Micaela
As lágrimas ao falar do divórcio, dos filhos, da depressão e do trabalho nas limpezas

Nacional

Micaela fez um balanço da sua vida no Alta Definição. A cantora falou do “terrível” divórcio, da depressão, dos filhos, da música e do trabalhas limpezas em Inglaterra.

Sáb, 07/11/2020 - 19:00

Micaela não conteve as lágrimas ao falar do “terrível” divórcio, dos dois filhos, da depressão e do trabalho nas limpezas em Inglaterra. A cantora foi a convidada deste sábado, 7 de novembro, do “Alta Definição” e fez um balanço da sua vida.

A intérprete de músicas como “Desliga a Televisão” ou “Chupa no Dedo”, que está a comemorar 25 anos de carreira, emocionou-se ao falar com Daniel Oliveira sobre o divórcio do pai o primeiro filho, com quem estava desde os 18. O casamento chegou ao fim passados seis anos.

O divórcio que lhe tirou tudo e a deixou com um filho nos braços

“Fui mãe solteira só com o Bruno (filho mais velho). É um desafio e é uma prova de vida, na minha fase, porque não foi fácil. Tinha 24 anos. Era uma garota. Quando levas um abanão como eu levei e ficas com um filho nos braços… É duro. Mas a família, o pai, a mãe, a avó, a tia, deram-me a estrutura que precisava para te me voltar a erguer, não ir abaixo e não me esquecer que era pessoas”, começou por contar.

“Ele era muito mais velho. Eu sempre tive tendência para relações com pessoas mais velhas. Acreditas que, por aquela pessoa ter mais idade que tu, te vai dar estabilidade, equilíbrio. De repente, aquilo não existiu e ainda ficaste completamente perdida, desequilibrada… também financeiramente”, relatou.

“Fiquei sem autoestima e cheguei a pesar 40 e poucos quilos”, disse Micaela

“Tudo falhou. A tua relação, o teu casamento, com um filho, e a tua vida profissional porque estava tudo interligado. Terrível. Cheguei a pesar 40 e poucos quilos. Não me olhava ao espelho. Fiquei sem auto estima. Foi terrível”, revelou. “Sempre me considerei uma mulher lindíssima, de bem com a vida. E, de repente, ouves coisas que te diminuem como mulher, como pessoa, de alguém a quem confiaste a tua vida e a tua vida profissional”, partilhou.

Foi o filho que a fez lutar e seguir em frente. “Depois tens um filho, e de repente olhas para ele e dizes não. Calma lá, tu precisas de ser muito mais do que isto. Então bora para a frente.” Após a separação, Micaela esteve “dois anos sozinha”. E nesse tempo esqueceu-se de si, porque a prioridade era o filho e o trabalho, para arranjar dinheiro para o sustentar. “Nesses dois anos não tinha que ser a mulher. Tinha que ser a mãe, tinha que trabalhar muito, e tive mesmo que trabalhar muito, porque tinha muitas coisas às minhas costas”, contou.

Apesar de tudo, a cantora manteve sempre para o filho. “Sempre. O meu filho nunca soube de nada até a uma determinada altura que teve de saber, porque a minha exposição em termos de profissão era alguma e há um momento em que entro num programa de televisão e começam a sair nas revistas certas coisas que ele começa a ouvir na escola”, disse, adiantando: “Foi ai que percebi que era hora de falar com ele. Não abrindo o jogo todo, porque acho que não há necessidade, mas pelo menos ele ter alguma noção. E ele deu-me uma lição de vida maravilhosa que foi: eu estou aqui, o pior já passou, agora vamos seguir em frente”, partilhou.

A depressão levou Micaela para Inglaterra onde trabalhou nas limpezas

Micaela teve de emigrar para Inglaterra, onde trabalhou como empregada de limpeza. “Os meus filhos foram comigo. E, de repente, viram a mãe a sair de uma situação que era de palco, estrelato e reconhecimento e de repente a mãe estava a trabalhar num Marks & Spencer, nem estava a trabalhar num hotel. Mas a mãe estava ali porque tinha de estar, porque a mãe não tem medo de trabalhar. É isto que passo aos meus filhos: é muito importante sermos honestos, trabalharmos, que assim não nos faltar nada. E hoje podemos estar aqui (em cima) e amanha aqui (em baixo), mas com a mesma honestidade, com o mesmo amor e com a mesma entrega. E é nessa altura que ouço o meu filho dizer assim: ‘Mãe, tenho tanto orgulho em ti’”.

A cantora explicou que foi para Inglaterra porque fez as “escolhas erradas”. “Tive de procurar uma nova agência e é nessa altura que me descaracterizei completamente. Gravei coisas que não têm nada a ver comigo, sujeito-me a uma imagem que não tem nada a ver comigo. Saía do palco com profunda tristeza. Estava a enganar-me e ao meu público. Entrei numa depressão”, contou.

A cantora não se arrepende

E essa altura coincidiu quando “a minha mãe foi para Inglaterra ajudar a minha irmã. Eu bati no fundo. E tinha ali dois filhos, tinha que fazer qualquer coisa rapidamente. Essa agência onde estava falha por problemas financeiros e a minha mãe disse-me para ir ter com ela. Levei os meus filhos, mas os espetáculos não chegavam para as despesas”, lembrou.

Em Inglaterra, “limpei quartos, depois fui trabalhar nas limpezas de um Marks & Spencer (hipermercado). Não me arrependo, não havia nem mágoa, nem dor e fazia concertos ao mesmo tempo”, revelou.

Micaela esteve lá “quase dois anos e meio”, até que conseguiu voltar a fazer, a tempo inteiro, aquilo que mais gostava: cantar.

Texto: Inês Neves; fotos: D.R.

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