Matias Damásio é atualmente um cantor com inúmeros sucessos, mas até chegar ao topo da carreira viveu uma vida verdadeiramente dramática. Passou fome, viu a morte e a guerra em Angola de perto e sofreu abusos sexuais. O cantor, de 36 anos, fez estas revelações dramáticas em entrevista a Daniel Oliveira, no Alta Definição, deste sábado, 27 de outubro.
«Nasci em 1982 numa fase muito difícil, crítica de Angola, em que as crianças viam cadáveres todos os dias, o que não é normal. Viam os parentes próximos a morrer, a guerra, a água que bebíamos era com muitas dificuldades, a fome… Se não fosse Deus não sei se estaria aqui depois de tantas coisas que passei», começa por contar. Vivia uma realidade tão difícil, que nem sonhar lhe era permitido. «Fui sonhando aos poucos, sofria muitos bloqueios quando dizia que queria ser alguma coisa, levava uma chapada na boca. Sempre vivi com essa realidade, nunca pensei na minha vida chegar aqui», confessa. «As nossas referências era o pai que morreu na guerra, o tio que perdeu uma perna na guerra, havia prioridades que era o não morrer amanhã, estar vivo, que uma bala perdida não passasse por ti. A paz foi muito importante para Angola e depois com a ida para outros lugares foi possível eu sonhar», acrescenta.
Matias Damásio conta também que quando se vive um contexto de pobreza extrema, a maior prioridade é mesmo continuar vivo. «Dá-se valor à vida e ao próximo, dá-se valor às coisas pequenas como ter almoço e jantar, beber um pouco de água, coisas normais mas que na altura eram extremamente diferentes. Não comer durante o dia ou não ter uma refeição era uma coisa comum».
Os abusos sexuais aos 12 anos em troca de comida
Matias Damásio tinha 12 anos quando foi abusado sexualmente por uma mulher mais velha que lhe prometeu comida. «Tive a minha primeira tarde de sexo mas de forma diferente, fui abusado sexualmente por uma mulher adulta, na altura não tinha consciência que era uma coisa tão má e não me pesou tanto. Achei até muito interessante no sentido de como foi em troca de bens alimentares fiquei tranquilo. Só percebi que sofri abuso sexual muito mais tarde… hoje às vezes lembro-me disso, é uma coisa que doí, é horrível. Volta e meia ela falava comigo e a coisa acontecia. Era ela que propunha», revela. A abusadora era uma pessoa próxima da família. «Era muito próxima da minha mãe, mas eu nunca disse à minha mãe. Finjo que isso não existe mas lembro-me como se fosse hoje, foram várias e várias noites», continua. «Era uma vizinha, já devia ter uns 40 e tal anos».
Os abusos sexuais só terminaram quando a mulher se afastou. «Por sorte ela mudou-se, nunca mais a vi cara à cara».
Abusos sexuais tiveram consequências na vida sexual de Matias Damásio
Numa entrevista carregada de emoção, Matias Damásio revela que os abusos sexuais tiveram consequências na vida amorosa. «Falta de ereção quando comecei a minha atividade sexual normal. Quando me apaixonei foi um problema grande. Ela [a abusadora sexual] obrigava-me a pôr a lingua, a fazer a introdução com aquele peso enorme, era uma mulher mais forte».
Matias Damásio diz que ultrapassou o trauma, mas que nunca vai esquecer o que sofreu. «Ultrapassei sozinho, tentando esquecer. Às vezes que caí pensei que não fosse levantar mais».
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-A Quebrar o Silêncio presta apoio a homens vítimas de abusos sexuais. Consulte o site aqui. Para pedir apoio, ligue 910 846 589 ou use o e-mail [email protected]
Fotos: Impala
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