Rita Ribeiro abriu o coração numa entrevista repleta de emoção do princípio ao fim. A atriz sentou-se com Júlia Pinheiro numa sala de teatro e falou sobre as fases difíceis que fizeram dela a mulher forte e independente que é hoje. O divórcio dos pais, a hepatite e a tuberculose foram alguns dos temas da entrevista.
A ariz, de 64 anos, começou por falar da avó, a mulher que apenas só viu uma vez na vida, mas com quem se identifica muito. «A minha avó era goesa, apaixonou-se por um português, que era o meu avô Raúl. Depois, ele era um homem muito mulherengo, a minha avó não esteve para isso. Acho que ela era uma mulher muito fora do seu tempo», conta.
«Eu só vi a minha avó uma vez na vida. Tanto o meu pai como o meu avô ficaram muito chateados quando a minha avó saiu de casa. Ela deixou marido e filho. Isto nos anos 30… Acho que não houve um perdão», revela.
A procura foi intensa. Curado Ribeiro, o pai da atriz, nunca a quis deixar conhecer a mãe. Mas a persistência falou mais alto.
«Tive uma vontade enorme de a conhecer. Andei com o meu irmão, António Semedo, à procura dela na lista telefónica. Fui bater à porta daquela que era a minha avó, vivia na Praça da Figueira. Quando subi as escadas, bati à porta, olhei para ela e foi um momento muito especial da minha vida.»
Apesar de apenas terem passado uma tarde juntas, avó e neta não podiam ser mais parecidas. «Primeiro revejo-me numa pessoa já com 83 anos, depois ela olha para mim e diz-se: ‘És a filha do meu Fernando, não é?’. Passámos ali uma tarde muito agradável, a tomar chá e a comer uns bolinhos. Era uma mulher muito fora da sua época e bem consigo própria. Tenho muito da minha avó Laura.»
O divórcio dos pais: «O meu pai era uma galã e a minha mãe sofria muito»
Filha de Curado Ribeiro e Maria José, Rita Ribeiro revela que um dos momentos mais difíceis foi o dia em que soube que os pais se iam divorciar.
«Foi muito triste. Eu tive uma infância maravilhosa. O meu pai deixava-me ser livre à vontade. [A separação] desmoronou tudo. Sabia que o meu pai era uma galã e que a minha mãe sofria muito com isso. Mas só tive consciência no dia me que a minha mãe disse que se ia divorciar», explica.
E foi a própria quem revelou a traição do pai à mãe. A atriz tinha apenas 11 anos, mas não admitia a mentira e decidiu contar tudo a Maria José. «Foi um dia muito fatal, a minha mãe tentou-se suicidar. Foi muito duro. Eu é que descobri que o meu pai andava com a melhor amiga dela e eu é que fui dizer.»
Ao divórcio seguiu-se um período muito complicado. Rita Ribeiro foi para um colégio interno e acabou por sofrer de uma doença grave.
«Fui para um colégio interno… fiquei com uma hepatite»
«Os meus pais tiveram um divórcio litigioso e, portanto, fui para um colégio interno, para o Ramalhão. Foi um inferno, fui presa ali. Fiquei doente. Fiquei com uma hepatite. Acredito verdadeiramente que antes de o corpo sentir, emocionalmente já existe. Tive uma hepatite.»
Aos 11 anos, Rita ficou presa a uma cama durante um ano. Na altura era assim que se cuidava a doença. O tempo acamada foi tanto que, quando recuperou, teve «de reaprender a andar».
«Depois fomos viver para a Parede e comecei-me a sentir mal. Tive uma tuberculose, estive mais dois anos de cama. Por isso, foi dos 11 aos 14 anos», desvenda.
Durante estes três anos, Rita Ribeiro viveu com a mãe e acabava por ficar sozinha em casa, com as refeições preparadas, para que a atriz Maria José pudesse ir trabalhar. Foram três anos «a pensar e a ler. Li tudo».
A atriz confessa que chegou mesmo a sentir-se abandonada. «Senti mas já tratei disso, felizmente. Fiz psicoterapia e ainda faço às vezes quando é preciso.»
Desilusão com o ballet leva Rita Ribeiro para o teatro
Depois dos três anos acamada e já curada, Rita Ribeiro emigrou para África com a mãe. «Senti-me maravilhosa. Cheguei a Lisboa com outra perspetiva.» E foi aqui que começou a descobrir a paixão pela representação.
«Eu nunca disse que queria ser atriz. Queria ser bailarina e quando fiz a academia de bailado e a professora me disse que não podia ser bailarina, porque os meus tornozelos eram muito fininhos e não me deixavam… Talvez por isso me tenha virado para o teatro. As coisas foram acontecendo e eu sempre fui muito grata.»
As mágoas familiares entre a atriz o pai acabaram por se resolver e foram reunidos pelo teatro. «Tive o privilégio de trabalhar com o meu pai nos últimos quatro anos de vida dele.»
Este ano, Rita Ribeiro celebra o 45º aniversário de carreira, com muitos sucessos no percurso.
Texto: Mariana de Almeida; Fotos: Impala e reprodução Instagram
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