Já lançou duas dezenas de livros, tem outros tantos guardados na gaveta, reúne mais de 150.000 seguidores no Facebook e clubes de fãs espalhados pelo País, para além de muitos grupos de alunos a quem dá aulas de escrita criativa. Ao ponto de um grupo de leitores que “devora” a sua escrita ter criado um movimento para espalhar citações pelo País. Aos 34 anos, Pedro Chagas Freitas fala do amor de forma descomplexada e despretensiosa porque, diz, é a essência de tudo. No mais recente livro, Prometo Falhar, razão do nosso encontro, vinca a necessidade de percebermos que a perfeição não existe.
VIP – Prometo Falhar não é um bom cartão de visita…
Pedro Chagas Freitas – Então não? É o melhor cartão de visita. Quando acordamos, sabemos só uma coisa: que vamos falhar. Dizem-me muitas vezes que não é um título romântico; eu acho que é o mais romântico possível. Uma relação entre duas pessoas, sejam pais, amigos ou amantes, sustenta-se nesta capacidade de ser verdadeiro.
É uma promessa de sinceridade?
Sim. Não é a apologia do erro, mas se percebermos que o outro é humano, vamos ter menos dificuldade em perceber que o erro é natural. Porque eu não quero acreditar que uma pessoa fere outra propositadamente; portanto, assumo a falha como nada mais que isso, uma falha. Porque a perfeição é uma fasquia intangível.
Mais uma vez, o amor e as relações humanas são o centro deste livro…
Sim, porque fala-se tão pouco disso, e isso é que é o fundamental.
Encontramos o Pedro nestas personagens?
Eu estou ali esparramado, mas muito raramente de forma direta. Sou um ficcionista, quando crio uma personagem, uma história, procuro envolver-me muito, procuro estar inteiro no que escrevo.
Tem uma marca linguística muito própria, que levou até um grupo de fãs a criar o movimento Pedro Chagas Freitas, para espalhar citações suas pelas ruas. As pessoas identificam-se com essa linguagem do amor?
O efeito que provoca nos outros é muito diverso, recebo contactos de uma variedade tremenda, mas esse movimento é surpreendente. Andam a fazer o Facebook nas ruas, a escrever frases minhas por aí. O que eu procuro é escrever, acima de tudo, e não me vejo como um autor nessa linha da autoajuda. Foi surgindo este movimento, mas nunca foi minha ideia transformar a vida das pessoas, como algumas me dizem que aconteceu. Mas esse é um dos papéis da arte, envolver os outros.
Tem leitores muito díspares, conquista até pessoas que não costumam ler muito…
Acho que se deve a esta identificação e, talvez, à forma menos presunçosa como os sentimentos são expostos. Eu não sei se sou escritor, sei que escrevo, sei que o que escrevo envolve os outros e estou pouco preocupado com a forma como literariamente pode ser interpretado, estou mais preocupado com a forma como humanamente pode ser interpretado. Quando me dizem: “Este foi o primeiro livro que li”, fico muito satisfeito porque estou a “pescar” uma pessoa que não lia, e fico contente porque há pessoas que leem muito que também gostam do que escrevo. Às vezes, o mundo literário, os escritores, fecham-se num casulo. Para mim, os leitores são todos iguais, respeito-os todos da mesma forma. Têm todos capacidade de ler, de interpretar o que leem de acordo com aquilo que são, de reescrever. Fico muito feliz por ter leitores fora dessa redoma e quero cada vez mais liberalizar a literatura. Simplificar, não ver o escritor como um iluminado, mas como um operário da escrita. Qualquer pessoa pode ser escritora porque cada pessoa tem coisas únicas para dizer, não tem é, às vezes, as ferramentas para as dizer, mas liberalizar a literatura é o meu objetivo.
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Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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