Isabel Stilwell
“Os netos são quase como uma segunda oportunidade”

Famosos

A autora recebeu a VIP na sua casa em Sintra onde nos falou do novo livro e de outro grande amor: a família

Dom, 27/05/2012 - 23:00

  Acaba de lançar o seu quarto romance histórico: D. Maria II, Tudo Por Um Reino. Foi na sua casa, em Sintra, que Isabel Stilwell revelou à VIP o que a liga à história das rainhas portuguesas e contou como tem sido o seu percurso pela escrita e pelo jornalismo. No entanto, é na sua vida familiar que a escritora/jornalista tem enfrentado também um grande desafio de há dois anos para cá: ser avó. Casada e mãe de três filhos, é com as gémeas Carmo e Madalena, filhas de Ana Stilwell, que tem aprendido a desempenhar esse novo papel na sua vida.

VIP – Acabou de lançar o livro D. Maria II , Tudo Por um Reino. O que traz de novo este romance histórico?
Isabel Stilwell – É uma rainha nova, uma época nova, tudo completamente diferente. Foi a única rainha europeia que nasceu fora da Europa (Brasil) e isso é muito engraçado porque lhe dá características muito diferentes das outras.

Como se deu essa vontade de escrever romances históricos?
O gosto pela História está muito ligado ao meu pai e a Sintra. Passávamos aqui todos os verões. O meu pai era capaz de fazer as pedras contarem histórias. Tudo tinha histórias, fosse uma árvore, um Castelo dos Mouros, um Palácio da Pena. Para mim a História nunca foi uma coisa morta, foi sempre muito viva. Desde sempre que sou leitora de romances históricos. Um dia fui à Esfera dos Livros e propuseram-me que escrevesse um livro sobre adolescentes. Na altura já tinha escrito vários e disse que não estava interessada. Quando estava a sair, vi na estante romances históricos, escritos por estrangeiros e disse para mim: “Andam estrangeiros a escrever sobre os nossos heróis?” Deu-me uma de nacionalismo e disse que se fosse para escrever um romance histórico, escreveria. E foi aí que nasceu o Filipa de Lencastre.

De onde vem esse bichinho pela escrita?
Lembro-me de ter oito, nove anos e estar sempre a escrever histórias. Sou uma pessoa que precisa de comunicar e se estou calada estou a escrever. A escrita é muito isso. É contar histórias. E o jornalismo também é isso. É usar a palavra a favor da mudança. Não é tanto um encantamento pela escrita do ponto de vista poético. Gosto de contar as histórias às pessoas da forma mais simples e direta possível.

Sei que gosta de contar as histórias em voz alta. Já não o pode fazer com os seus filhos, mas faz agora com as suas netas.
Agora é uma grande emoção. Se ponho uma ao colo, a outra chega e diz: “duas.” Ainda bem que não são trigémeas porque só tenho dois joelhos e duas mãos. É um novo ciclo. Os netos fazem rejuvenescer imenso. É voltar a passear, voltar a apontar para as coisas, é voltar a ver o mundo pelos olhos de uma criança para quem tudo é novo.

A Isabel é um bom exemplo de equilíbrio entre a atividade profissional e a vida familiar. Qual o segredo para conciliar essas duas facetas?
É a capacidade de estabelecer, em cada momento, prioridades. Sou coisas diferentes em momentos diferentes. Se os meus filhos precisam muito de mim nesse dia, eu sou, acima de tudo, mãe. Se o meu trabalho precisa de mim nesse dia, eu sou, sobretudo, profissional. Se o meu marido precisa muito de mim, sou mulher. E por aí adiante. O que acho difícil é chegar a essa consciência. Não podemos ser tudo ao mesmo tempo. Em cada momento temos de ser aquilo que é mais preciso. Quando se tem filhos pequenos há uma culpabilidade muito grande que se mistura com tudo isso. Achamos que temos de ser omnipresentes e omnipotentes. À medida que eles crescem e podem esperar e são mais autónomos, podemos gerir isso sem tanto sentimento de culpa.

