Nutrição Infantil
É urgente mudar estes erros que está a cometer na alimentação dos seus filhos!

Entrevista

A nutricionista Patrícia da Costa Moura revela quais os maiores erros que os pais cometem na alimentação dos filhos e que pode conduzir a sérios problemas de saúde

Seg, 21/09/2020 - 10:41

Com a correria do início do ano letivo, os pais acabam por se desleixar um pouco no que diz respeito à alimentação dos filhos. A falta de tempo faz com que a comida processada e os snacks rápidos [cheios de sal e açúcar] sejam as opções mais fáceis, mas a verdade é que estes alimentos podem ser altamente prejudiciais para a saúde das crianças, provocando a médio-longo prazo problemas como colesterol, diabetes ou obesidade infantil.

Se este é o seu caso, não se preocupe: a nutricionista Patrícia da Costa Moura tem as soluções para o ajudar a cuidar da alimentação dos seus filhos e a fazê-los ter gosto por comida mais saudável!

Em entrevista à VIP, a especialista em nutrição materno-infantil explica de que forma a alimentação pode ter influência no desempenho escolar e estilo de vida das crianças e quais as refeições rápidas e saudáveis ideais para dar os «miúdos» levarem para a escola.

VIP – Uma vez vem aí o regresso às aulas, de que forma é que alimentação pode influenciar o desempenho escolar das crianças?

Patrícia Moura – O desempenho escolar é influenciado por vários fatores e a alimentação é um deles. Uma alimentação desajustada conduz a um rendimento escolar inferior ao esperado ao afetar níveis de atenção e concentração, assim como também poderá ter influência no comportamento, nomeadamente na interação com os colegas, bem-estar emocional, níveis de ansiedade e motivação, aumentando comportamentos agressivos e de hiperatividade, uma vez que deficiências nutricionais comprometem o funcionamento cognitivo.

A título de exemplo, uma alimentação pobre em ferro está associada a problemas de aprendizagem e hiperatividade e saltar refeições, como o pequeno-almoço, está associado a maior irritabilidade e problemas de concentração.

Há pais muito ocupados, com muito trabalho e a «desculpa» de mandar snacks rápidos e pouco saudáveis para a escola por falta de tempo é recorrente. Que soluções têm estes pais com pouco tempo para dar aos filhos refeições saudáveis para levar para a escola?

Setembro é, regra geral, um mês caótico. Voltamos de férias, começamos a trabalhar e ainda é necessário organizar horários, atividades extracurriculares, material escolar e outro sem fim de preocupações. Nesta roda vida os lanches escolares ficam esquecidos e um sumo e um pacote de bolachas parecem sempre as melhores opções.

Para evitar que isto aconteça é essencial que haja um bom planeamento das refeições escolares, que começa quando vamos ao supermercado. Exemplos, como frutos secos, ovos cozidos, frutas, legumes como cenouras e tomate cherry, queijinhos, iogurtes, tortilhas de arroz ou milho são apenas algumas das opções prontas a consumir que demoram tanto tempo a colocar na lancheira como um bolo e sumo. Aqui diria que as palavras-chave são organização e planeamento.

Como é que conseguimos convencer os mais novos a começarem a comer melhor e evitar erros alimentares?

Envolver a criança na escolha dos alimentos é fundamental para aumentar a adesão à nova rotina alimentar. Pergunte ao seu filho o que ele quer levar para o lanche da escola, mas dê sempre opções saudáveis, como por exemplo, não deve perguntar se ele quer levar fruta, mas sim dar a escolher qual a peça de fruta que ele quer levar.

No caso de ele estar habituado a levar produtos processados e oferecer resistência, faça negociações, evitando assim alterar os hábitos de forma abrupta. Não passe de uma lancheira desequilibrada para algo “100% saudável”, oriente-o para o benefício de fazer boas escolhas, sem que isso seja uma obrigação, irá também estar a desenvolver a sua capacidade de fazer escolhas próprias e a trabalhar a sua maturidade e responsabilidade.

Mas pais, não se esqueçam, os exemplos vêm de dentro, então de nada adianta quer que o seu filho coma fruta se em casa mais ninguém o faz.

O ano passado falou-se muito do desperdício alimentar nas escolas, principalmente no que diz respeito aos legumes e às frutas. Como é que podemos mudar isto e convencer as crianças a gostar de comer frutas e legumes?

O desperdiço alimentar em ambiente escolar é um sério problema de saúde pública. Mas neste campo não há milagres, a melhor forma de aumentar a aceitação da criança a determinados alimentos é a exposição repetida, e para isso é imprescindível ter sempre vegetais na mesa para que a criança se vá familiarizando com o aspeto, cor e cheiros, mesmo que inicialmente ela os reprove.

De novo, dar o exemplo! A restante família deve comer os legumes e a fruta em frente a criança para aumentar a aceitação por parte desta. Outras estratégias, passam por envolver a criança no processo de escolha e preparação, levar ao mercado, deixar ajudar a preparar as refeições, explicando quais os legumes que estão a ser utilizados.

Se mesmo assim a criança continuar a recusar repetidamente este tipo de alimentos, pode contar histórias, fazer jogos que envolvam legumes e frutas, inventar nomes engraçados e superpoderes, fazer pratos criativos e variar na confeção, por exemplo, um arroz de cenouras.

O que nunca deve fazer é castigar a criança por ela rejeitar algum alimento, nem forçá-la a comer, pois isso só irá fazer com que se associe os legumes e as frutas a experiencias negativas, assim como, não deve nunca usar outros alimentos como chantagem, através de frases como “ Se comeres os brócolos podes comer um gelado”.

 Houve algumas crianças que ganharam peso durante a quarentena. Que cuidados devem ter os pais na alimentação dos filhos para estes perderem peso excessivo ou para evitarem engordar?

Na idade pediátrica a obesidade e o excesso de peso são reconhecidos como fatores de risco na vida adulta, com uma elevada probabilidade de serem adultos obesos. As causas são várias, mas uma dieta hipercalórica e o sedentarismo são os principais fatores. É preciso então analisar o estilo de vida da criança num todo, quais os hábitos alimentares? É sedentária? Tem uma boa rotina de sono? E quais as suas atividades extracurriculares?

O primeiro passo é, sem dúvida, fazer uma reeducação alimentar e incluir toda a família no processo, sem que a criança se sinta julgada, mas sim apoiada. Não faça refeições diferentes para a restante família, nomeadamente, para os irmãos que não têm excesso de peso, até porque uma alimentação saudável é para todos. Evite ter bolachas, chocolates, refrigerantes em casa, de modo a não haver tentações, contudo, não deve retirar grupos alimentares, com os hidratos de carbono, nem fazer dietas demasiado restritivas, não se esqueça que o seu filho está em crescimento.

É importante também evitar apreciações negativas e preconceitos, esteja atento a sinais como o isolamento social, depressão ou bullying. Entenda que a obesidade é um grave problema de saúde, considerada uma epidemia, e caso veja que sozinhos não estão a conseguir controlar a situação é fundamental pedir ajuda especializada de um nutricionista, que esteja inscrito na Ordem dos Nutricionistas.

Texto: Mafalda Mourão com nutricionista Patrícia da Costa Moura [[email protected]]; Foto: D.R.

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