O actor está de volta ao Teatro Villaret com o espectáculo que assinala os seus 30 anos de carreira: mendes.com. Numa entrevista bem-humorada, falou ainda da sua faceta de escritor, do "gozo" que lhe deu gravar um CD para crianças e das memórias que tem das histórias que a mãe lhe contava para adormecer: "Coitadinha. Adormecia sempre antes de nós."
Como surge a ideia de escrever Era Uma Vez… Os Contos Favoritos de Fernando Mendes?
Como o Preço Certo é visto por muitas pessoas de idade e também por crianças, achei que talvez fosse giro fazer um livro para os avós contarem às crianças. Hoje em dia as pessoas estão tão ligadas aos computadores que se está a perder o hábito de contar a história antes de dormir.
Também conta as histórias em CD.
Sim, foi ideia do Luís Portugal e isso deu–me muito gozo, porque acho que nunca contei histórias aos meus filhos, mas lembro--me de ser miúdo e a minha mãe nos contar muitas histórias. Éramos quatro filhos, não era fácil sustentar-nos, então lembro-me que ela, coitadinha, nos contava as histórias, mas adormecia primeiro porque estava muito cansada. Contava aquela: “quem quer casar com a carochina”, passavam os animais todos e nós ainda de olho aberto e às tantas começava “e tal e tal e tal e tal” porque já não sabia o que inventar mais. O CD é bom porque se pode ouvir até no carro e, se as crianças adormecerem à terceira história, já fico contente (risos).
Está a comemorar 30 anos de carreira…
Parece que foi ontem. Achei que era engraçado fazer uma revista à portuguesa e assumir que era dos 30 anos. Fomos juntando os sketches que fui fazendo ao longo da minha carreira e que o meu pai também já tinha feito. Acho que temos um espectáculo muito bem montado. O grupo também é óptimo: o Luís Portugal, a Cristina Areia, o António Vaz Mendes, as quatro bailarinas, três russas e uma do Seixal, que é mais barato (risos).
Quem vai ao Preço Certo “crava-lhe” bilhetes?
Sim, sim, toda a gente me pede bilhetes. Nos directos ofereço sempre bilhetes, mas quando ofereço dois os 200 que lá estão sentados pedem-me todos, tenho que lhes dizer “amigos, esta é a minha vida”. Mas sinto que o público tem um certo carinho por mim, tal como as crianças. Às vezes ainda nem sabem andar e já dizem: “Olha ali o gordo”…
Não o chateia que pessoa que não conhece o tratem assim?
Não, porque me deixei engordar. De um modo geral não, claro que tem muito a ver com a forma como se diz.
Gostava de ter netos para lhes ler os seus contos?
Claro que sim, mas o que achei giro foi os meus filhos ouvirem o CD, porque são um bocado críticos, e já me tinham dito para fazer outro tipo de coisas, ouviram o CD e ficaram espantados. “Foste tu que fizeste isto?” A minha filha é guia e já levou o CD para as crianças e gostaram muito. Portanto espero que corra bem.
Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Tito Calado
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