Maria Henrique, de 50 anos, sempre foi uma mulher versátil. Atriz, encenadora e, frequentemente, diretora de atores, é a interpretar personagens que se sente realizada. Porém, é «workaholic» e anda sempre à procura de um projeto novo.
«Acima de tudo, eu sou atriz, mas como o meu trabalho de atriz é observar pessoas – e eu amo pessoas –,nós estamos sempre a inspirar-nos em seres humanos e eu gosto muito dos olhares, das mãos e, por isso, sempre adorei fotografia…. E fotografar pessoas», começa por contar há exatamente uma semana, dia 22 de fevereiro, a Ana Marques e José Figueiras, no programa Alô Portugal.
É sentada à conversa com os dois apresentadores, que Maria Henrique conta como se lançou como freelancer no mundo dos cliques. «Como eu gosto de levar sempre tudo muito à séria, fui tirar um curso de fotografia muito completo, na restart, há quatro anos.»
Por isso, ocorreu-lhe a ideia de procurar formação naquela que é considerada a 8ª Arte. «Tirei um curso de fotografia, tentado conciliar com a loucura da minha profissão, porque sou atriz. Fiz fotografia de espetáculo, fotografia de retrato, fotografia de autor, fiz fotojornalismo…», enumera.
«Pensei: ‘Na fotografia, como é que eu posso melhor captar momentos irrepetíveis?’ E, de repente, fez-me todo o sentido. Se eu gosto tanto de seres humanos, captar o nascimento de um ser humano».
Assim, lançou-se na aventura.
«O meu objetivo é que ninguém dê por mim»
O seu projeto intitula-se «Fotografia de parto e de primeiras horas de vida» e é a própria quem explica em que é que o mesmo consiste. «Eu faço a chegada do casal ao hospital, faço o acompanhamento, a preparação da mulher, até vou tomar um café com o marido que está nervoso. Acompanho a preparação toda. Ui… há muita psicologia por trás», ri-se, enquanto se desfaz em confidências.
É nesta altura que Ana Marques sublinha que a tarefa de registar momentos, geralmente, cabe ao pai, que, envolvido no momento, mal consegue dar conta do recado. Por isso, é preciso alguém quase invisível que capte estas emoções todas».
«E é muita pressão. Com estas novas tecnologias, do pai ter de filmar ou fotografar com o telemóvel, ele não vai fazer nada de jeito. Primeiro, porque não vê o filho a nascer, não está a partilhar aquele momento com a mulher e, depois, quando vir aquilo que fez no telemóvel, não fica nada de jeito», refere Maria Henrique, salientando a pertinência da sua lente, no lugar certo, ao segundo exacto.
Com bom foco, o milagre acontece e os registos são impressionantes. Mas há que saber ocupar o seu lugar, daí a intérprete de personagens estar sempre num cantinho, longe da ação principal. «O fascinante é que, como atriz, eu estou na ribalta, toda a gente me vê. Como fotógrafa, o meu objetivo é que ninguém dê por mim. Eu já sei muito bem estar numa sala de partos onde ninguém me vê, nenhum profissional de saúde dá por mim, não incomodo absolutamente ninguém. Com uma boa lente, nós conseguimos captar os grandes momentos»
Horas a fio fechada numa sala de partos
A verdade é que o momento é delicado e aqui a frase corrente «cada caso é um caso» classifica-o na perfeição. Por isso, o trabalho só fica concluído na seleção final das fotos. «Tiro muitas fotografias e sou eu que faço uma triagem. E as fotografias que acabam por ser mais gráficas, nunca chegam aos pais. O que é que chega aos pais? O mais belo… O mais bonito, aquilo que eles querem», explica a fotógrafa. «E não só momentos do nascimento do bebé, são reações da mãe, as primeiras expressões, momentos de cumplicidade entre o casal, a primeira vez que o bebé toca no peito da mãe. São esses laços afetivos todos dos primeiros momentos que são mágicos.»
E nem todos os partos são rápidos. Há situações mais demoradas, mas Maria Henrique nunca abandona o barco, mesmo que o parto dure 18 horas… «Eu sou a primeira a chegar ao hospital para receber este casal e acompanho e crio esta cumplicidade com o casal. E depois eu fico lá as horas que forem necessárias. Faço o parto, as primeiras horas de vida…» até estar tudo devidamente retratado.
«Muitas vezes estou a fotografar e estão as lágrimas a correr-me pela cara»
Maria Henrique está encantada com a nova profissão, onde pode captar instantes únicos de «um ser tão frágil a começar a ser protegido e a ser pesado e a ser limpo, o primeiro toque…»
«Eu opto pelas fotografias a cores. Quando eu sinto que poderão ser um bocadinho mais gráficas e não há necessidade, ponho-lhe um preto e branco ou quando há um bocadinho de sangue, que é normal, porque o bebé ainda não foi limpo.»
É de sorriso largo, que a atriz relata que é frequente deixar contaminar-se pela emoção. «Muitas vezes estou a fotografar e estão as lágrimas a correr-me pela cara. Porque é tão lindo, tão lindo… Eu sou a privilegiada, porque sou eu que estou a ver tudo…»
De salientar que tudo começa porque foi a própria Maria Henrique que fotografou «o parto da Caetana, a filha mais nova da Fernanda Serrano» tal como relembrou Ana Marques. «E foi lindo, foi lindo, lindo…», relembrou a atriz, que, a partir daí, nunca mais largou as objetivas.
Texto: Tânia Cabral; Fotos; Reprodução Instagram
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