Sandra Felgueiras
“Não preciso de outro sítio para ser feliz”

Famosos

Rendeu-se a LISBOA e ao jornalismo e confessa-se realizada com o que a vida lhe tem dado
Quis o destino e a ambição de singrar como jornalista que Sandra Felgueiras se tornasse uma cara conhecida do público. Mas, na verdade, nunca foi anónima na terra que a viu nascer. A culpa não só é do apelido que carrega, como também do facto de a sua mãe ter sido presidente da Câmara Municipal de Felgueiras. A filha de Fátima Felgueiras sofreu na pele as polémicas que envolveram a autarca.

Dom, 27/03/2011 - 0:00

 Quis o destino e a ambição de singrar como jornalista que Sandra Felgueiras se tornasse uma cara conhecida do público. Mas, na verdade, nunca foi anónima na terra que a viu nascer. A culpa não só é do apelido que carrega, como também do facto de a sua mãe ter sido presidente da Câmara Municipal de Felgueiras. A filha de Fátima Felgueiras sofreu na pele as polémicas que envolveram a autarca. Acerca do caso que levou a mãe a tribunal, quer deixar esse assunto onde já está: no passado. "Tenho muito mais para falar do que do facto de ser filha da minha mãe", diz, no início da conversa com a VIP. Aos 33 anos, Sandra Felgueiras conta com mais de dez anos como jornalista, em Portugal e Espanha. Na RTP tem realizado o sonho de ser uma contadora de histórias. Actualmente, dá a cara pelo Hoje, o noticiário da RTP2.

VIP – No ecrã transparece frieza e formalidade. É mesmo assim?
Sandra Felgueiras – Não (risos). Sou uma pessoa bem­-disposta e romântica. Sou tudo menos fria e formal.

Então a sua figura no ecrã é uma espécie de defesa?
Por vezes sinto-me num colete-de-forças, por causa desta capa necessária da credibilidade, que acaba por estar colada a qualquer jornalista.

Conseguiu conquistar facilmente a sua credibilidade?
É o pilar fundamental de qualquer jornalista e quem conseguir isso através da força da transparência e do rigor do seu trabalho, ganha esse lugar.

Como vê a sua evolução profissional?
Os desafios profissionais que tive foram-me todos colocados em alturas em que eu estava madura para os saber aproveitar. Pelo caminho também tive desafios emocionais e pessoais, que me fizeram crescer por dentro.

Refere-se ao caso que levou a sua mãe a tribunal?
Esse é um tema ao qual não quero regressar. São conjunturas familiares muito próprias, muito sentidas e muito duras. Adoro a minha mãe, da mesma forma que também adoro o meu pai. Apesar de nunca se falar sobre o meu pai, ele é o pilar da nossa família. Uma família que se aguentou e que aguentou as maiores atrocidades.

Enquanto jornalista, como conseguiu distanciar-se de toda a situação?
Com naturalidade, embora sempre tivesse a noção de que era difícil fazê-lo. Senti que era uma prova que teria de superar.

A velha teoria de "o que não nos mata, torna-nos mais fortes"…
É isso mesmo. E hoje sou mais forte.

Está descontente com o seu país?
Sou uma apaixonada pelo meu país. Com Lisboa tinha uma relação de Gata Borralheira. Vim para cá com 18 anos, vinda de Felgueiras, e foi como se perdesse uma parte de mim. Ainda hoje quando olho para o alfa pendular sinto angústia, porque quando saía de Felgueiras para vir para Lisboa, sentia que vinha para a minha madrasta. Hoje, esta cidade tornou-se no meu príncipe encantado. Consegui crescer aqui e tornar-me numa Cinderela. O meu "embrião" continua em Felgueiras e fico contente quando lá vou e toda a gente diz, “não mudaste nada”.

A justiça popular assusta-a?
É o pior inimigo da democracia. Hoje em dia há uma cultura generalizada de maledicência que acaba por dominar tudo. Podíamos ser um país muito mais bonito se não fôssemos tão maldosos.

Tem noção que é conotada como "a filha de Fátima Felgueiras"?
Infelizmente. Isso é injusto e admito que o facto de ter vindo para Lisboa, aos 18 anos, foi também para ganhar a minha identidade. Quando fui para a escola havia uma data de "Sandras", mas eu era "a Sandra, a filha da Fátima Felgueiras". Com o meu irmão aconteceu a mesma coisa. Lembro-me de uma vez em que ele me disse: "Tenho saudades que me chamem João." Sinceramente, se não tenho interesse, não falem comigo. Agora falarem só porque sou filha de alguém é muito triste. Até porque apesar de amar muito a minha mãe, de vê-la como uma referência e de sermos muito próximas, eu sou mais parecida com o meu pai, em todos os aspectos.

Pela forma como fala do seu pai, noto que têm uma relação muito cúmplice.
Eu sou a cara e o feitio do meu pai. Somos os dois rabugentos e temos ambos mau feitio (risos). Somos muito perfeccionistas, ao ponto de chegarmos a ser masoquistas connosco próprios. Se não fosse o meu pai, garanto que não era a pessoa que sou hoje. Ele é a figura da minha infância, aquela pessoa que me fazia as mesmas perguntas 30 vezes, antes dos testes. Aquela pessoa que lia as minhas composições e aquela pessoa que queria muito que eu seguisse Direito, mas que me incentivou sempre, desde o primeiro dia em que disse que queria ser jornalista.

Falando de avaliações, como é apresentar o Hoje?
Foi uma oportunidade que a Judite Sousa e o José Alberto Carvalho me deram. Agarrei este desafio de raiz e isso dá-me muito orgulho. Fui envolvida neste projecto desde o primeiro minuto e está a ser muito gratificante.

Como é apresentar um jornal de pé?
Foi uma ideia do José Alberto Carvalho e foi com muito agrado que a recebi. Revejo-me muito no formato. Estamos fartos de ver o mesmo Portugal sentado. Portugal de pé é sempre um Portugal com outra capacidade para olhar para as coisas (risos).

Em que lugar fica a reportagem de rua, que adora fazer?
A vantagem deste desafio é o facto de apresentar uma semana o Hoje e na outra estar em reportagem para o telejornal, da RTP. Não tenho a mesma disponibilidade, mas tento gerir tudo.

Com qual dos registos se identifica mais?
Tenho um espelho em casa e sei que faço bem reportagem. Nunca na vida quis ser pivô. Sou repórter e sinto-me muito orgulhosa do meu percurso. Sou uma contadora de histórias.
O que é para si fazer a diferença? Colocar o meu cunho em tudo aquilo que faço e faço isso todos os dias. Qualquer jornalista que distancie as suas emoções e a sua capacidade de sentir os factos, não está a ser um verdadeiro profissional. Claro que temos sempre de ter o rigor e a transparência que nos deve ser característico.

O que é que a tira do sério?
A maledicência, a capacidade que as pessoas têm de criar rumores e de fazer mal aos outros. A injustiça revolta-me.

E o que é que a faz feliz?
Momentos como este, em que estamos aqui a conversar e que tenho à minha volta as pessoas que me são mais importantes na vida. Neste caso são os meus amigos. Mas também tenho a sorte de viver no seio de uma família feliz. Adoro partilhar tudo aquilo que é bonito e isso faz-me feliz. Sou viciada no meu trabalho e isso também me faz sentir muito feliz. E muito realizada, acima de tudo. Sinceramente, não preciso de mais nada, nem de outro sítio para ser feliz.

Texto: Micaela Neves; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Manuel Medeiro 

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