Manuel Luís Goucha assumiu ter sido preconceituoso com Zé Lopes quando o conheceu. Na altura o agora coordenador do Em Família, TVI, era estagiário do Você na TV!, em 2018, quando o programa era apresentado por Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha, e o apresentador recusou trabalhar com ele. Três anos depois a história é contada na primeira pessoa e vem com um pedido de desculpa, numa conversa franca e sem tabus entre os dois protagonistas no “Conta-me.”
“Fui preconceituoso contigo por causa da tua exuberância. Abriste a minha cabeça como é que eu podia ser preconceituoso. Nunca te faltei ao respeito, mas disse que não queria que fizesses reportagem para mim”, assume o apresentador pedindo desculpa publicamente, apesar de já o ter feito em privado pouco tempo depois de tal situação.
Zé Lopes sublinha que tudo foi ultrapassado, mas que na altura foi complicado. “Senti-me mal e pensei se o Goucha me está a dizer isso, o meu sonho termina aqui. Pus-me em questão. Mas depois fiquei muito satisfeito quando recebi a mensagem do Manel no dia em que me ia estrear no Passadeira Vermelha, SIC, e fiquei muito feliz”, partilha. Recorde-se que Zé Lopes fez o estágio de três meses no extinto Você na TV!, foi para a SIC quando Cristina Ferreira se mudou para o canal e regressou à TVI em 2020, também pela mão da apresentadora.
Pai de Zé Lopes esteve preso
Zé Lopes é natural de Felgueiras e desde cedo que tinha o sonho da televisão. Tirou o curso de jornalismo, mas o objetivo sempre foi ser apresentador de televisão. Os pais sempre o apoiaram, apesar de sempre o alertarem da dificuldade que seria concretizar tal sonho.
O comunicador nem sempre teve uma vida fácil, apesar de ter nascido e crescido numa família cheia de amor e com muitas posses económicas fruto de negócios que geria. “O meu pai foi preso. Foi enganado por forncedores do café e achou que conseguia resolver sozinho. Mas não conseguiu. Acaba por ser preso quando atropela um agente da autoridade. Foi condenado a cinco anos e cumpriu quatro de pena efetiva”, partilha, Zé Lopes assumindo que ia visitá-lo todos os fins de semana.
“Foi complicado, nós podiamos levar comida para os reclusos e eu via tentativas de levar droga, os polícias gritavam…. tudo isso deixa marcas. Algumas pessoas sabiam, mas eu tentava não dizer aos meus colegas, alguns dos meus amigos estão a saber agora. Eu queria ser um miúdo normal”, conta o coordenador do Em Família, que na altura frequentava a escola primária.
“Quando visitava o meu pai tentava focar-me que ele estava bem e que ia sair bem. A minha mãe é o melhpr exemplo de como perdoar. Ela teve a capacidade de o perdoar e de estar sempre ao lado dele. Foi trabalhar para um lar de idosos e ainda hoje lá está. Perdemos tudo. Ela não sabia de qualquer dívida do meu pai. Foi voltar ao zero. Agora percebo o quanto a minha mãe foi trabalhadora. Ela nunca teve medo”, partilha.
Zé Lopes sofria de bullying
O ex-apresentador de Somos Portugal teve uma educação católica, foi acólito, cantou o salmo na igreja e foi catequista. A sua exuberância, como o próprio Manuel Luís Goucha lhe chamou, acabou por prejudicá-lo quando era criança. “Na altura em que o meu pai sai da prisão eu não contei sobre o bullying que sofria. Eu apanhei tareias dos mais velhos, mas nunca contei aos meus pais. Houve uma vez que a minha mãe percebeu porque estava com a cara negra. Pegaram em mim e atiraram-me contra um poste de eletricidade”, recorda, contando como tentava escapar aos maus tratos dos colegas.
“Eu chegava mais tarde às aulas porque ia por um percurso mais longo para não passar pelos mais velhos e saía mais tarde da sala. Em casa, no quarto, pensava porque me acontecia? Não desejo ao meu pior inimigo o que passei.” O pesadelo das agressões terminou quando Zé Lopes passou a trabalhar na noite em bares e discotecas e entrou no secundário. “Tinha 14 anos. Guardava o dinheiro todo, comprei o meu carro com esse dinheiro. Os meus pais sempre me passaram isso, respeito pelo dinheiro e pelo trabalho. Essas pessoas que me faziam bullying começaram a precisar de mim, para entrarem nos bares, nas festas… Nunca falei com nenhum sobre isso, mas está arrumado”, enfatiza.
Zé Lopes faz o curso de comunicação em Coimbra, um período de dois anos e meio que recorda ter sido muito feliz e onde a sua exuberância não importava.
Saída do Somos Portugal
O comunicador foi chamado para entrevista de estágio para a concorrente SIC, para o Alô Portugal. Na altura não ficou e por isso investtiu todas as fichas no Você na TV!. “Encheu a caixa de correio dos recurosos humanos” como conta até conseguir que o chamassem. Conseguiu o estágio, mas não ficou a trabalhar na TVI quando o mesmo terminou. Foi para a SIC depois de Cristina Ferreira o contactar para ir trabalhar consigo para po Programa da Cristina, e acabou por voltar à TVI quando a apresentadora regressou também à sua casa mãe, como lhe chama.
“Quando volto à TVI venho para o Somos Portugal. E era esse o meu sonho, porque sou da terra, adoro música popular portuguesa. Acabam por me colocar na cordenação do Em Família. Eu adorei. Trabalhei muito durante esses dois meses. Doeu quando saí do Somos Portugal. Vi coisas muito feias nas redes sociais, as pessoas foram muito violentas e se calhar isso ajudou a que eu saísse. E os dois meses não deram para mostrar quem sou. Estou mostrar mais agora no Big Brother. Se fosse hoje não aceitava fazer a personagem. Foi terrível esse período. Não tive um domingo em que eu não chorasse. E eu saí na fase em que os Somos ia para as terras, as minhas pernas foram cortadas… Eu trabalhava muito e agarrava-me isso. Nunca deixei de ser eu, exuberante, e o dia em que deixasse de ser, deixava de ser eu. Eu sou feliz”, termina.
Agradecimento público a Manuel Luís Goucha
Pouco antes da entrevista ir para o ar, Zé Lopes fez questão de fazer um agradecimento a Manuel Luís Goucha. “Acordei com um camadão de nervos!!! A dois dias de completar 24 anos, revelo todas as minhas vivências e memórias ao Manel, numa conversa difícil, mas muito verdadeira. Não quero que me achem um coitadinho depois de verem este “Conta-me”. Quero sim que pensem na resiliência com que temos de enfrentar as situações mais desafiantes e na forma como o sonho deve ser sempre o nosso foco”, começa por ler-se.
“Ao Manuel Luís Goucha agradeço todo o cuidado na condução da conversa, mas em particular um momento muito bonito a que vão poder assistir. A humildade, a capacidade de assumir o erro e a generosidade são qualidades que só os grandes têm, e o Manel é o maior. E obrigado ainda a toda a equipa do “Conta-me” (produção, conteúdos, técnicos e edição) pela forma como me trataram. Acreditem que faz toda a diferença. Como já disse anteriormente, “todos temos uma história, chegou a altura de partilhar a minha”, lê-se.
Texto: Ana Lúcia Sousa
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