O trabalho é uma constante durante todo o ano na Casa Viscondes da Várzea, o hotel rural que a família Cyrne tem em Lamego. Em plena época das vindimas, a VIP acompanhou um dia de trabalho de Maria Manuel e José Pedro Cyrne, condes da Feira. Felizes com a vida do campo e sempre prontos a ajudar estão António e Pedro, os filhos gémeos do casal, que em dezembro fazem 11 anos.
VIP – Como estão a correr as vindimas?
Maria Manuel Cyrne – As vindimas decorrem a grande ritmo. Começaram atrasadas, porque tivemos um inverno muito seco.
Quais as tradições das vindimas em Lamego?
Todo o Douro celebra o ritual das colheitas. O concelho de Lamego enche-se de turistas das mais diversas partes do mundo que vêm para conhecer esta bela região e o processo de produção de vinho. As festas oferecem muita animação. As festas das vindimas continuam a ser uma das mais visitadas no nosso país.
A colheita da vinha da Casa Viscondes da Várzea não é só para consumo próprio e para o vosso vinho homónimo?
A colheita é para os nossos vinhos e a restante é vendida a Caves da Murganheira e à Adega Cooperativa de Lamego.
Pode-se dizer que é uma grande fatia dos rendimentos da quinta?
Sim, efetivamente é uma grande fatia dos rendimentos da quinta, mas não nos podemos esquecer do azeite e das nossas frutas.
Gosta desta época na quinta?
Adoro. É quando o Douro se sente mais. É difícil descrever como as vindimas e todo o processo de vinificação aliados à vida no campo, ajudam a manter sanidade.
Os gémeos adoram vindimar?
Os meus filhos gostam muito de vindimar e conviver com os trabalhadores nacionais e estrangeiros que vêm nesta altura para trabalharem na colheita das uvas.
Eles estão em que ano escolar?
Eles estão no sexto ano.
Desde pequenos que eles adoram a vida no campo. Essa paixão continua?
Eles gostam de ir nas férias a Lisboa, mas continuam a gostar e a querer viver na quinta, onde têm uma maior liberdade.
Eles já têm as suas preferências quanto ao futuro em termos profissionais?
Têm desde muito cedo. O Pedro quer ser agricultor, adora todo o trabalho da quinta. O António gosta dos computadores e diz muitas vezes que vai substituir a nossa diretora financeira.
Além da parte agrícola, a quinta também tem uma vertente turística de que se ocupa pessoalmente. Como tem estado o negócio neste ano de crise?
Eu e o meu marido abraçámos de uma forma entusiástica o enoturismo, criando há 15 anos um projeto inovador que reúne num só local o turismo, a vinha e o vinho. Eu dediquei-me à recuperação da casa de família que transformamos em hotel rural e o Zé Pedro recuperou toda a quinta que são cerca de 180 hectares. Estamos atualmente a recuperar um lagar de azeite tradicional e a azenha. Aqui trabalho é que não falta!
E os casamentos?
Felizmente tenho tido muitos casamentos que são uma forma de rentabilizar este espaço, porque a crise é muito grande e todos temos de nos esforçar para que Portugal consiga sair destes tempos tão difíceis.
O seu gosto pela decoração e pela criação de ambientes de festa é lendário. As pessoas que procuram a quinta vem à procura dos “tios” Cyrne, dos ambientes que concebe e da gastronomia feita na sua própria casa?
Vêm à procura de todo o tipo de serviços de catering em lazer ou trabalho que nós prestamos. Fazemos casamentos, batizados, comunhões, almoços, jantares, coffee breacks, cocktails, etc. O objetivo é proporcionar a todos os clientes um serviço de qualidade onde todos os pormenores contam.
A sua cozinha está a ganhar fama…
A gastronomia que temos aqui no hotel é bem portuguesa, de excelente qualidade e as nossas iguarias são elaboradas pela minha prima Ana Fernandes.
E aqui não falta espaço…
Dispomos de vários espaços para criarmos ambientes perfeitos, diferentes e personalizados para todos os gostos e ocasiões.
Além desta vida no campo, também tem os seus negócios e casa em Lisboa. As distâncias parecem-lhe cada vez maiores ou pelo contrário, o regresso à capital é um bálsamo que equilibra este retiro?
Neste momento não posso escolher onde viver, mas se pudesse não trocava a vida do campo pela da cidade. Quando precisamos de ir a Lisboa apanhamos o avião em Vila Real, a 10 minutos da nossa casa até Lisboa. São 50 minutos de viagem e é barato. Vamos de manhã, tratamos dos negócios, e muitas vezes regressamos à tarde, porque não gostamos de estar longe dos nossos filhos.
Quem olha para o casal Cyrne não imagina que se adaptam tão bem à vida rural …
A vida rural não é a mesma de há 30 anos, estamos no campo, mas não vivemos isolados.
Há 11 anos que vivem em Lamego… Em dezembro os seus filhos fazem 11 anos e a quinta voltou à família por essa mesma altura…. É capaz de recordar e fazer um balanço de toda esta grande volta na vossa vida em menos de 11 linhas?
Há 11 anos que vivemos aqui, mas já faz 15 anos que conseguimos recuperar a quinta que era dos nossos pais. A volta da nossa vida foi tão grande que é difícil de descrever. Quando o abandono dos campos estava no auge devido à escassez de empregos, venho eu com a minha família de volta ao rural a tentar produtos locais para comércios globais. Parecia uma ideia de loucos…
Mas havia o sonho…
Do sonho, passámos ao real. Trabalhámos o dobro das horas que trabalhávamos em Lisboa. Muitas vezes não nos é possível estar com as pessoas que gostaríamos, mas quando estamos na sacada onde há 40 anos começámos a namorar e vimos tudo o que já conseguimos criar, inclusive os nossos filhos que riem felizes, aí sim damos as mãos e agradecemos a Deus a capacidade que nos deu para mudar.
Olhando para trás qual a maior lição que a vida lhe ensinou?
A maior lição que a vida me ensinou, foi saber esperar. Está a ver, esperei quase 30 anos para ter os meus filhos.
Texto: Alberto Madeira Miranda; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Elizabete Guerreiro; Maquilhagem: Ana Coelho com produtos Maybelline e L'Oréal
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