São crianças e é natural que gostem de guloseimas e comidas de sabor apetecível. Geralmente todas as comidas ricas em gordura, sal ou açúcar são apelativas ao paladar. Por isso, se não houver controlo, assistimos a um consumo desregrado de bolos, bolachas, batatas fritas e da comida dita de plástico, como os hambúrgueres, os cachorros-quentes e companhia limitada. O futuro das nossas crianças gordas é doente… e curto. A esperança de vida delas é diminuída e não irão viver tanto tempo como os seus próprios pais, um fenómeno que se verifica pela primeira vez na História. Além da sua vida ter elevadas probabilidades de ser mais curta, também são altas as possibilidades de virem a sofrer de diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e vasculares.
Portanto, uma criança gorda será um adulto obeso que não se encaixa nos padrões de beleza… e ainda por cima terá todas as hipóteses de ser doente. Ao mesmo tempo que os apelos a imagens perfeitas se multiplicam, é interessante notar que a obesidade é uma condição que continua a crescer e a preocupar os organismos que regem a saúde, apesar dos apelos da moda que desfila nas passadeiras para uma imagem quase escanzelada. Mas, afinal, que fenómeno é este? É simples. É um fenómeno que começa bem cedo, na infância da maior parte das pessoas. Se por um lado nos olhamos ao espelho e vemos sempre aqueles quilos a mais que a moda diz que não devemos ter, por outro lado olhamos para as nossas criancinhas e achamos que estão “tão magrinhas”. E ficamos preocupados. E aumentamos a dose de comida, até ficarem mais “redondinhas” e com “bom aspeto”. De repente as crianças estão gordas. Esquecemo-nos, também, de que os tempos mudaram. As crianças já não brincam na rua, pouco andam de bicicleta, já não vão a pé para a escola, os pais levam-nas de carro ou a carrinha do colégio vai buscá-las, não têm tempo nem paciência para as levar aos poucos parques que existem e onde podem correr um pouco. Vivemos na era dos computadores, telefones “inteligentes”, Internet, consolas de jogos e filmes em DVD. Vivemos sentados: no carro, na sala em frente à televisão, na cadeira em frente ao computador. Entretanto, trocámos a dieta mediterrânica, rica em fruta, legumes, peixe e azeite, pelas comidas pré-cozinhadas ou de consumo rápido. No meio de tudo isto, não podemos culpar as crianças pela crescente obesidade infantil a que estamos a assistir (mais de 30% das crianças portuguesas têm excesso de peso e mais de 11% são obesas!). Somos nós, os adultos, que fazemos as compras e enchemos as despensas e frigoríficos de comida pouco saudável, tornando facilmente acessíveis os doces e as gorduras prejudiciais. São os adultos que recompensam as crianças com um chocolate em vez de uma bola de futebol. Nenhuma criança se recusa a ir ao parque passear e andar de triciclo, de bicicleta ou jogar à bola, desde que os adultos tenham disposição para isso.
Mesmo antes de atingir a idade adulta a criança vai sofrer psicologicamente, porque será mal aceite no meio escolar pelos colegas, será diferente, sentirá que não é bonita, será apontada e alvo de comentários, não conseguirá ter um bom desempenho físico nas brincadeiras e nas aulas de ginástica. Será marginalizada na infância e na adolescência, altura em que acrescentará a isto o facto de pensar que não é suficientemente atraente para ter um namorado ou uma namorada. Está nas mãos dos pais fazer do futuro dos seus filhos um lugar saudável. Está nas mãos dos pais alimentar saudavelmente os seus filhos, tornando-se também eles saudáveis.
Humberto Barbosa – Especialista em Nutrição e Longevidade
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