"Era obcecada pelo meu filho. Desde que ele nasceu que eu guardo tudo dele. Hoje, só tenho recordações… Tenho o primeiro caderno, os primeiros brinquedos, o primeiro bibe. Desde sempre que tinha um mau pressentimento. Nunca pensei que ele falecesse tão cedo, mas temia que ele tivesse um acidente de carro, que ficasse encarcerado.” Foi esta preocupação que fez Anabela Pereira , mãe de Tiago André Campos – um dos seis estudantes da Universidade Lusófona, de Lisboa, que a 15 de dezembro perderam a vida no Meco, em circunstâncias ainda por esclarecer –, ligar-lhe por volta das 20h00 do dia 14, naquela que seria a última vez em que falaria com o filho.
Foi na tentativa de perceber as circunstâncias que ceifaram a vida do filho, de forma tão trágica e tão cedo, que Anabela procurou falar pessoalmente com o dux. E conseguiu. “Eu sou a única mãe que falou com o João porque pedi para falar com ele, e ele acabou por aceder. Encontrou-se comigo. Eu fui com a Andreia [namorada do filho] e ele foi com a irmã. Estivemos duas horas à conversa e ele respondeu- me a tudo o que perguntei. Agora, se é verdade ou não o que ele me contou, não sei. Eu não acredito. Não sei se ele está a mentir ou a omitir, mas acredito que está a tentar passar impune do crime de ter exposto aqueles miúdos ao perigo. Falta algo na história. Eu nunca iria culpar o João pela morte dos meninos, mas nunca o irei perdoar porque bastava ele ter dito ‘não’ à ida à praia, que ninguém tinha falecido. Ele era o líder. Ele tem de ser penalizado com trabalho comunitário durante seis meses, um mês por cada vida perdida”, solta, emocionada. Por isso, tal como os pais dos restantes jovens, apela a João que acabe com o silêncio e que explique às famílias o que aconteceu na praia.
Na primeira entrevista que dá, Anabela Pereira recorda como era o filho que, aos 21 anos e 21 dias, perdeu a vida para um mar revolto, enquanto fazia o que o deixava mais feliz: fazer parte ativa da vida académica da faculdade onde estudava.
VIP – Ao fim destes seis meses, acredita que vai ser feita justiça? Que vai haver um desfecho nas averiguações?
Anabela Pereira – Neste momento, não sei… Acreditava que ao fim de seis meses o caso já tivesse evoluído? Neste momento, não posso falar sobre o caso porque está em segredo de justiça. Mas acho que o processo vai acabar por ser arquivado. Ou seja, o João não vai ser culpado de nada e vai sair inocente. Por isso é que eu apelo para que ele seja obrigado a fazer trabalho comunitário, pelo menos. Ele não pode sair assim, como se nada se passasse, ao fim de tantos meses de silêncio e sem nunca ter procurado demonstrar afeto pelos colegas falecidos…
Já me disse: agora não vive, sobrevive…
Eu não estou a fazer nada… Eu e o Vítor levantamo- nos de manhã para ir trabalhar e esperamos que o dia passe rápido para virmos dormir. Sobrevive-se, apenas… O meu coração bate apenas para sobreviver… Eu não consigo ir a um shopping a não ser por necessidade. Emagreci quase dez quilos, só janto ou almoço com os meus amigos nos aniversários, quase obrigada.
Mas foi uma vida cheia, não foi?
Sim. Se me perguntasse se eu preferia ter vivido estes 21 anos com o Tiago e perdê-lo como perdi, ou nunca ter sido mãe e evitar este sofrimento, eu, evidentemente, voltaria a escolher mil vezes viver com ele tudo o que vivi.
Neste período de luto está a ser acompanhada por um psiquiatra?
Sim. A última vez que lá estive, ele disse-me que eu estava a iniciar uma depressão. Eu passei um mês a viver – a dormir e a comer – no quarto do Tiago, sem conseguir sair de lá…
Leia a entrevista completa na edição nº883 da revista VIP.
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