A gravar a nova novela da TVI há três semanas, cujo título provisório é “Anjo Meu”, Alexandra Lencastre deu descanso à Joana Rita que vive na ficção para passar um fim-de-semana em Andorra com as filhas Catarina, de 12 anos, e Margarida, de 14. A actriz disse à VIP que está a viver uma das fases mais tranquilas da sua vida. As meninas são a sua prioridade e o amor passou a estar em segundo plano. Mesmo assim, Alexandra garante que “gostava de aos 90 anos ainda ir ver o Tejo de mãos dadas com o namorado”.
VIP – Já começou a gravar a nova novela da TVI. Este fim-de-semana na neve foi uma escapadela bem recebida?
Alexandra Lencastre – Não vou dizer que estou aqui completamente zen. Ainda estou a "carburar" a novela. Mas é muito giro vir para aqui e ver as minhas filhas independentes, a virem para as pistas sem mim e a desembaraçarem-se sozinhas. Isso é muito importante porque elas são muito agarradas a mim.
Elas sabem esquiar muito bem. Praticam desde pequeninas, não?
Elas gostam muito de neve e estão muito habituadas a ir com o pai. Uma tinha três anos e outra cinco quando começaram.
Não tem medo que elas caiam e se magoem?
Claro que tenho. Por isso, também, nunca experimentei fazer nem esqui nem snowboard. Até podia experimentar este fim-de-semana, mas por causa da mialgia nas costas o médico disse-me não posso fazer esforços.
Como arranjou isso?
Velhice (risos).
Anda a fazer fisioterapia?
Já fiz e tomo medicação. Esta escapadela não foi a melhor coisa para as costas, mas fez-me bem ao coração e à cabeça e as meninas estão felizes. É o que interessa.
É mesmo o que se costuma dizer, não é? Pelas filhas faz-se tudo.
É um amor que não se consegue descrever. Fazes tudo. Pedes a Deus para te dar a dor de garganta que elas têm a ti. É um amor raro, incondicional e não há mais nenhum tipo de amor que se compare.
Como é a vossa relação?
Eu queria ser mãe muito nova e nunca aconteceu. Fui mãe mais tarde e elas foram programadas, desejadas e foi uma altura muito feliz da minha vida. O Piet-Hein era um pai e um marido extraordinário. Acabei por ser uma mãe-galinha e um pouco obsessiva.
Consegue ser firme com elas?
Consigo porque é para o bem delas. Vivemos numa fase em que os miúdos são muito mais informados, mas são muito menos vividos e mais protegidos. Numa fracção de segundos têm acesso a toda a informação que quiserem…
Isso assusta-a?
Sim, porque induz a uma noção de facilitismo, de que nada custa a fazer, a pagar. Eu tento consciencializá-las de que vivemos numa altura de crise e que temos de ser poupadas.
E elas percebem isso?
Sim. E também percebem que há pessoas que têm menos e que podemos ajudá-las. Por exemplo, quando fomos a Cabo Verde levámos muitos lápis, papéis e chocolates. E todos os anos levamos roupa à igreja.
Qual delas é mais parecida consigo?
Eu acho que é uma grande "misturada". A Margarida é mais parecida comigo por também ser uma drama queen. Mas é mais fria do que eu. Há um dia que é o dia da desgraça dela. Mas é só esse dia, porque no outro ela recusa-se a estar triste. Depois tem defeitos que ela diz serem características. É como o pai em muitas coisas: são ambos canhotos, distraídos e esquecidos. Às vezes dá-me umas lições que eu fico sem perceber como é que ela tem tanta maturidade. A Cuca é mais introspectiva. Temos a mesma forma de reagir, fazemos as mesmas perguntas. É concisa, diz-me "adoro-te, mãe" e está tudo dito.
O que é que elas querem ser?
A Margarida quer ser actriz, o que é uma chatice, porque não me apetecia nada, mas… Para o ano vai para a escola do Carlos Avillez e vamos ver como corre. A Cuca é muito pragmática. Agora está numa fase em que diz que quer ser fotógrafa e por acaso tem jeito.
Está preparada para lidar com a adolescência? A Margarida está quase lá.
A Margarida já me mata dos nervos, sem se aperceber. Às vezes digo-lhe "se calhar era boa ideia ires viver com o teu pai". Digo isto com o coração apertado, claro. Mas acho que ela precisa destes abanões porque muitas vezes não se apercebe que está a ser cruel pedindo coisas que ainda não tem idade para fazer. Mas depois tem coisas fantásticas. Protege muito a irmã, por exemplo. São as duas muito diferentes, mas muito amigas.
Curiosamente, parece-me que elas também são muito protectoras em relação a si. Por exemplo, disse recentemente que elas tinham tentado arranjar-lhe um namorado?
Sim, elas ficaram danadas por isso ter saído. Mas a verdade é que era o pai de uma colega delas e elas quiseram combinar um jantar entre nós. Agora até tenho imensa vergonha de falar com o senhor, porque a filha dele e as minhas estavam a tratar de nos juntar.
Temos umas casamenteiras…
Elas sempre foram contaminadas pela vivência com o pai. Apesar de ele ter saído de casa com elas ainda muito pequeninas, guardam memórias. Acho que as contaminei com o meu desejo de partilha, de família. Como o pai voltou a casar e a ter filhos, elas sentem a nossa casa um bocado vazia.
Acha que é por ter tido essa época tão feliz que está sempre numa constante busca de felicidade?
Este ano fez-me estabelecer prioridades de uma forma mais serena, menos ansiosa. Acho que estou a atingir uma das fases mais tranquilas da minha vida. Claro que tem a ver com a idade, com o facto de criar menos expectativas, mas não tem a ver com amargura. As minhas filhas são a minha prioridade absoluta. Não ando à procura de nada agora. Durante algum tempo andei, até porque o Piet-Hein reconstruiu família e eu acreditei que isso me ia acontecer também. Agora já tenho dúvidas. Mas gostava de aos 90 anos ainda ir ver o Tejo de mãos dadas com o meu namorado… também de 90 anos.
Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Zito Colaço
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