O Palácio da Pena é a obra da vida de D. Fernando II, que em 1838 adquiriu, com os seus próprios meios financeiros, o antigo mosteiro de Nossa Senhora da Pena, em Sintra, e ao longo da vida foi transformando-o naquilo que hoje conhecemos, um hino ao amor por D. Maria II e, mais tarde, pela segunda mulher, a Condessa de Edla.
O bicentenário do nascimento do Rei Artista, como ficou conhecido para a posteridade, assinalou-se no último dia 29 de outubro e, para marcar a data, a Parques de Sintra, a entidade responsável pela gestão e manutenção do polo do Parque da Pena (palácios e jardins), inaugurou a exposição Fernando Coburgo Fecit: a Atividade Artística do Rei Consorte.
Esta mostra, patente nos antigos aposentos de D. Manuel II, no torreão norte do Palácio da Pena, estará exposta até ao final do próximo mês de abril e revela parte de um grande acervo, entretanto adquirido e restaurado, que nunca tinha sido exposto.
A história de amor
O duque Fernando de Saxe-Coburgo e Gotha entra na História portuguesa a 8 de abril de 1836, quando desembarca em Lisboa para ratificar o casamento com a rainha portuguesa D. Maria II, realizado meses antes por procuração em Gotha. Para trás, ficava um primeiro candidato, príncipe da casa de Orleães, preferido da corte portuguesa, mas que a jovem rainha, à altura com 16 anos, recusou porque tinha “cara de batata frita”, como revela, divertido, António Nunes Pereira, diretor do Palácio da Pena, sobre o primeiro quadro que se conhece de D. Fernando, estrategicamente colocado à entrada da exposição.
“A história deste quadro vale a pena contar”, continua: “D. Maria viu então o retrato de D. Fernando e os príncipes da casa de Saxe-Coburgo eram todos bem parecidos, pelo que ela optou por este jovem de 19 anos, muito pressionada por Inglaterra. A pressão local era na direção da casa francesa, que ela recusa.”
Seguir-se-ia um matrimónio feliz, do qual resultaram dez filhos, sobrevivendo sete, vindo a rainha a falecer no parto do último, com apenas 34 anos. “Apesar de ser um grande desgosto para o rei e de ser uma cisão brutal na vida dele, porque tinha abandonado tudo para ter este papel, quando ele passa ao papel de ‘rei viúvo’ ou ‘rei pai’ (tem um período de regência de dois anos), como que retorna aquilo que teria sido o papel dele em Viena como príncipe de uma casa húngara”, relembra António Nunes Pereira.
“Deixa de ter funções no Estado, o que para ele até parece ser uma coisa muito positiva, e dedica-se ainda com mais intensidade a tudo isto que era o que ele teria feito em Viena, se a vida tivesse seguido o seu decurso normal. É muito engraçado como as pessoas reencontram o seu destino apesar das voltas que tiveram que dar, das vicissitudes da política e das estratégias familiares.”
Um dos homens mais cultos
D. Fernando II foi um dos homens mais cultos do nosso país, durante o século XIX. Dominava as línguas alemã, húngara, francesa, inglesa, espanhola, italiana e, claro, portuguesa. Durante toda a sua vida esteve ligado às artes e acabou ganhando o epíteto de Rei Artista. É sobre essa faceta da sua vida que se debruça esta exposição, dividida em quatro polos: Vida Familiar e Social, Reino Animal, Arte e Colecionismo e Costumes, Mitos e Heróis.
À entrada do espaço, fica o quadro que apresentou os dotes de beleza a D. Maria II, mas o quadro que domina toda a mostra é a imponente tela, com mais de dois metros de altura, que retrata o monarca já na altura do seu segundo casamento com a Condessa de Edla, o seu segundo grande amor.
Leia na íntegra esta reportagem na edição em papel da sua revista VIP n.º1009, já nas bancas.
Texto: Luís Peniche; Fotos: Luís Baltazar e DR
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