Participou na primeira grande novela de produção angolana, Windeck, que está agora a ser retransmitida pela RTP . Aos 27 anos, Marta Faial aposta no mercado africano, onde tem as suas raízes. Afinal, é filha de Ana Marta Faial, a modelo angolana que hoje vive entre Lisboa e Benguela, a sua cidade natal.
Decidida, para ser atriz vai até onde for preciso. A viver com o também ator Ian Velloza, com quem namora há cerca de quatro anos, sabe que quer ser mãe, mas antes tem de investir no percurso profissional.
VIP – Como correu a primeira experiência de trabalho em Angola, na novela Windeck?
Marta Faial – As gravações terminaram há alguns meses. Os estúdios foram filmados cá e os exteriores em Angola, porque na altura ainda não havia lá estúdios. Agora já existem. Foi muito gratificante. Gostei muito de trabalhar com os meus colegas, que têm um método de representação ligeiramente diferente, o que é ótimo. Foi um ótimo desafio, até pelo personagem.
O seu personagem era uma mulher homossexual. Foi complicado para si?
Como foi a primeira grande novela angolana, quiseram tocar em alguns assuntos tabus, como o alcoolismo, a violência doméstica, as pessoas subirem na vida de forma imprópria. Abordou também a homossexualidade, mas não houve beijos. Era mais uma relação platónica.
Disse que os seus colegas têm uma forma de representação diferente… em que sentido?
Nós tivemos uma influência da Globo até certa altura e depois começámos a fazer as nossas próprias novelas com o nosso método. Acho que em Angola ainda são ligados à Globo e à representação brasileira e, por isso, são talvez mais expansivos e até mais cómicos, mais caricatos.
Tem outros projetos?
Não há ainda muitos canais em Angola, apenas a televisão pública e a TV Zimbo. Tenho algumas coisas, mas ainda é prematuro falar disso. Aqui, em Portugal, tenho feito curtas-metragens e há uma longa-metragem que tenho para fazer. Mas, a nível de televisão, não tenho projetos.
Por que acha que não surgem convites?
Há cada vez mais atores e cada vez menos produções. Estamos numa situação financeiramente muito complicada e os canais optam pelos atores que já têm. É uma opção legítima, mas a verdade é que não há trabalho para todos e a solução que encontrei foi ir para fora. Já o tinha feito antes, já tinha ido para os Estados Unidos para estudar, e é assim a minha maneira de ser. Se não estiver a funcionar num sítio tenho de procurar mais além, porque esta é a profissão que eu quero ter.
A formação é importante?
Sem dúvida. Já tinha feito algumas formações em Portugal, mas nos Estados Unidos descobri métodos de representação que desconhecia. Cada pessoa tem os seus bloqueios e, no meu caso, eu era muito calminha, muito fechada, muito quieta, e aquele método ajudou-me imenso a quebrar certas barreiras. Foi uma experiência muito compensadora e ainda hoje está a ser.
Sente a necessidade constante de melhorar?
Nós nunca sabemos tudo. Sou adepta de que aprendemos muito a trabalhar, mas os persongens não são todos iguais e não podem ser encarados da mesma forma. Portanto, é sempre bom, quando temos disponibilidade…
Tornou-se independente muito cedo. Sente que já é mulher há muito tempo?
Nessa perspetiva, sim. Por volta dos 16 anos não quis sobrecarregar os meus pais e comecei a trabalhar em hotelaria, bares, restaurantes, bengaleiros, distribuição de prospetos… fiz de tudo e isso ajudou-me a ser a pessoa que sou hoje, com os pés bem assentes na terra. Fiz os 'Morangos com Açúcar', estive algum tempo sem trabalhar e, até aparecer a Rebelde Way, fui trabalhar para um bar. Todos nós temos contas para pagar e todos esses trabalhos deram-me algumas qualificações, até para o meu trabalho enquanto atriz. Mas não sou completamente mulher, ainda me falta fazer muita coisa, como casar e ser mãe. Não é que tenha a necessidade de ter filhos já, e respeito as mulheres que não os querem ter, mas eu, para me sentir completa enquanto mulher, gostava de ser mãe.
Vive com o seu namorado, o Ian, há algum tempo. Já têm planos nesse sentido?
Para já, temos consciência de que, para ter um bebé, há que ter condições, há que ter trabalho, e, para isso, temos de nos focar nos nossos percursos individuais. Depois, logo se verá.
Sentem saudades, quando são obrigados a estar separados, como quando foi para Angola?
Lidamos bem com isso, porque conhecemos bem a profissão que temos, que é a mesma. Claro que custa quando estamos longe da pessoa de quem gostamos. Mas, quando podemos, compensamos.
Diz que não pensa em ser mãe para já, ao contrário da sua mãe, a manequim Ana Marta, que foi mãe muito nova e teve cinco filhos…
Sim, ela foi mãe aos 16 anos, mas era outra vida, outra cultura, e não foi propriamente uma opção dela ser mãe com essa idade. Mas posso dizer que ela já anda atrás de mim a perguntar quando é que vai ser avó. Diz que quer uma menina… O meu pai também. Ou seja, a família já está ansiosa.
Mantém a herança do espírito africano, de famílias grandes, unidas?
Sim, mantenho. Uma das influências maiores de África, a meu ver, são as mães, as matriarcas. A mãe reúne a centralidade da família e, para mim, é mesmo assim. A minha mãe é muito importante na minha vida e eu na dela. Somos muito ligadas.
Soube bem este regresso às raízes familiares?
Eu tenho raízes cá e lá. Quando vou a Angola sou muito bem recebida pela família, é uma gente que me dá muito carinho e eu gosto de lá estar. E também tenho este espírito de viajante.
Texto: EA, Fotos: Paulo Lopes, Produção: Manuel Medeiro, Maquilhagem e Cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybeline e L’Oréal Professionnel
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