É um transtorno psicológico que afecta milhões em todo o mundo. Tal como milhares de pessoas, Marta Fernandes lidou, durante quase uma década, com ataques de pânico. A atriz explica como descobriu que sofria desta perturbação e de como decidiu enfrentar o problema.
Quando é que decidiu admitir que tinha um problema e tinha de procurar ajuda?
Os sintomas de um ataque de pânico são demasiado evidentes para acharmos que está tudo bem. O grande problema do pânico é o medo do medo. Começa-se a ter medo de voltar a passar por uma situação daquelas. Quando começam a ser recorrentes, a fazerem parte do nosso dia a dia, começa-se a achar que é uma doença que tem de ser tratada como outra qualquer. Comecei a procurar formas de me sentir melhor. É um processo muito individual.
Quando é que teve o primeiro ataque de pânico?
Foi em 2008. Depois melhorei. Fui para Madrid, para sair do meu ambiente, das minhas rotinas, para tentar perceber se era cansaço, desgaste. Entretanto engravidei, passei super bem a gravidez. Foi um assunto no qual nunca mais pensei e, depois, voltou a complicar-se quando a Maria tinha mais ou menos dois anos. Voltei a ter ataques com muita frequência.
Com uma criança é muito mais angustiante porque não depende só de si.
É. Essa consciência de que há outro ser que depende de nós e que estamos instáveis provoca ainda mais instabilidade. Depois há a questão hormonal, o cansaço… É possível que eu tenha tido uma depressão pós-parto que não identifiquei imediatamente. Isto tudo acabou por se juntar e começaram as crises mais frequentes. Foi aí que decidi fazer um tratamento porque não havia outra hipótese. Aliei várias terapias, fui percebendo o que funcionava melhor comigo.Era seguida regularmente por um psiquiatra e um psicólogo. Depois comecei a fazer o meu trabalho individual. Procurei outras terapias, comecei a fazer exercício, mudei a minha alimentação… Tem que se encontrar o equilíbrio. O mais difícil de lidar nos ataques de pânico é com a frustração. Porque é que eu, sendo feliz, tendo tudo o que sempre quis, tendo uma filha incrível, uma família que me apoia incondicionalmente, tendo amigos fora de série e sendo saudável, porque é que eu não controlo esta parte? Por mais que nos digam ‘vais ficar bem’…
Isso, às vezes, até se torna irritante.
Sim. E é difícil de lidar também com o facto de não ser um processo linear. Há altos e baixos. Depois há a parte química, que as pessoas desvalorizam muito. Nós somos química e, às vezes, há químicos que é preciso repor no organismo e há muitas formas de o fazer. Não se podem desvalorizar todas as terapias.
Há algumas correntes da psicoterapia que defendem que não se deve tomar medicação, o que acaba por não se adequar a todas as pessoas…
Esse estigma de que o pânico, a ansiedade, a depressão são questões apenas existenciais é errado! É preciso desmistificar isso. Os medicamentos servem para nos porem numa situação mais confortável em que, depois, sim, tenhamos força para encontrarmos o nosso caminho. Eu cheguei a esse ponto, em que tive de admitir que precisa de uma ajuda mais especializada, de medicamentos, para sair do sítio onde estava.
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