Continua a somar sucessos. Nesta entrevista, Margarida Rebelo Pinto, de 49 anos, fala de amor, das relações, das mulheres portuguesas e da vida como ela é. Terminou há uns meses o namoro com o ator e modelo Afonso Vilela, mas não é mulher de guardar mágoas. Continua a acreditar e a investir no amor.
VIP – Os Milagres Acontecem Devagar é o seu 11.º romance e o 20.º livro. Já admitiu que os cinco primeiros foram os mais fáceis. Este foi o mais difícil de todos?
Margarida Rebelo Pinto – Não sei dizer se foi o mais difícil, o que sinto é que vai sendo sempre mais difícil, porque a escrita obriga a muita solidão e com o tempo a solidão cansa. Todos os escritores têm os seus temas de vida, como os pintores e os músicos. Vamos inovando com novas formas, mas os temas de sempre estão lá. Os meus são o amor, a dificuldade de entendimento nas relações, a família e como ela tem mudado, no fundo, a vida como ela é ou, pelo menos, como eu a vejo.
Na promoção do livro, destacaram a frase: “Precisamos de matar as coisas antes que elas nos matem”. Quer dizer que chegámos ao ponto de ou matamos ou morremos?
Quer dizer que não podemos ser demasiados permissivos nas relações amorosas nem com os outros nem com nós mesmos, ou corremos o risco de nos magoarmos. Há um momento em que a tolerância deve ser substituída pelo respeito. Ou estamos numa relação para sermos felizes e fazermos o outro feliz, ou então mais vale estar sozinha.
O livro retrata a incapacidade de as pessoas se fixarem e se entregarem completamente nas relações. Por que é que esta é a geração do livre arbítrio?
Porque pode ser, porque tem essa possibilidade. Podemos fazer o que queremos e muitos de nós tornam-se escravos dessa liberdade. Mas é como diz o Shakespeare: cada escravo carrega a chave da sua própria liberdade. Cabe a cada um de nós fazer o seu caminho, tentar perceber o que o limita, para amar mais e melhor e tentar melhorar os seus defeitos e manias. Quem não faz isso não evolui, não sai da roda do ratinho, como eu falo no livro.
Na página 263 há uma carta. Os seus livros têm sempre cartas. Gosta de ajustes de contas?
Todas as mulheres gostam. E todas precisam de o fazer. Quando uma mulher percebe que uma relação está a chegar ao fim, quer saber porquê e quer dizer ao outro o que a magoou. É uma espécie de balanço emocional, como fazem as empresas no final do ano. E as cartas são a forma mais direta e eficaz de o fazer. Além disso, sou apaixonada pelo género epistolar desde muito nova: livros como Cartas a um Jovem Poeta, do Rilke, Carta ao Pai, do Kafka, ou Alexis, da Yourcenar influenciaram profundamente a minha voz interior. Talvez porque são como conversas e eu gosto de sentir que estou a conversar com os meus leitores, enquanto escrevo.
Vi que a frase de que mais gosta no livro é: “Uma pessoa responde com a vida inteira às perguntas mais importantes”. Há um tema de vida que acompanha as pessoas? Qual o seu?
O que já referi: o amor, a gestão dos afetos, as relações familiares, o governo ou desgoverno dos conflitos interiores, a questão não de amar mas de como saber amar. Por isso, digo neste livro que o amor não é o que sentimos pelo outro, mas aquilo que somos capazes de fazer por ele.
Com este livro, quis falar do amor depois dos 40, refletir sobre a forma como as mudanças tecnológicas afetam as relações. Já terminou alguma relação por SMS, e-mail ou redes sociais?
Nunca. Era incapaz.
Terminou recentemente uma relação com Afonso Vilela. Como é que está a viver o amor depois dos 40 anos?
Não comento a minha vida privada, é minha e ninguém tem nada a ver com ela. O amor depois dos 40 pode ser vivido com grande intensidade, mas já não dá para ser vivido sem os pés na Terra.
É filha de uma economista que, mais tarde, tirou psicologia e de um biólogo. Presumo que o vício de analisar, qualificar e classificar as pessoas tenha vindo deles. É por isso que é difícil um homem sobreviver a uma relação consigo?
Ainda não morreu nenhum… [risos]
“Estou mais reflexiva, mais racional, mais dura e menos virada para o exterior”. O outro agora importa menos?
Não, o outro importa sempre muito. Quando estou numa relação, visto sempre a camisola, acredito e invisto, dou o melhor de mim e acredito sempre que vai correr tudo bem. Mas tenho de sentir o mesmo investimento do outro lado, senão, não vale a pena, é como jogar na bolsa em ações que sabemos que vão cair.
O AVC que sofreu mudou-lhe a visão do Mundo e da forma como se relaciona com as pessoas?
Claro que sim, deixou-me mais desperta, mais atenta. O meu lema de vida passou a ser: “temos de mimar aqueles que amamos enquanto cá andamos”. A vida é tão breve e as pessoas não se apercebem disso… Faz-me confusão quando vejo pessoas de quem gosto desistir de uma história de amor com medo de falhar, por exemplo. Não sei que poeta falou no quanto perdemos com o medo de perder… O medo é o maior inimigo do amor. Não se pode ter medo, mas também não se pode arriscar demasiado. É um equilíbrio difícil.
Já admitiu que tem uma obsessão com a vida. Isso está a aumentar com o passar dos anos?
Não, está na mesma. Mas está lá, porque a morte existe e tropeçamos nela todos os dias.
Sente que está a envelhecer com graça, sem perder a frescura?
Nem sequer me sinto a envelhecer. Sinto-me mais forte do que há cinco ou dez anos atrás, quer fisicamente, quer emocionalmente. Não me sinto a envelhecer. Espero, aliás, começar a envelhecer bastante tarde.
Leia a entrevista completa na edição número 912 da VIP.
Texto: Humberto Simões; Fotografia: Luís Baltazar; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e Cabelo: Vanda Pimentel com produtos Maybeline e L’Oréal Professionnel
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