João Vaz, pastor que dizia “Tô Xim, é para mim” no mítico anúncio televisivo da antiga Telecel, em 1995, mudou de sexo aos 54 anos e hoje é Maria João Vaz.
Esta segunda-feira, 2 de novembro, foi convidada de Fátima Lopes no programa “A Tarde é Sua“, da TVI, e contou todos os pormenores acerca desta transformação.
Apesar de o processo ter começado em 2018, Maria João explica que «a revelação perante o mundo foi muito recente. Dia 4 de agosto». A atriz sentia-se, desde sempre, desconfortável na pele de homem. «O meu cérebro era feminino», garante.
«Dei sinais quando era pequena, sei que aos cinco anos, na escola, adorava trocar de sapatos com a minha colega do lado. Era uma sensação incrível. Queria mais daquilo. Comecei a perceber que eram factos que se iam sucedendo. Vestia roupas da minha mãe, colocava brincos, maquilhagem, era uma risota pegada», explica. Contudo, passado pouco tempo tudo mudou. Ainda que não se recorde do motivo, houve um momento em que deixou «de fazer isso em público». «Houve qualquer coisa e comecei a fazer isso em privado. Acompanhou-me toda a vida. Nunca ninguém soube», revela.
«Fui sempre uma pessoa muito solitária, não tinha amigos, e depois tive uma namorada, que foi minha mulher e é agora ex-mulher. 50% da minha vida vivi como mulher, às escondidas. Só percebi aquilo que queria dizer em 2018. Tive a minha epifania», acaba por explicar.
Maria João Vaz tem três filhas, fruto do relacionamento com a mulher com a qual se casou. «Estava comprometida com isso, fui um pai muito presente, embora adorasse ter sido mãe, apesar disso ainda não ser possível», acrescenta. «Encontrei-me graças a uma namorada que eu tive depois. Ajudou-me. Orgulho-me de estar a gerir esta situação, mesmo comigo própria.»
A relação com as três filhas
Apesar de se sentir refém de um corpo com o qual não se identificava desde muito nova, Maria João Vaz só mudou de vida na primavera de 2019. Fátima Lopes acabou por questionar a convidada acerca da reação das filhas, hoje adultas.
«Sinto que é muito difícil para elas, elas fazem um esforço muito grande. São muito próximas de mim, elas são muito bem educadas», diz.
A apresentadora do vespertino da estação de Queluz de Baixo quis saber mais: «Hoje, quando olhas para o espelho, vês quem?» Maria João não tem dúvidas: «Quando vejo fotografias minhas, antigas, aquilo é muito esquisito. Parece uma pessoa mais velha do que eu, de alguém que já não está cá. Eu, Maria João, existia ali em baixo, quando ninguém me estava a ver. Agora é que sou verdadeira.»
Apesar de se sentir apoiada por parte da família e dos amigos, a atriz pensa que continuam a ter «sempre esperança de que volte tudo a ser como era. Era tudo mais prático.»
Maria João sentiu-se compreendida por completo quando conheceu uma mulher transsexual. «Foi um dos melhores dias da minha vida», acaba por confidenciar. «A pessoa tem a noção da absoluta identificação. Percebo exatamente o que ela está a dizer, nem com psicólogos ou psiquiatras. Não sinto um efectivo apoio, estão-me a avaliar, se eu tenho capacidade para eu ser o que sou. Faz-me confusão.»
Atriz de profissão, Maria João lamenta o facto de ter ficado conhecida como o rosto «dos anúncios» e nunca lhe ter sido dada a oportunidade de ser protagonista num filme ou numa peça de teatro.
O sonho de trabalhar na área da representação mantém-se, mas, apesar de continuar a candidatar-se a castings, confessa que a oportunidade ainda não surgiu. «Tenho tido um bom feedback», remata, de sorriso no rosto.
Texto: Joana Dantas Rebelo, Fotos: D.R. e Divulgação TVI
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