Maria das Dores está presa há 11 anos pela morte do marido, o empresário Paulo Cruz. Foi condenada, em 2008, a uma pena de 23. O primeiro dia em que entrou na cadeia foi o último em que viu o filho mais novo. Duarte tinha na altura sete anos e foi a tribunal «pedir ao juiz para que a mãe não existisse mais».
«Não vejo o meu filho desde o primeiro dia em que entrei na cadeia. Não porque o tribunal tenha dito que não. Aliás, era suposto vê-lo todas as semanas. Houve uma marcação para ele me visitar, porque entrei e fui parar à Clínica Psiquiátrica de Caxias, e até era um lugar mais calmo para me visitar, mas ele não apareceu. Ninguém o levou. Foi-me dado um número de telefone para eu ligar, mas ninguém me atendia», conta.
Maria das Dores sabe que Duarte frequenta o segundo ano de Medicina. Diz ter «a parede e os armários [na prisão, que define como uma «caixa fechada onde se respira mal»] forrados com fotografias» do filho mais novo, que lhe chegam «de todo o lado e mostram o crescimento dele». «É um lindo rapaz», afirma.
«Não gostava de morrer sem explicar ao meu filho o porquê»
Além de Duarte, fruto do casamento com Paulo Pereira da Cruz, Maria das Dores é ainda mãe de David Motta, nascido do seu primeiro casamento. É este que tem estado a seu lado. «Não me pôs de lado. Eu tenho de agradecer ao meu filho mais velho o quanto ele foi compreensivo comigo e é por ele que eu estou aqui. Porque, senão, eu não estava. Porque morri no dia em que o Paulo morreu», afirma.
Quanto à imagem que Duarte tem de si, revela que este a vê como «um monstro». «Isso dói-me muito», desabafa, acrescentando: «Não gostava de morrer sem explicar ao meu filho o porquê. E gostaria de poder explicar tudo».
O maior desejo, prossegue Maria das Dores, era «juntar os dois e pedir-lhes que fossem amigos». «Compreendo [se o Duarte nunca a perdoar]. Mas gostava que ele ouvisse a minha versão. (…) Não é que me perdoe, mas que ouvisse».
«Peço-lhe perdão»
Volvida mais de uma década sem contactar Duarte, Maria das Dores quis deixar-lhe um recado: «Que o amo. Que sempre o amei. Que nunca me esqueci dele e que me perdoe. Me perdoe pelo facto de eu lhe ter tirado o pai. Ele viveu sem pai e sem mãe. Por ter passado pela vergonha, perante os amigos. Por não ter podido comemorar nem o Dia do Pai nem o Dia da Mãe. Por ter lido coisas hediondas. Coisas horríveis que saíram e ele ter de encarar as pessoas e os amigos. Deve ter sido tudo tão mau para ele. Tão mau. Ler que a mãe é um monstro. Mas não sou nenhum monstro. Cometi um erro crasso, na minha vida, que não se faz. Mas peço-lhe perdão».
Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: Arquivo Impala
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