Apaixonada por Lisboa, uma cidade que ainda a surpreende, 12 anos depois de ter deixado a “sua” Coimbra, Cleia Almeida admite que é na metrópole que quer viver, embora os sonhos a transportem para lugares bem distantes. Em conversa com a VIP, a atriz, que mais recentemente brilhou em Sangue do Meu Sangue, longa-metragem de João Canijo que bateu os recordes de bilheteira, tendo sido o filme português mais visto em 2011, confessa-se uma constante inconformada e está disposta a continuar a aprender… e a começar a ensinar.
VIP – O seu último filme surpreendeu muita gente, não só pelo número de espectadores que teve, mas também pelo reconhecimento em alguns festivais internacionais. Também foi apanhada de surpresa por este êxito?
Cleia Almeida – Com os prémios não, mas admito que não lhes dou muita atenção. Mas fico muita satisfeita, isso sim, com o facto de termos tido tantos espectadores. Foi um trabalho duro, até porque entrei numa fase posterior do projeto e foi preciso adaptar o papel às minhas características, que é algo que o João (Canijo) gosta sempre que os atores que dirige façam. Mas fico feliz pelo reconhecimento, claro.
Voltou a encontrar uma dupla com a qual já tinha trabalhado em Noite Escura…
O que é uma grande satisfação. Esta foi a minha segunda longa-metragem e a segunda com o João Canijo, uma pessoa em quem confio bastante. E depois há a Rita (Blanco), que mais do que uma colega é uma amiga. É a ela que recorro sempre que tenho uma dúvida… A minha mãe, que é médica e não percebe nada disto, está-me sempre a pedir para eu lhe agradecer muito (risos)… Admiro-a muito, não só pela pessoa que é, mas também pela carreira que construiu… Porque isto de uma boa carreira na representação é complicado de alcançar… Não se pode aceitar tudo.
Recusa muitos trabalhos?
Isto é mau de se dizer, principalmente com a situação que todos atravessamos, mas sim, recuso alguns. Não porque me ache melhor ou pior que os outros que os aceitam, mas porque juntamente com o meu agente, que antes de ser meu agente é muito meu amigo, pensámos bastante naquilo que eu queria construir. É preciso saber o que se quer mostrar aos outros. Depois, claro, há coisas que se fazem porque também precisamos de ter dinheiro para comer (risos).
É uma seleção difícil de fazer?
A maior parte das vezes não. Um critério que tenho muito em conta são as pessoas com quem possa vir a trabalhar. Porque isso muda a vida de uma pessoa, mesmo! Se o trabalho for feito com gente por quem se tem consideração, com quem estás à vontade, de quem se gosta, tudo se torna mais fácil. É-me mais fácil dizer a um ator que conheço “não me dês um estalo assim porque me estás a magoar” do que a alguém com quem não tenho tanta proximidade e com quem estou mais retraída. Enquanto puder, vou tentar orientar a minha carreira assim.
A representação é um mundo muito difícil, em termos de amizades?
Acho que não. Pelo menos não o vejo tão diferente como o mundo dos médicos. Ou dos advogados. Ou dos jornalistas… É tal e qual como quando se fala da promiscuidade, das drogas… Nesse aspecto a representação não é assim tão diferente de outras profissões.
Entretanto, vai regressar ao palco da Cornucópia, com Fingido e Verdadeiro…
O que é algo que me dá um prazer enorme. Gosto muito de fazer teatro e ainda para mais na Cornucópia.
Onde ainda o ano passado fez Catatua, do Luís Miguel Cintra…
Pois… Não me posso queixar muito de 2011… Foi um bom ano. Para além do filme, ainda fiz essa peça na Cornucópia e uma série televisiva que me deu um enorme prazer…
Maternidade…
Exato. Uma série como todas deviam ser. Com textos muito bem escritos, bons atores e um excelente realizador.
Foi um ano diversificado em termos de trabalho…
Falta-me uma “publicidadezinha” para equilibrar as finanças (risos).
E agora, parece que se vai mudar de armas e bagagens para Guimarães…
Pois é, afinal de contas é a Capital Europeia da Cultura, a cidade onde tudo acontece. Estive lá a fazer uma curta do António Ferreira e agora vou voltar para gravar com a Margarida Gil, uma realizadora com quem estou com grandes expectativas de trabalhar.
E depois? Já há planos para a sua carreira durante este ano?
Quando se chega a uma certa idade, e eu acho que aos 29 anos já lá cheguei, começamos a questionar o caminho que queremos percorrer e a pensar naquilo que queremos para nós mesmos. E confesso que tenho pensado muito na hipótese de ir para Moçambique dar aulas. Estou a elaborar um projeto com mais duas amigas e é muito provável que venha a ser concretizado num futuro próximo.
E ir para fora trabalhar?
Já tive mais essa vontade… Agora só se fosse para o Brasil. Todos os atores que lá vão trabalhar voltam com um astral muito positivo. Gostava de lá ir. Estou farta de mandar mensagens escritas ao Ricardo Pereira, mas ele não me liga nenhuma (risos).
Texto: Miguel Cardoso; Fotos; Luís Baltasar; Maquilhagem e cabelos: Tita Costa, com produtos Maybelline e L'Oréal Professionel
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