«Parecia uma botija de gás a rebentar. Foi como se alguém me desse uma palmada nas costas. Só vi o Rui [Lucas] quando estava a passar numa maca», o relato da tragédia foi feito por Sílvia Ramos a um amigo muito próximo. A jovem, que perdeu o marido em plena lua-de-mel, avançou ainda ter sido «tudo muito rápido». «Ela estava de costas a pedido do Rui para poder ver as vistas do exterior do hotel. O buffet do pequeno-almoço estava atrás dela. Antes de a bomba rebentar o Rui levantou-se para ir buscar mais sumo», explicou a mesma fonte.
A jovem não se apercebeu da gravidade, mas quando tentou encontrar o marido, viu «um amontoado de corpos». «Procurou por ele, mas não o encontrou. Só o viu já numa maca quando o estavam a tentar reanimar. Tinha buracos no peito e uma perna ferida, mas tiveram esperança que o pudessem reanimar», contou o amigo. Sílvia Ramos assistiu à tentativa de reanimação por parte da equipa de emergência, que apesar do esforço não conseguiu salvar Rui Lucas. A partir desse momento, a jovem foi amparada por uma psicóloga destacada pelas autoridades do Sri Lanka para dar suporte aos familiares e vítimas da explosão no Hotel Kingsbury.
«Ela só pedia para a levarem embora para casa»
A especialista manteve-se com a portuguesa até esta ter entrado num voo de regresso a Portugal, o que aconteceu na noite do próprio dia, tendo chegado ao nosso País no dia seguinte. «Sempre que lhe perguntavam do que precisava ela só pedia para a levarem embora para casa e foi o que aconteceu. O Consulado de Portugal no Sri Lanka disse-lhe para não se preocupar com nada, nem mesmo com o bilhete e trataram de tudo. Conseguiram-lhe um voo para esse mesmo dia, à meia noite», disse o amigo, exaltando a prontidão e apoio das autoridades oficiais.
Em Portugal, Sílvia tinha à sua espera uma psicóloga do Ministério da Administração Interna (MAI). A especialista ficou a dar suporte à família, desde o dia 21, data do falecimento de Rui Lucas, até à presente data. Com o perfil das redes sociais desativado e o telemóvel desligado, a viúva resguardou-se em casa da irmã e teve contacto com poucas pessoas. «Esta fase do luto é muito difícil. Toda a situação é um duro golpe. A Sílvia até já se culpa pela morte do Rui, pois diz que se não se tivessem casado ele ainda estaria vivo. Para ele era indiferente, mas ela tinha o sonho de se casar e aconteceu isto. Vai precisar de muita ajuda e nós estamos cá para ela», concluiu o amigo.
«Não merecia ter terminado assim»
Rui Lucas e Sílvia Ramos viveram juntos dois anos antes de decidirem casar-se. Apesar de terem emprego, em Viseu, por conta de outrem, tinham um negócio em conjunto. O casal era proprietário da empresa Sherlock’s Room, um «escape game» onde os participantes têm que trabalhar em conjunto para conseguirem escapar de uma sala em 60 minutos. «Tinham aberto um novo espaço porque o negócio estava a crescer. Era um casal cheio de vida e de projetos, que não merecia ter terminado assim», contou a mesma fonte. Os sonhos foram destruídos por um bombista suicida, disfarçado de hóspede na fila do buffet do Hotel Kingsbury. A mesma metodologia foi usada em outras unidades hoteleiras e igrejas, em atentados terroristas cujo número de vítimas ultrapassa duas centenas e meia de mortos.
– O último adeus a Rui Lucas
Texto: Cynthia Valente; Fotos: João Manuel Ribeiro
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