Márcia Breia
Atormentada pela morte: «Fico em pânico a pensar nisso»

Nacional

A atriz Márcia Breia, de 75 anos, recorda a morte dos pais e da irmã e confessa que ela própria vive amedrontada com o fim da vida

Sáb, 02/11/2019 - 15:55

Márcia Breia recordou, em conversa com Daniel Oliveira para o Alta Definição, os episódios mais marcantes dos seus 75 anos. A atriz, que neste momento participa na novela Nazaré, da SIC, onde faz par romântico com Ruy de Carvalho, emocionou-se ao falar dos familiares que já perdeu. A morte é aliás o tema que mais a perturba, já que não esconder ter «muito medo» desse dia.

«Cada vez mais a idade dos que partem é mais próxima da minha e ultimamente penso muito nisso. Começo a pensar ‘um dia destes é a minha altura’, mas não me apetecia, eu não quero ir embora, tenho uma vontade de viver muito grande, muito grande. Sinto que vou perder coisas que não tenho que perder. O fim é uma incógnita dolorosa, nunca pensei tanto no fim, não somos preparados para o fim», lamenta, recordando a morte dos pais e da irmã, que a marcaram muito. 
 
«A minha mãe foi a primeira a falecer, morreu em [19]71. O meu pai morreu em [19]88 e a minha irmã eu não estava à espera, morreu em [19]96. Foi horrível. Eu tenho sempre muita força, mas não estava à espera e o sofrimento fez-me mal. A minha mãe já tinha sofrido muito, eu tinha sofrido muito por vê-la sofrer. Ela já não estava em si e eu ia vê-la e sentia que era absolutamente inútil. Mas tinha medo de não a ir ver… o único dia que não fui ver a minha mãe ela morreu», conta, emocionada. 

«O meu pai teve um final tempestuoso. Tentou cometer suicídio, porque foi acusado de uma coisa da qual não tinha nada a ver… Um dia chego ao quarto dele e está uma carta escrita de despedida, chamei os bombeiros…mas morreu mesmo de doente, com doença da próstata», conta.

«Fui avisada que a minha irmã tinha sido internada de urgência, fui para Paris ter com ela e ela estava realmente muito mal. O último dia em que tinha de me vir embora – porque filmava no dia seguinte – foi um horror, porque sabia que nunca mais a ia voltar a ver», continua, de olhos marejados de lágrimas. 

Márcia Breia frisa que pensar na morte a deixa «em pânico»: «Fico em pânico a pensar nisso. Ultimamente penso muito, atormenta-me porque sei que pode vir a qualquer momento». 

 
A forma como a sociedade olha para os mais velhos foi outro assunto abordado. Márcia lamenta que a sociedade veja os idosos como «um fardo».  Aos 75 anos, Márcia refere, contudo, que a idade lhe trouxe «visão crítica» e uma «compreensão grande» para com os outros. «A idade traz olhar sobre tudo».

Sobre a novela Nazaré, a atriz destaca a parceria com Ruy de Carvalho. «Damo-nos muito bem». «Uma coisa interessante na novela é ver um casal da nossa idade que tem amor um pelo outro, efetivamente isso é muito bonito».

Texto: Ricardina Batista; Fotos: Impala 

 

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