dos outros”, garante.
O jovem faz ainda uma outra revelação. “Nos últimos tempos sentia que o meu pai não estava bem. Sentia e ele partilhava comigo. Dizia que se sentia triste, preocupado e desanimado”.
Uma marca para a vida
João Francisco tatuou no corpo uma homenagem ao pai, “a última imagem que ele partilhou nas redes, ele a correr para o mar”. Depois da morte do pai, o estudante garante que já foi “ao mar muitas vezes”. “Não digo todos os duas, mas quase”, assegura.
João não tem hora para chorar e garante que o faz “com bastante frequência”. “Já conteceu sonhar com o meu pai, não com muita frequência, mas já aconteceu. Ainda é muito recente, por isso, é um sentimento complicado. Relembro o meu pai sempre com um sorriso. Os momentos que tivemos foram vividos ao máximo e não ficou nada por fazer”, finaliza.
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