Maria Elisa contou a Manuel Luís Goucha que viu a mãe morrer. A jornalista, de 70 anos, foi a convidada deste sábado do programa da TVI “Conta-me”. E passou em revista a sua vida pessoal e profissional, falando de amor, da carreira, da morte da mãe e do pai e da grande paixão que sente pelo teatro.
A mãe de Maria Elisa morreu aos 88 anos. Três anos antes, teve um cancro da mama, que superou, mas nos dois seguintes surgiram algumas complicações que a levaram a ficar com alguma demência. A jornalista revela que, no dia em que ela morreu, algo a fez não ir trabalhar. Conseguiu, assim, estar ao lado dela no seu último suspiro.
“A minha mãe era uma pessoa muito pessimista, era uma pessoa tremendista. Nesta altura, ficou diferente. Na fase final ficou com alguma demência e ficou uma doçura. Era de uma amabilidade extrema. Acho que a minha mãe morreu feliz, em casa, tranquilamente. Os médicos já me tinham dito três vezes: ‘Prepare-se que é agora’. E ela ultrapassou todas. Na altura, eu ainda trabalhava todos os dias. Naquela tarde, decidi não ir trabalhar, não sei porquê”, recordou.
“Eu estava ao lado dela quando a minha mãe morreu e foi um suspiro levíssimo durante uma sesta. Tiveram de me dizer: ‘Olhe que a mãezinha partiu’. Morreu tranquila. Isso deixou-me uma grande esperança. Talvez numa fase final possamos ter este apaziguamento com a vida que eu vi acontecer na minha mãe”, disse a jornalista a Manuel Luís Goucha.
Maria Elisa perdeu o pai há mais de 20 anos e pouco tempo teve para se despedir dele. Acredita, inclusivamente, que houve negligência médica. “O meu pai adoeceu e morreu em três dias. Tenho a certeza de que por negligência médica, mas na altura não fiz nada e agora é tarde. São coisas difíceis de provar”, admitiu, explicando que com a morte da mãe assumiu o papel de mais velha na família.
Maria Elisa implacável: “Detesto reality shows”
Maria Elisa casou-se aos 62 anos com o advogado norte-americano Sanford Hartman e reformou-se aos 64. Mantém uma vida afastada dos holofotes e da televisão, mas nem por isso pouco ativa. Gosta de estar rodeada de livros, que usa para fazer as suas pesquisas e admite que com esta pandemia tem visto mais televisão. Tem consumido mais informação e aproveita para dar a sua opinião sobre a televisão de hoje em dia.
“Detesto reality shows, é um programa onde há uma estupidificação… Numa situação limite, se puséssemos uma pessoa a matar outra ao vivo ainda tinha mais audiência e acho que um canal de televisão que tem obrigações não pode levar-nos a a cair tão baixo… Não acredito nada que aquilo é feito como laboratório, é feito para dar audiência e dá. O que eu compreendo, e tenho muito mais apreço, são os programas da manhã e da tarde, nos quais se pode falar de tudo, nos quais se falam de temas sérios e de uma maneira ligeira, mas com alguma profundidade, com estudo, com entrevistas inteligentes que podem ser úteis às pessoas”, sublinha.
A bajulação de terceiros por ser Diretora de Programas
A jornalista recebeu uma educação católica da parte da mãe e comunista da parte do pai. As restrições que o tempo em que viveu quando era adolescente obrigavam, também fruto da educação em casa, fizeram com que se casasse aos 19 anos. Desse casamento nasceu Gil, atualmente com 46 anos.
Maria Elisa teve sempre uma vida cheia profissionalmente e conseguiu um cargo com poder quando ainda era muito nova. “Fui a primeira mulher diretora de programas de um canal de televisão (RTP e SIC). Não foi mais-valia nenhuma ser mulher naquele lugar de poder, sobretudo na RTP em 1980. Eu tinha 30 anos, tinha 600 pessoas a meu cargo, a maioria eram homens. Foi andar a ver onde estavam as cascas de banana o tempo todo e mesmo assim escorregava em várias”, recordou, para depois acrescentar que aprendeu muito com esse cargo.
“Eu aprendi imenso com o poder quando o perdi. O poder foi importante no momento em que o perdi e vi o que as pessoas eram. Vi como é que as pessoas passavam a tratar-me, vi os meus grandes amigos… Lembro-me de, nessa segunda vez (na SIC nos anos 98/99), entrar em casa no dia em que fazia anos e era como se entrasse num cemitério florido… Tinha ramos de flores da minha altura. No ano a seguir, quando já não tens poder nenhum, vês o que recebes, vês quem te telefona e quem são os teus amigos. Até a parte da bajulação foi piorando, da segunda vez… A segunda foi tremenda, muito pior do que a primeira a esse nível da desilusão e faz-se a triagem”, sublinha.
Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotografias: Arquivo Impala e reprodução redes sociais
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