Um dos mais carismáticos jogadores e treinadores de futebol nacional, Mário Wilson faleceu a 3 de outubro, aos 86 anos, vítima de complicações derivadas de um acidente vascular cerebral. A morte repentina do seu grande amigo Eusébio deixou-o muito abalado.
Tanto que, poucos dias mais tarde, sofreu um acidente vascular cerebral que viria a revelar-se a médio prazo, fatal para os seus 86 anos. Na altura do desaparecimento do “Pantera Negra”, Mário Wilson não escondeu a admiração pelo amigo, revelando à Antena 1 que ele teria sido “o maior. Brilhante em todos os aspetos. Esta época agora é do Ronaldo, mas quem naqueles tempos tivesse feito o que ele fez, jamais se poderia esquecer”. Mário Wilson começou a sua carreira futebolística na equipa “Os Fura Redes”, em Moçambique, uma formação sem cariz oficial, com sede na sua casa e dirigida pelos seus irmãos.
De início, espraiava os seus dotes desportivos por outras modalidades como o basquetebol, atletismo ou voleibol, mas cedo o futebol se sobrepôs e a sua estreia oficial ocorreu no Desportivo de Lourenço Marques, tendo ainda passado fugazmente pelo Clube Indo-Português. O seu apelido veio do avô paterno, Henry Wilson, segundo ele “um judeu americano que foi para África em mil novecentos e troca o passo, numa altura em que só existia uma mulher branca em Moçambique. Pouco depois de lá chegar, apaixonou-se pela filha de um régulo. Roubou-a, levou-a consigo e teve seis filhos.
Dotado de uma capacidade admirável, ele agarrou nos seis filhos e pô-los a estudar na África do Sul, onde apesar do apartheid se conseguiam níveis culturais fantásticos”, conforme confidenciou ao “Expresso” em Outubro de 1995. Aos 19 anos de idade, Mário Wilson estreou-se no Sporting Clube de Portugal, colado ao rótulo de substituto de Peyroteo, que havia terminado a carreira. Logo na temporada de estreia foi o melhor marcador dos Leões no Campeonato Nacional, com 24 golos apontados. No entanto, na segunda época em Alvalade, a sua utilização não foi tão regular, passando mesmo alguns períodos pela equipa de reservas. Em 1951 foi estudar para Coimbra e, numa transferência rodeada de alguma polémica, acabou por ingressar na Académica local, onde passou a jogar como defesa. Foi ao serviço deste clube que jogou até ao final da sua carreira como jogador, em 1963.
O “velho capitão”
Ainda na Académica, iniciou uma longa carreira de treinador, levando os estudantes a um fantástico segundo lugar no campeonato e a mais uma final da Taça de Portugal. Mas foi ao serviço do Sport Lisboa e Benfica que o “Velho Capitão”, como ficou conhecido, teve os seus pontos mais altos, ao ser o primeiro treinador português campeão nesse clube e ao ganhar duas Taças de Portugal. Depois de orientar outros clubes, entre os quais o Grupo Desportivo Estoril Praia, Mário Wilson retornou ao Benfica no catastrófico reinado de Artur Jorge, um ex-avançado que, curiosamente, chegou à luz pela sua mão. Com a inevitável saída de Artur Jorge, Wilson assumiu uma equipa desfeita, conseguindo a vitória na Taça de Portugal, batendo o Sporting por 3-1.
Ao serviço da Seleção Nacional, como treinador, criou, na primeira metade do apuramento para o Europeu de 1980, uma onda de euforia como há muito não se via, graças a uma vitória na Áustria (2-1) seguida de outra em Lisboa com a Escócia (1-0). No entanto, a sina portuguesa dos não apuramentos não seria quebrada e uma derrota em casa com a Áustria (1-2) deitou tudo por terra, pelo que o trabalho de Mário Wilson não teve o brilho que talvez merecesse. A sua passagem pela Seleção Nacional ficou também marcada por uma enorme polémica envolvendo José Maria Pedroto e Pinto da Costa, já que, em Setembro de 1979, Mário Wilson convocou nove jogadores portistas para o encontro particular com a Espanha, em Vigo, a oito dias do embate dos dragões com o AC Milan, na segundo eliminatória da Taça dos Campeões. Passou ainda pelos comandos de equipas como o Belenenses, Boavista e Vitória de Guimarães, entre muitos outros clube de menor dimensão, principalmente na fase final da sua carreira, onde chegou a trabalhar nas divisões secundárias do futebol português, para além de ter passado pelo FAR de Marrocos.
A sua filha, Ana Wilson, foi a Miss Portugal de 1982, tendo-se dedicado à posteriori ao agenciamento de modelos, enquanto o filho Pedro enveredou por outro tipo de artes; na música, esteve no projeto Valdez e as Piranhas Douradas, um grupo de música kitsch da década de 1990, continuando na representação, nas séries “Rua Sésamo”, “Liberdade 21” ou “Pai à Força”. O seu neto Bruno Wilson, nasceu em 1996, e jogou nas equipas de base do Sporting, como um promissor defesa central. Foi, entretanto, contratado pelo Sporting de Braga, para reforçar a equipa B. Na época passada, realizou 24 jogos e apontou um golo pela formação júnior dos leões. O central é também internacional jovem por Portugal, contando 18 internacionalizações nas seleções sub-16, sub-17 e sub-18.
Texto: Luís Peniche; Fotos: Impala
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