Recentemente, em conversa com Júlia Pinheiro a artista voltou a recordar esta fase negra da vida: “Todas as aproximações, tentativas e circunstâncias era sempre sozinha. Faz parte do perfil do abusador procurar quando a criança está sozinha e de uma forma lúdica e até brincalhona, aparentemente inocente, elogiar e empoderá-la”. E completou: “Eu não percebia nada do que se estava a passar (…) Tinha que me proteger, tinha que fazer um telefonema numa altura adequada, em que a pessoa não estivesse em casa, sei lá o que podia acontecer. Pedi para telefonarem porque eu não podia mexer no telefone, a minha mãe achou estranho e foi imediatamente buscar-me”.
Apesar de ter contado à mãe, nada aconteceu: “A minha mãe foi mãe muito jovem, a minha tia mais velha era a matriarca, criou uma data de crianças e nós vivíamos na casa dela. Havia um respeito e confiança e o conselho dela era para a minha mãe não fazer nada…”
Melania Gomes revela o desenho perturbador que fez
Apesar de se cruzar em festas de famílias com o abusador, revela: “Nunca voltei a estar sozinha, nunca me voltei a sentir ameaçada, nem nunca voltei a estar em perigo. Eu acho que essa pessoa percebeu que escolheu mal a criança e se tentasse uma nova aproximação iria ser descoberta”. Mas confessa que existiram mais vítimas: “Tenho a certeza absoluta, muitas outras crianças ao longo da vida. Hoje, se eu soubesse o que sei, com ele vivo, tinha rebentado a bolha para a família, por uma questão de ser uma pessoa que pode fazer e faz de novo”.
Quanto aos desenhos revela: “Estava um órgão sexual masculino em mim, que eu desenhei”. E remata: “Mesmo aquelas crianças que não pedem com palavras ou aquelas em que ninguém acredita, outras pedem ajuda com desenhos, com maus comportamentos, com coisas que as pessoas pensam que são birras. São pedidos de ajuda. Tem que haver muito diálogo, prevenção, validação”.
Texto: Maria Constança Castanheira; Fotos: Redes Sociais