Em algum momento da sua vida achou difícil ter de optar?
Há uma coisa que defini na minha cabeça. Eu queria ter filhos e uma carreira que me realizasse. Sabia que tinha de conciliar essas duas coisas. Não estava pronta a prescindir de nenhuma. Às vezes penso que se não tivesse filhos, se calhar tinha entrado no Diário de Notícias, como entrei em 1981, e tinha seguido por ali adentro. Assim tive de fazer opções. Com dois filhos não podia estar num jornal diário. Por isso, fui para a Elle e seguidamente para a Marie Claire. Depois surgiu o projeto da Pais e Filhos. As minhas opções de fundo moldaram aquilo que foi a minha profissão, mas não tive nenhuma sensação de perda. Fui optando. As escolhas foram sempre abrindo outras portas e outros caminhos sobre os quais não tinha pensado. Se me tivessem perguntado em 1980 se iria escrever romances históricos eu diria que não. Às vezes, tenho pena que as mulheres pensem que para terem de ser uma coisa têm de deixar outra. É impossível olhar para uma mulher que não tem filhos e não achar que ela esteja a perder alguma coisa de extraordinário. É o mesmo que subir a uma montanha muito alta e achar que é uma pena que toda a gente não tenha conseguido ver a vista. Sei que é um pensamento paternalista, porque pode haver pessoas que não queiram subir montanhas e eu reconheço isso, mas tenho sempre essa sensação.

Disse que o maior desafio em ser avó era fazer o devido distanciamento relativamente aos netos. Está a conseguir lidar com isso?
Agora já está mais calmo. Olhamos para um bebé recém-nascido, que é uma adoção instantânea, e pensamos que estamos apetrechados com a memória de mães. Dizemos para nós próprias que sabemos fazer aquilo. E naquele momento, a pobre da mãe está a começar e ainda está um bocadinho atordoada, como, por exemplo, a minha filha, que fez uma cesariana e teve dois bebés. Eu estava fresca e não estava desgastada e é aí que a pessoa percebe a barreira completa que tem de pôr a si própria. “Alto lá, não és mãe desta criança, não vais dizer o que é melhor porque não sabes e não é esse o teu papel.” O meu papel é, na primeira linha, em relação à minha filha. O grande desafio é não dizer: “Comigo elas não fazem birras, comigo elas comeram a sopa toda, elas gostam é de estar em minha casa.” Há um perigo de as avós concorrerem com as mães. É um ser pequenino por quem toda a gente está apaixonada e questionamo-nos: “Será que esta criança vai ter um lugar no coração dela para eu ser alguma coisa de especial ou será que vou ser só mais uma?” Mas temos de ter cuidado para não sufocar estas crianças de adultos bem intencionados, mas que, a certa altura, não as deixam crescer e fazem delas bonecos e elas não são bonecos.

Sente que influencia a educação delas?
Neste momento, tenho uma grande sorte porque as minhas netas são filhas da minha filha. Há um fio condutor muito forte, no entanto, se a Ana diz que não quer que elas comam fruta porque a pediatra disse que não, eu não o faço sem perguntar. Tenho uma sensação de responsabilidade diferente. A Ana entrega-me as filhas para eu ficar um fim de semana ou uns dias com elas e eu não vou fazer o contrário do que ela me pede. É claro que sei que tenho alguma margem de manobra para fazer algumas coisas.

Qual a diferença no tempo que passa com as suas netas comparativamente ao que passou com os seus filhos?
É uma diferença enorme. Os netos quase que são uma segunda oportunidade. Estou a 100 por cento com elas e isso é uma experiência absolutamente nova. É muito relaxante poder estar sentada no jardim com elas à minha volta e não ter de pensar no que vou ter de fazer a seguir. Estou mesmo com elas. Quando os meus filhos eram pequenos estava a começar tudo. Nisso é melhor para os meus netos do que foi para os meus filhos. Já a Ana tem uma relação com as minhas netas muito mais calma, muito mais serena porque pode passar mais tempo com elas. Uma das grandes armadilhas da educação é a culpabilidade porque faz com que nós cedamos em coisas que achamos que não devemos ceder. A outra armadilha é o cansaço.

O que falta para se sentir totalmente realizada?
Quero ter mais netos. Já dei uma ordem aos meus filhos porque depois vou ser muito mais velhinha, estar muito mais cansada e vão dizer que fui muito melhor avó para as primeiras. Tenho uma nova neta, filha de um enteado meu, que é a Constança. Dá-me imenso prazer ter mais uma neta. Esse é um dos meus projetos. Em termos de escrita, quero escrever melhor, quero escrever coisas igualmente interessantes e encontrar estilos diferentes. No jornalismo, quero que esta crise passe rapidamente para que todos possamos fazer uma comunicação social forte, com recursos, com mais dinheiro para mais reportagens, menos info-entretenimento, e um jornalismo bem mais responsável.

Texto: Cátia Matos; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Manuela Costa; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho, com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

Siga a Revista VIP no Instagram